domingo, 21 de dezembro de 2008

Porcelana Chinesa

Num restaurante chinês
que servia batata
frita e arroz
o chão
oleoso
grudava meu chinelo.
Um homem de regata
pingava o suor na comida.
O dono fedia.
Num restaurante chinês
que servia batata
frita e arroz
as pessoas
mais decadentes do bairro
caminhavam por corredores
estreitos e voltavam
com montanhas em seus pratos.
A comida tinha o mesmo gosto
pimenta e frango, fosse
peixe, fosse o que for.
O garçom foi ao banheiro
e não lavou a mão.
E havia uma marca na porcelana
do vaso.
Num restaurante chinês
que servia batata
frita e arroz
eu pensei:
"Que refeição agradável."

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

O amor

Você não pode ter medo
de amar, do amor
da vida.
Ame sempre.
Aproveite qualquer opurtunidade
um sorriso
um carinho
um gesto
um abraço.
Aproveite.
Mas não fique parado
não espere a destruição:
ame e fuja!
Não deixe o tempo
prender suas pernas para cima.
O tempo é aliado do compromisso
e você entrou nessa guerra
sozinho
você e seu amor.
Fuja!
Mas ame primeiro. Beije.
Abrace. Chore.
Ame tudo o que anda. Tudo o que caminha.
Tudo o que tem filho.
Mas se prepare.

Corra!
O tempo vai partir sua cabeça.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Mijada

às duas da
manhã, com um copo de
cerveja na boca,
mijando e olhando
a Lua mais bonita
que eu já vi
eu penso
nela. e eu penso na
outra. e eu continuo
mijando
com um sorriso
estampado no canto da
boca
retribuindo o sorriso
da Lua.
enquanto um carro
passa por mim
e alguém grita alguma
coisa. mas a Lua não
deixa eu me incomodar.
a Lua não deixa elas
irem embora
assim
tão fácil.
e o carro vai
e passa o sinal vermelho
e minha alma fica.
dividida
entre dois sorrios
mas o da Lua
já é meu.

domingo, 16 de novembro de 2008

Momentos

Eu tenho poucos
motivos
para sorrir.
Mas isso basta
para que viva uma
vida repleta.
Repleta de dor e
solidão. Mas
com um sorriso no canto
da minha boca
estúpida.
E eu minto para mim
mesmo
só para
respirar
melhor.
Para viver
mais
um dia;
para sorrir.
E minha boca
e minhas mãos
e meu abraço
não são bons o suficiente
para agarrar
e segurar
tudo o que eu amo.
Mas meus olhos sempre vêem
tudo ir
embora.
E de amores
o que eu mais lembro
são as costas.
E alguns momentos
cheios de alegria
e lágrimas.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

O Ônibus

Eu sento no
ônibus e ele
anda
por lugares e pessoas
que não conheço.
E senta alguém
do meu lado.
E na minha cabeça
algumas palavras
algumas dores
sentimentos e sorrisos
se juntam
e eu penso em alguns
versos para outro poema.
Ninguém sabe o que eu
estou fazendo.
E eles me olham e me
julgam e
eu penso
se eles imaginam
o que se passa pela minha
cabeça.
Se eles conhecem
os versos
sujos
e mal feitos que eu
vomito no
teclado.
E, então, eu penso
que se eu sorrisse mais
seria mais feliz,
fizesse mais sexo
ou algum sexo
eu seria mais feliz.
E tudo começa a acabar dentro
de mim.
E eu pareço não me importar
muito com isso.
Apenas sinto saudade
de alguns olhares
sorrisos
beijos.
Mas as coisas passam
e acabam.
E eu estou pronto:
com minha mente suja
e pervertida.
Pensando que
todo mundo
sabe o que acontece
em mim.
E o ônibus pára
e eu desço
e não sei bem
onde eu estou. Ou se
cheguei a algum
lugar.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Homem Morto

Eu subi as escadas
como numa marcha
fúnebre.
Sem vontade de ir,
sem ânsia alguma de
chegar.
Com um olhar
cansado
e despretensioso.
Com minha vida, e
só.
Eu vi ela, de longe, e
meus olhos
desviaram
e eu queria voltar
não suportaria
mais um:
"oi"
"ôpa"
Eu queria mais
e não poderia
ter.
Eu queria o que nunca
pude, eu queria ela.
E minhas pernas caminhavam
trêmulas
por aquele corredor.
Até o inevitável.
Ela olhou pra mim, e sorriu
um sorriso
apático:
"oi"
"ôpa"
E eu passei por ela.
E as pessoas
choravam enquanto eu passava.
"Homem morto passando",
gritavam.
Algumas seguravam flores, outras
as jogavam em mim.
E eu segui pelo corredor
naquela marcha
fúnebre e
cheguei.
Sem nenhuma
ânsia
de sair.

