domingo, 27 de março de 2011

poesia

eu saio do banheiro e entro no quarto
ela está de pé arrumando os lençóis da cama
e eu vejo a sua bunda gloriosa branca empinada
e penso que ainda não me acostumei com aquilo tudo
sinto falta de ar por não conseguir parar de me surpreender
quando ela me olha e me beija
e como ela tem um jeito tão sutil de olhar e beijar
que parece entender tudo que digo
sem antes eu dizer uma palavra
e tudo é uma verdade mentirosa
enquanto o cheiro doce da baunilha me entope as veias
eu sinto as feridas cravadas a marteladas cheias de sangue
dentro do que eu considero eu
se derretendo e escapando para fora da barra das minhas calças
eu penso que se isso
o ato em si
a bunda os lençóis ela a falta de ar
os olhos paranormais o meu quarto
o banheiro a janela nossa boca
não for poesia de verdade
poesia de verdade
é uma grande merda.

sábado, 19 de março de 2011

Ei, pára de coçar as bolas

Eu gosto do silêncio em que o mundo
inteiro
gira
enquanto eu tiro suas roupas.
Eu posso ouvir pessoas conversando
duas quadras abaixo
mas prefiro escutar o barulho do seu zíper
abrindo.
Gosto do jeito que ela geme
rindo
ou ri
gemendo,
nunca soube.
Gosto do som
da sua voz,
assim,
simplesmente o som
que é um trompete
alucinado
girando por toda a madrugada.
Gosto de como é fácil
estar aqui
com ela
e como tudo que eu acredito
se perde
para baixo da cama, eu acho,
e eu ressurjo como pedaços de carvão.

Então ela está de pé
de costas para mim
empinando aquela bunda
-e eu nem acredito naquela bunda-
para minha cara
olhando por cima do ombro
pedindo
implorando
querendo
que eu faça tudo
que penso em fazer.
Faço.
A gente cai por cima de alguns livros.
Consigo identificar um ou dois
romances
uma colêtanea de poesia
mas prefiro espiar para dentro do seu cu.
A gente rola pelo chão
e eu nem consigo lembrar
que faz dois dias que não passo o aspirador.
Meu joelho bate no armário.
Gosto do jeito que ela
me aperta
minúscula e quebrando
no mínimo
três costelas
e espremendo o coração.
Ela bate a cabeça na cabeceira da cama.
E bate a cabeça de novo.
E bate de novo.
E de novo.
Foda-se a poesia, eu penso.
Mas, enquanto ela puxa minha orelha
para baixo
com os dentes
fecho os olhos e vejo:
TUDO É POESIA.
E a gente acaba
na cama
e ela se gruda em mim
apertando tudo de carne e choro e feliz
que eu tenho dentro de mim.
E ela fala na minha orelha:
goza
e sempre que ela fala
eu obedeço
e gozo e ela geme
e ri
ou ri e
geme
enquanto eu
sigo fazendo uma prece
para aquela bunda,
amém.

Eu sento na cadeira;
ela está deitada e de costas
quase dormindo
e continua gemendo -
não mais por minha causa, acredito.
Acendo um cigarro
e tudo aquilo parece escorrer como tinta molhada.
A cena inteira
ela
a cama
a bunda
eu
escorrendo.
E enquanto meus olhos
terminam
de refazer o quadro
eu solto um anel de fumaça
em homenagem aos deuses
à bunda
até à mim, é
à mim.
E o quadro está pronto
e é igual
e eu ainda não acredito naquela bunda.
Não me controlo
e começo a rir
até me engasgo com a fumaça.
Escuto ela rindo sozinha
e eu quero engolir ela
porque ela ri sozinha
uma risada tão minha.

Ei, pára de coçar as bolas, ela diz.

Desculpa, eu rio
pensando, meu deus,
ela é algo um pouco melhor que humano.

É culpa tua, respondo,
porra seca nas bolas
coça.

hahahaha, tu é nojento, ela fala
e eu sei que vou acabar
engolindo ela
algum dia.

E nós dois rimos juntos
e a bunda ri junto
e ela ainda não olhou para mim
e já me sacou
do início ao fim
eu rio
sem parar
e ela não pára de mexer aquela bunda
eu penso em estupro concedido
e penso que não sou nojento
sou um romântico irrecuperável,
quero a coceira nas bolas.

segunda-feira, 14 de março de 2011

estrela cadente

Ela estava sentada no canto
da cama
com a cabeça entre as pernas.
Dizia que eu vivia sozinho
atrás das montanhas
e segurava
um faca na mão.
Eu tinha uma cabana
de madeira
onde eu guardava
meus pequenos traumas
em caixas de LP.
Ela chorava.
Dizem que isso é amor.

Saio para a cozinha
tomo uma garrafa de água
num gole só
e
estou deitado em cima
de uma pedra
onde o mar bate
como uma orquesta
só de metais
olhando para as estrelas
que estão a um palmo do meu nariz;
vejo uma se desprender do céu
e peço que o amor
seja mais do que algo que eles dizem.

Eu estou sentado no canto
da cama
com a cabeça entre as pernas
e a estrela cadente
parece ser mais importante
que todo o
resto.