Meus Dedos

E não tinha muita
coisa.
Era a escuridão e nós
e uma vela.
Mas tinha
nós
e isso preenchia
todo aquele
espaço
vazio.
E algumas latas
de cerveja
separavam minhas
mãos das
dela. E mesmo assim
elas normalmente estavam
acompanhadas de um
cigarro dividido.
Mas elas se encontraram
e meus dedos pareciam
não querer
ir
embora.
E nós rimos
juntos.
E na hora de chorar
ela disse que seria
maravilhoso
chorar
comigo.
E meus dedos
só queriam sua pele.
Enquanto
meus olhos
procuravam os dela.
E se encontravam
e um sorriso
envergonhado saia
da minha boca.
E eu a beijei.
E eu sorri.
E eu vivi.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

O Encanto

Não preciso
de muita
coisa.
Os poucos beijos
já doem
o suficiente.
E tudo
passa.
As poucas palavras
constrangem
o suficiente.
E eu
caminho.
Os poucos abraços
machucam
o suficiente.
E eu não
vejo.
Os poucos carinhos
destroem
o suficiente.
E eu
me calo.
Os pouocs olhares
choram
o suficiente.
E eu
me deito.
As poucas risadas
mentem
o suficiente.
E tudo
passa.


Eu tenho
tudo.
Mas me
falta
muita
coisa.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Os dois.

Restam dois
cigarros. Dois dedos
de vinho.
E eu já morri
duas vezes
hoje.
Duas mulheres
fazem meu estômago
embrulhar.
Dois beijos
salvariam
minha vida.
Duas horas
é tudo o que tenho
antes de partir.
Duas pessoas passaram
por mim e
me acham um retardado.
E eu sou um retardo; duas mil
outras pessoas
concordam.
E, apenas,
uma bala;
um revólver;
um gatilho;
um dedo
acabaria com isso
tudo.
Mas nada é tao fácil assim.
Duas lágrimas
tocam o chão.

O suicida

Eu falei horas e
horas e mais
horas
sobre a importância
do beijo. E como
ele nos afetaria.
E que, talvez,
fosse a única salvação
para eu ser um ser
quase
normal.
Eu queria aquele
beijo; eu precisava
daquilo.
Eu olhava no olho
dela
e não via desejo algum, enquanto
o meu queimava
de vontade e falta de
confiança.
Sentia
que eu
diminuia, indo em direção
do chão. Em pouco tempo
eu gritava, dos seus pés,
as razões para ela
aceitar meus lábios
nos dela e que
ela poderia se arrepender
a qualquer minuto. Me jogando
na lama, na lama
de onde eu venho.
E pisar em cima
de mim.
Eu tentava parar
de falar. Já me sentia
escroto, patético
ridículo. Mas
não conseguia.
As palavras dela
ecoavam por minha
mente: "Eu quero um
amigo. É o que eu estou
procurando."
Sempre me fodi com isso:
um amigo.
Mas, mesmo assim, mesmo me
sentindo
o maior idiota
do mundo
eu continuava a falar.
Eu me explicava, e ela
olhava para os lados
com um tédio
de quem está preso.
Ela estava presa a mim, e
eu era o pior carcereiro
do mundo.
O beijo que eu esperava
que fosse interromper
minhas palavras não
veio.
E um silêncio me
subiu as costas quando
desisti. E me sufocava.
E algumas palavras
salvaram minha
vida:
"Por que falar tudo
isso, quando
podia ter, apenas, me
beijado?"
E essa pergunta
me libertou, de certa
forma, e me matou um pouco
também.
E o beijo foi bom e o
abraço
melhor.
E eu morro sozinho,
um suicida sem
intenção.

Sobre álcool e amor

Há sempre o amor.
Sim, o belo
amor.
Mas isso
é para os
belos.
E isso
eu não tenho:
beleza. Então
para mim o amor é como
álcool. Ou
o vinho. Que acaba
a cada gole feroz que
dou nele.
E os sonhos escapam pelo
canto da minha boca. Deixando
apenas
manchas tristes em minha
camisa.
Ou talvez ele seja como
a sagrada cerveja.
Que nos faz ir tanto ao banheiro
para uma mijada ocasional.
Mas essa
rotina
me cansa tanto
que só resta um
vômito
suave e a lágrima no canto
do olho
esquerdo.
Mas pode ser um
uísque
também.
Que eu misturo água,
gêlo e sentimento
tudo para atenuar o gosto
amargo e forte. E que
por mais suave que possa parecer
no fundo
eu sei que um arrepio virá
e isso vai acabar com minha
alma.
E amor faz isso
acaba
comigo. Numa palavra errada
num gesto patético
num sorriso idiota.
Então eu fico com
o álcool
e a dor de saber que nunca
pude.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Dança

Eu parei e dancei.
Ali parado
na frente dela.
Porra, logo eu
que nunca danço.
Abanava meu rabo, abanava
de felicidade. Um abano
patético. Com uma cara
igualmente ridícula e meu velho
sorriso
forçado.

"Não, não,
tu não é nada disso.
Tu é legal, porra! Não pensa em
nada.", pensava,
já estragando meus
planos.

Mas no fundo
eu sabia que eu era
tudo disso.
Que logo mais
alguma palavra sairia
da minha boca
explodiria
e me mataria de novo.
Eu sabia que um gesto
meu
iria
me corroer
pelo resto
da vida.
Que eu teria nojo
ao lembrar.
Que eu teria que forçar
uma risada psicótica, assim
tirada do nada
para parar de pensar
no meu "oi" encabulado;
no meu "tchau" descoordenado;
no meu rosto;
em mim.

Eu estava pronto para a batalha:
eu X eu.
E só haveria um perdedor. Mas ninguém
poderia ganhar.

Eu não perdi a batalha.
Ela dançou comigo, riu
me beijou, me apertou,
fez com que eu deixasse
de pensar em mim,
mas a guerra, isso é outra
história.
Na guerra
eu morro no final
assim, como um Romeu
sem Julieta.
Como sempre, sem chance,
pensei. Não consigo
me sentir melhor. Eu me vi
de novo.
E nada
no mundo vai me fazer
dançar
outra vez.

domingo, 19 de outubro de 2008

Minha Carne

Eu corto minha
carne
em excesso
sem vida.
E o sangue desce
pelo meu corpo.
E o álcool
desce pela
minha garganta.
E eu já não me sinto
tão mal assim. Eu me sinto
vivo. A dor faz
com que eu me lembre
que eu posso sofrer
mais. E eu sofro mais.
E eu não tenho ninguém.
Só o meu sangue.
Só minha vida.
Só.
E a vida passa assim.
Sempre passou.
E não tiro nada disso tudo.
Ninguém tira.
Mas eu não consigo
me enganar.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Os passarinhos

Vou dormir, e passarinhos
cantam.
Cantam ao dia que nasce.
E eu vejo
programas de detetives
e penso
que poderia fazer igual.
Fazer melhor.
Eu poderia
cometer o assassinato
perfeito.
Com calma e cuidado.
Uma pessoa que eu não conheço
que eu nunca vi, eu chego por trás
e corto a garganta.
O sangue desaba como uma
cachoeira.
A mais bela de todas.
E eu vejo o corpo cair.
Limpo a faca. Com um pano
limpo, que fica
vermelho.
E eu danço
um pouco.
E eu bebo uma cerveja
com a pessoa que mais
escuta o que eu tenho a dizer.
Com a pessoa no chão.
Com a vida na mão.
Com dor, talvez.
E os passarinhos cantam mais
e mais
alto.
Meus olhos querem fechar.
E o corpo no chão
me olha.
E eu olho a minha vida;
para dentro de mim.
E esses passarinhos
malditos
cantam
mais
e mais
alto.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

A Fuga

A minha boca
seca. Com um gosto
amargo. Gosto de
derrota.
E duas carteiras
de cigarro acabaram
em minhas mãos.
E o gosto não
sai. E algumas
lágrimas
tentam sair dos meus
olhos.
Mas não conseguem.
Eu não consigo
mais.
Jogo cerveja nisso
tudo.
Nada.
Jogo uísque e
nada.
Me jogo na lama.
Minha alma tenta
escapar. Ela foge pelas
minhas narinas
pela minha boca.
Mas eu prendo ela.
E ela não pára
de tentar ir
embora.
Assim como elas
sempre vão.
E continuo lutando.
E o gosto não sai
da minha língua, da minha
boca, do meu coração.
Meu ar está
acabando. E eu aperto meu
nariz e minha boca
minha alma e
meu coração
doem
sangram.
Minha visão começa a acabar
a passos lentos eu
vou caindo e caindo
e caindo
e é só escuridão.
Acordo horas
depois. Limpo.
E a lama não
quer sair de mim.
De dentro de mim.
E eu sento e fumo um cigarro
e tomo uma cerveja.
E penso um pouco.
Não sinto minha
alma. Me sinto vazio.
Pronto.
As lágrimas podem
cair.
E elas desabam
e eu ponho a mão
no rosto e
é só mais um dia.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Um Cara Legal

Novidade:
"Ah, ela te achou
muito legal."
E sempre acaba nisso
eu até entendo.
Toda pessoa que faz
você se lembrar
de como
você poderia
ser pior. De como
você não merece estar morto
como o outro,
é um sujeito legal.
Portanto
eu sou legal.
Mas me resumo nisso,
querido
às vezes
talvez.
E ninguém quer
dar pra mim.
Nem um aperto
de mão
eu acho.
Ultimamente eu preciso
me embebedar
ao ponto de cair,
e ficar horas e horas
me paparicando
sendo legal
fingindo
só para conseguir uma
punheta. É foda.
Bem, eu sou um cara legal
se quiser se sentir
melhor
aqui estou.
Você é melhor que
eu.
Mas não fique muito feliz,
não!
Todo mundo
é.

Um Belo Dia

Hoje é o dia
o dia da
minha morte.
Eu morro bêbado
sozinho
empoeirado, acabado.
Com alguns amores
bonitos
nas costas e
algumas centenas
não correspondidos
no cu.
Hojé é o dia
o dia da
minha morte.
E eu vou com
uma dezena de
frases inadequadas
em momentos
que se revelariam
patéticos
até mesmo no segundo
em que
ocorriam.
Hoje é o dia
o dia da
minha morte.
E algumas lágrimas
caem de poucos olhos
e não deveriam
estar
caindo.
Hoje é o primeiro dia
do fim da minha
vida. Hoje é o dia
em que o Mundo se
salvou de mais
um perdedor.
Hoje é o primeiro
dia do Mundo.

domingo, 5 de outubro de 2008

Oi, meu nome é Rafael

"Oi, meu nome é
Rafael
e eu sou patético."
Eu não sabia que
havia dito isso.
Eu tinha saído, e
eu tinha me enlouquecido
com cachaça
cerveja e
mais.
E eu não lembrava de nada
daquela sexta-feira.
Só me sentia ridículo
mal. Como sempre.
E a semana passou
e eu achei que só eu
sabia que eu era
patético.
Engano meu.
Eu voltei para aquele
mesmo lugar.
E tomando uma cerveja
eu vi ela.
Ela tinha algo
ela tinha tudo.
Ela me tinha, naquele
instante.
E eu estava perto
dela, e por alguma razão
troquei algumas palavras
com ela.
"Eu te conheço", ela disse.
Sim, ela estava naquela outra
festa
naquele mesmo
lugar.
Ela sabia que eu era
patético
eu mesmo havia dito.
Sempre
fui meu pior inimigo.
Mas, por algum motivo
eu conversei mais com
ela.
E ela era tão querida
quanto era bonita.
Ela era o que eu
esperava. E, infelizmente,
eu sou o que havia
dito para ela esperar.
E a conversa continuava, e
eu estava sem entender nada.
Isso nunca aconteceu comigo, conversar
com a mulher que considerei a mais
interessante de lugar algum.
E passaram
algumas horas
e passaram
goles de cerveja, e
algumas risadas.
E eu nem me
sentia tão patético
assim.

Estávamos falando de
livros ou algo parecido.
Ela falou que estava lendo
algo que não me lembro,
só me lembro dela.
Então ela disse:
"Eu sempre leio um
autor entre os outros
o mesmo, que é o
que
eu mais gosto."
E eu lembro de pensar
que se ela falasse
Bukowski
eu me apaixonaria.
Então, ela disse:
"Bukowski"
Eu estava perdido.
Perdido porque ela me teria por mais
tempo
que só aquele instante.
Perdido porque eu
nunca
tenho chance alguma.
Perdido pelas malditas
aspas:
"Oi, meu nome é
Rafael
e eu sou patético."
E eu dei as costas para ela
e eu dei as costas
para mim.

Algo.

Algo dentro de mim
me impede de ser
bom.
Me impede de ter uma
vida
completa
cheia de emoções
alegrias e mulheres.
Ou uma vida
qualquer.
Algo dentro de mim
faz com que eu seja feio
inadequado. Patético.
Sempre patético.
Sempre
me sinto assim,
principalemente
quando dizem que não sou.
Eles mentem.
Algo dentro de mim
Faz com que eu
afaste o mundo para
longe.
E eu sinto toda a dor
do mundo.
Por mim, em mim
e para mim.
Algo dentro de mim
faz com que eu me apaixone
por mulheres que não
têm o mínimo
interesse
em mim. E
nunca terão.
Algo dentro de mim
faz com que eu me
mate, aos poucos.
E a palavra suicídio
nem tem mais sentido.
Dela eu só tenho
algumas cicatrizes e mais um
gosto do fracasso.
Algo dentro de mim
que eu não sei o que é
me faz ser
eu.
Me faz sofrer.
Algo dentro de mim
sou eu.

O Iluminado

Ela disse que eu
brilhava e
que eu era o
homem
mais iluminado da festa.
Bem,
eu estava parado
com um copo de uísque
numa mão
e um de cerveja em
outra.
E eu estava na lama
opaco
sujo, sem graça
podre.
Mas ela disse que
eu
brilhava. Ela era louca, com
certeza. Mas, enfim,
ela disse que eu era iluminado.
E eu conversei
com ela, e ofereci um cigarro.
Um Camel.
Ela aceitou, e o cigarro
ficava lindo em sua boca.
E sua franja
escondia seus olhos
e seus olhos
esses sim
brilhavam.
E durante a conversa
meu corpo se aproximava do
dela
e o dela
do meu.
E fomos assim, chegando mais
e mais perto.
E nos beijamos.
Um ótimo beijo. Quente e
confortável.
Eu realmente
estava iluminado.
"Meu ex-namorado é
meio ciumento", sussurou.
Não dou bola pra isso,
não importa.
Mas que nada
ela foi embora, e seu número
de telefone
não é exatamente
o dela. E
eu já não brilho tanto assim.
E eu estou na lama
opaco
sujo, sem graça
podre.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Até Paris.

Você está do outro
lado do
mundo.
E parece tão perto
de mim,
você me abraça e
não sabe como. E
me beija e
me faz carinho. Com olhares, sorrisos
gestos. E eu penso em você,
sempre.
E eu ouço sua voz, e ouço o mundo
a vida, a felicidade
tudo guardado em você.
O mundo é sua alma
que eu venero e penso
que um dia
ainda terei. E
não sei bem porque, e nunca
vou saber.
E não importa.
Não importa como você
chegou, nunca importou.
Eu só me preocupo conosco.
Eu não tenho escolha
eu penso
eu choro
eu vivo
e penso
e vivo
e choro de amores.
E eu nunca senti
isso. E eu nunca fui assim
pelo menos
tão
ridículo.
E eu sei que amor
não cabe
a nós, não faz jus
ao meu amor, a minha vida. Até
porque, por enquanto
tu não existe
realmente.
E eu não existo
realmente.
Até um dia.
Até Paris, até algum
lugar
nos juntar
por amor, sempre
por amor.
A minha vida.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

A Janela e Você.

Você está parado, em casa,
sozinho
bebendo e fumando
compulsivamente.
Você sempre estragou tudo
sempre viveu o errado;
ignorou o certo, e
cuspiu nos erros
passados.
Você nunca aprendeu.
E você se lembra dela;
do carinho dela;
da boca dela;
e tudo lhe faz pensar
nela.
E você bebe mais.
E você quer sair de casa
quer caminhar como
um vagabundo pela rua.
E você pega a chave
de casa
e sai
de casa. Mas você é esperto.
Você pega os cigarros e
a sua última garrafa.
Você não está perdido,
ainda.
E caminha sem rumo.
Caminha e caminha...

E você está parado na
frente da casa dela
e brinca com o cachorro
dela.
Idiota! Você nunca gostou
de cachorros.
E você pega uma pedra. E vai
jogar na janela dela.
Você precisa falar com ela.
Idiota!
Você está bêbado e nem
tirou o cigarro da boca.

E a chuva começa a cair.
E você ainda está parado
na frente da casa dela
na frente
dela.
E a pedra está na sua
mão.
E o cachorro dela sacode o rabo.
E você toca a pedra na janela
e erra.
Idiota!
E você toca outra e espera.
E ela aparece.
E você sacode o rabo para
ela.
E ela está diferente.

E ela não aparece na frente de
casa.
Ela não vai falar com
você.
E você joga outra
pedra.
Ela aparece novamente.
Com um telefone na mão.
E você sacode o rabo novamente.
Idiota!

O tempo passa e nada
dela.
E nada
dela.
Uma viatura de polícia
aparece. E nada
dela.
E eles te tocam para
dentro do
carro.
E você olha pela janela
e lê uma placa.
Idiota.
Não é o bairro dela, nem a rua.
Você não estava na casa
dela.
E os policias
gentilmente
batem um pouco em você.
Apenas
um pouco de realidade.
E te jogam na frente da sua
casa. A sua casa
mesmo.
E você procura as chaves e
entra. E pára na frente do computador
02:31.
Você não quer a realidade, não
é mesmo?
Você começa a escrever
e você não é mais
você.
Idiota.
Os dedos digitam forte
e você escreve:
"Você..."

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

O porquê (sem muita saudade da minha infância querida que os anos não trazem mais)

Eu era novo, uma
criança e só e
queria saber o porquê
o porquê das coisas
o porquê de mim
o porquê da vida.
E eu não fazia muita
coisa:
brincava com as formigas
esmagava elas com o dedo
indicador
e gritava: "migas; migas!"
E eu chorava às vezes, e apanhava
às vezes
e eu não sabia o porquê.
E pensava que eu nunca faria as coisas
do jeito certo, que nunca
acertaria em nada.
E um dia, chovia forte, muito
forte
E eu perguntei o porquê da
chuva, e eu já havia apanhado
naquele
dia.
Não lembro o motivo.
E minha mãe ainda
estava braba, pois eu fazia coisas sérias
pra ela
e sem sentido
pra mim.
E ela disse: "Papai do Céu está
chorando
pelo o que tu fez!"
E eu me dei conta
que eu estava sempre errado
e que nao afetava apenas
as quatro pessoas da minha
família.
Não mesmo.
Afetava o mundo todo, e que eu
sempre seria punido.
Com tapas,
com chinelos
e Deus, usaria todo o seu poder
para me punir com raios e
trovões,
e eu chorei, e me senti a pior
pessoa do mundo. E tinha
vontade de pedir perdão
gritando da janela do meu quarto.
Mas ninguém se interessava. Nunca.
E, às vezes, chovia e eu
não tinha apanhado.
E as pessoas eram gentis comigo.
Como?
Eu tinha estragado com o mundo
de novo.
De novo.
E eu chorava também, às vezes
e tudo girava ao meu redor, em torno de uma pessoa
só:
Eu.
E nada acontecia, quando eu
não estava
ao menos
olhando.
E foi assim, com todos
chorando por mim e me
punindo
e trovões caindo sobre
minha cabeça
e eu sempre longe de saber
o porquê.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Poema de 5 minutos.

"Tu é patético", ela disse.
E isso foi golpe
baixo.
Isso é a verdade, dolorosa
e cruel
verdade.
E eu chorei por cinco
dias e cinco
noites, um choro patético.
"Tu é patético", ela disse.
E eu me escondi
naquela cama que eu
dividi com ela.
E terminei o resto
daquela garrafa
de uísque que comecei
com ela.
E chorei de novo.
"Tu é patético", ela disse
E eu me senti assim
de verdade, de novo
e não olhei para mais
ninguém.
E todo mundo concordou
com ela, menos eu, por pouco
tempo. E resolvi ser
patético, como querem.
"Tu é patético", ela disse.
"Tu é patético", elas dizem.
E é sempre assim, com
todo mundo.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Fim.

Eles me agarraram e me prenderam
e eles riam alto de mim.
Eles tinham capuzes pretos
e seus olhos brilhavam
e só havia ódio neles.
E eles sabiam que estavam fazendo
um bom trabalho
e que aquilo devia ser feito.
Eu estava estragando tudo,
eu não me movia
eu não chorava
eu não gritava
eu estava pronto para aceitar
aquilo tudo.
E eles quebraram algumas garrafas
de uísque.
Mas foram delicados o suficiente
para deixar eu acabar com uma
antes.
E eles esperaram eu beber ela
olhando com seus olhos
assassinos.
E seu hálito, tinha o cheiro da
morte.
Eles estavam cansados de
suas vidas.
Eles queriam a minha.
E eu dei meu último
gole. E sorri
para eles.
E alguns pegaram os cacos
das garrafas do
chão
e cortaram meus pulsos.
E os outros fizeram o mesmo
em seguida.
E meu sangue corria, como uma cachoeira
vermelha. E um fedor horrível
tomou conta do ambiente.
E minha visão acabou e
acabou e eu pensei que seria
bom mais um último gole.
E nos jornais, alguns dias depois,
havia uma notícia da minha
morte.
E dizia bem grande, em cima da minha
foto.
SUICÍDIO.

Fogo.

Eu devia ter uns
quatro
anos.
E eu estava à sombra de
uma àrvore grande.
E eu brincava com a areia, e esmagava
algumas formigas.
Eu só estava
cuidando da minha
vida. Sem ter
exatamente uma
vida.
Um fogo surgiu por de trás de algumas
plantas, e eu não me assustei
só fiquei parado, não conseguiria me mexer
mesmo que eu quisesse.
E um homem saiu do meio do fogo.
E não falou nada. E eu continuei esmagando as
formigas. E
ele passou por mim, olhando nos meus
olhos.
O fogo o seguia, e ele tocou num senhor
bêbado
que estava dormindo na praça.
E eu achava que o senhor iria pegar fogo. E
pegou mesmo.
E eu tentei correr, depois disso,
mas nada.
Eu estava imóvel.
E o fogo que pegava naquele
velho vagabundo de praça
fez uma trilha e correu na minha
direção.
E fez um círculo em minha volta
e e tudo ficou
escuro. E preto e assustador.


Eu acordei, com um monte de gente
perguntando se eu estava bem
se eu queria alguma coisa
e minha mãe chorava.
E eu olhava tudo a minha
volta
e nada parecia ter queimado,
nem eu.
E eu vi aquele homem
que saiu do fogo
rindo
de mim.
E eu nunca mais fui o mesmo.
E eu
nunca mais parei de
ver esse fogo, ele queima dentro
de mim
e mata tudo a minha volta
e eu nunca tenho
nada.
Exceto a esperança
de ser um velho
bêbado
ralaxando num banco
de uma praça
qualquer.

Meu Segredo.

Eu tenho dois corações, um
não faz nada
não pulsa e nem bate e nem pára.
Ele só recebe porradas,
arranhões,
tiros,
mordidas,
beliscões,
ele segura minha
dor.
Mas eu não
sinto essa
dor.
Ele só me passa pena, pena de mim.
e eu guardo bem ele, em segredo,
bem cuidado.
Ninguém nunca o
verá. Ele tem ataduras por todos
os lados,
ele sangra, mesmo que não exista sangue para fazer
ele pulsar.
Ele é meu depósito de
dor.
É onde as pessoas me cortam,
mijam em mim, é
meu esconderijo.
E o outro, é o que eu mostro para quem
quiser ver.
Ele é bonito e leve e sem nenhum arranhão
ele tem um ponto, escuro, apenas
coisas
que outro passa
pra ele.
Nada de muito dolorido, nada
importante.
Só para todo mundo ver
que eu sinto
dor
também.
Para
parecer normal.
O coração cheio de dor, eu enxáguo com
bebida,
e cigarros e amores
perdidos.
E ele nunca reclama, nunca pensa
não mostra, nem pra mim
o que sente.
É melhor assim.
Às vezes, eu escuto
ele chorando, baixinho
e reclamo um pouco
mas ele é bom
o suficiente
para parar logo, assim
que eu começo a chorar
junto dele. E
eu guardo ele
bem, e
eu penso que ele pode explodir
um dia ele vai,
mas eu explodirei com
o que pulsa
primeiro.
Assim tudo fica bem, eu
acho.

domingo, 31 de agosto de 2008

Tentando me esconder de mim mesmo num bar cheio de pessoas sem alma e eu continuo sem mostrar a minha para tentar não parecer tão ridículo como sou.

Eu estava lá
só isso, nada mais,
parado no meu canto
eu e minha solidão e tristeza
temperando tudo com uma cerveja
absurdamente
cara.
E tinha agumas mulheres perto de mim
da minha mesa e dos meus cigarros.
E elas eram iguas, jeans
e jaquetas pretas, loiras e bonitas
e comuns.
Elas bebiam champanhe. Elas riam.
Eu não queria champanhe. Não tinha motivo algum
para comemorar. Precisava de uísque, uma bebida
forte e seca. Uma bebida que me faça
sentir que eu ainda vivo. Mas
não tinha motivo pra viver.
Mas eu
estava vivendo mesmo assim. Mesmo assim eu
era invisível.
Será que alguém invisível existe?
Bem, eu estava lá.
E era tudo que eu precisava fazer
pra me sentir
miserável
patético e sozinho.
Eu consigo estragar tudo
mesmo parado
com minha cerveja e minha cara patética.
Eu sou bom,
muito bom nisso.
Pelo menos.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

A Blusa e o Azul.

Não era dia
nem noite
nem nada.
Não era
eu,
não sei se cheguei a estar em algum
lugar.
Nada.
Não era ela
que vinha e se
aproximava.
Não tinha garrafa nenhuma
nem cigarros
nem cinzeiros.
E a cerveja,
que não estava no copo
descia escorrengando
pela minha garganta
que não existia e não
estava lá.
E aquela boca
aqueles lábios molhados,
naquele movimento lascivo,
não me beijou
e não havia nada para
ser beijado.
E, então, sem ser nada
estava sentado na minha cama
que nunca esteve alí.
E ela não sentou no meu colo
não me beijou
não me fez feliz.
Eu não estava lá.

E ela nunca tirou a blusa azul
sentada no meu colo
de frente pra mim.
Nunca me beijou com
aquela
blusa
azul
saindo de sua cabeça.
E meu rosto não pôde se abaixar
e morder
e lamber
tudo que a blusa azul
sempre escondeu.
E minha língua nunca
percorreu aquela área que saía
por de toda a blusa,
azul ou não.

E ela nunca mordeu minha orelha,
e nunca ouvi sussuro nenhum dela
grudada em mim.

Eu não estava lá,
ela também não
nada.

Mas, a blusa azul
vivenciou
cada minuto.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

A garrafa.

Você está sentando
numa praia
e o sol não te deixar ver
mais do que dois metros a
sua frente.
E o vento carrega você pro
lado.
E grãos de areia voam com
o vento. E seu cabelo também
voa
imóvel.
E os grãos começam a se transformar
e você vê pedaços enormes de areia
vindo em sua direção.
Blocos do tamanho de um cachorro.
E não consegue desviar.
E eles batem na sua cara
e se transformam em milhões
de grãos minúsculos.
E você fica alí
parado.
E a cada placa de areia que te acerta
você toma mais
um gole
de sua bebida favorita.
E você pensa.
"Como tudo foi acabar
assim?"
Mas você não quer sair,
você pode aguentar.
Você quer provar
que consegue.
E você não vê mais ninguém a sua volta
e, na verdade, nem sabe se
um dia
chegou a ver.
E você deita
e descansa
e o vento diminui.
Uma brisa te faz adormecer.
E você nunca mais acordou.

E, depois de muitos anos,
uma civilização
acha um corpo.
E esse corpo é você.
E eles não dão bola ao grande homem
que você foi, não mesmo!
Eles estão mais interessados
na garrafa de sua
bebida favorita.
Que sobreviveu,
intacta.
Como a bebida
amarga e
forte
que ela é.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

O fardo de uma geração.

O cigarro enaltecendo a vida
a chama do que um dia
fomos
O passado
o presente
fundidos numa trama diabólica.
O preço que pagamos
nos é cobrado com sangue
a vida toma o que deu
e ninguém está preparado
para o dia do pagamento.

Nunca iremos descansar.
Correremos, aflitos, pelos
corredores ensangüentados
de um porão assustador.
Morreremos como bandidos
viveremos a vida pagã.
Somos herdeiros de um mundo sem asilo.
Somos o que se perdeu
uma geração inteira
sem nada
sem coragem
sem sorriso.
Não chore.
Eu não choro,
pois tudo é maravilhoso.
Amém.

quarta-feira, 12 de março de 2008

A vida à morte.

Tudo gira em torno
de nada.
Não há sentido nenhum.
Não me venha com
religião
explicações
falsas retóricas
nem me fale em auto-ajuda
nada.
Não há sentido nenhum.
Nada pra se fazer.
A vida

é mais fácil
quando aprendemos
que temos muito mais
a perder
no momento do nascimento
do que no leito
de morte.

segunda-feira, 10 de março de 2008

O Sofá e o Mundo.

Nossas pernas entrelaçadas,
minha vida sobre a tua
andam sem compasso
perdidas
pendem para um lado
- o melhor-
E o mundo passa lá fora
e aqui dentro
nossas vidas passam
e nada podia passar melhor.
Nossas pernas entrelaçadas
beijam o mundo
e nele
há dor, sim
há dor
em nós,
mas sem ela
nada seria igual
e nada seria
o que preciso.
O filme na tv,
o cigarro no cinzeiro,
a cerveja no copo
a loucura no coração.
Tudo isso está entrelaçado
em nossas pernas,
em nós.
Posso ir ao mundo
ao encontro do desconhecido
o novo espreita minha alma
para...
não sei
Só sei que, como for,
quero
nossas pernas
entrelaçadas.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

O Poema.

Não julgue o poema
nunca
é tudo uma brincadeira.
O poema não é sério
não é esforço.
Olavo Bilac se esforçava
e só lembro dele
como o primeiro
a sofrer um acidente
de carro
no Brasil.
Não faz diferença.
O poema é liberdade.
Jogue palavras soltas
brinque com o amor
com o ódio.
Sentimentos opostos são
divertidos
um poema pode se basear em nada.
Não existe "um poema".
Use sempre o artigo definido;
brinque com o poema.
Fale sobre dor
sobre felicidade
sobre a cagada do dia anterior
sobre aventuras inexistentes
mas se divirta com o poema.
Seja livre, não precisa rimar
não precisa soar bem.
Flutue com o poema.
Misture tudo
viva
isso é o principal
viva todo o momento
seja chorando
ou rindo
mas viva.
Não é preciso talento
isso é besteira
o talento não supera
a experiência de se viver.
Escreva mil poemas numa noite
bebendo
fumando
se divertindo.
Haverá muita merda
mas o poema não
é um companheiro
difícil
ele entende a mediocridade
ele é somente
um companheiro.
Não existem poemas imortais
até que alguém
o transforme num.
Não seja escravo do poema
o poema é seu amigo.
O poema é liberdade.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Nada Mais.

Sozinho no campo
de imensa imensidão
do vazio
do escuro.
Só eu.
Minha cabeça gira,
como quiser,
gira.
E não vejo nada
nada é tudo que tenho.
E nada é tão bom assim.
Eu caminho no verde cor de sangue
de um pasto inexistente.
De uma vida
que inda passa
até passar.
Nos versos de um papel sujo
me perco e
nada é tão ruim assim.
Tudo é o que parece.
Nada podia
ser mais triste.
A realidade se faz de fantasia
para cortar meu pulso.
E nem reflexo eu tenho.
Nada.
Só geada no pasto que não há.
Uma cacheira azul de sangue corre
e o barulho me deixa mudo.
Eu grito, um grito silencioso.
Como a da árvore na floresta vazia.
E vazio é meu peito
no meio de rostos estranhos,
que, nem ao menos,
alí estão,
só solidão.
E nem sei
o que é
nada
é o que é:
tudo
nada mais.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Esse cara

Esse cara olha pra mim
esse cara olha e ri
ele debocha
da minha infelicidade
da minha falta de sorte
e eu só quero levantar e
esmurrar a cara
dele
para que todos riam
alto
e não disfarcem
o deboche
com aquela cara de cu
só quero ouvir
os risos
da sua infelicidade
da sua falta de sorte,
não da minha;
da minha vida.