terça-feira, 27 de dezembro de 2011

olhos fechados

às vezes ela é loira
e me assopra o rosto quando
depois de suor e gozo eu
sinto calor deitado na cama
e me esconde em seu sorriso
para que tudo pareça simples
como descer o escorregador da piscina
(mesmo que algumas pessoas já
se machucaram
fazendo isso-
todos vimos os vídeos da internet)
e simples assim
afunda seus dedos em minhas costas
geme e me liberta
goza me fazendo rir


às vezes ela é ruiva
e tudo a sua volta
parece ter energia
como se todos estivessem balançando
os braços para o ar
rindo e cantando
totalmente alucinados
sem a necessidade de lsd
porque tudo é leve e divertido
somado ao leve balançar
da sua cintura

às vezes ela é morena
e eu consigo experimentar
suas palavras que são tão
doces vindas de um rosto inclinado para
baixo como uma menina de olhos
tão brilhantes que não consigo
identificar a cor
mesmo que eu saiba que todos
os olhos têm cores diferentes

é difícil enxergar quando se está apaixonado
eu pensei
junto de todas elas

perco cinco minutos
orando por elas
por
todas essas mulheres
lindas em sua própria confusão
loucas em sua sanidade
pedaços de mim
que abriram seus corpos
que abriram suas mentes
que me deixaram entrar
que ainda caminham comigo

-sombras da minha escuridão-

direto
para uma nova paixão

por isso sigo de olhos fechados
que é para estar preparado
para quando eu chegar.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Yin-Yang

Houve uma época em que eu saia com duas mulheres:
uma loira, outra morena. E todo dia
eu escutava o mesmo cd
no rádio do carro. Hora com uma
hora com outra. Fazia sempre sol, e eu me sentia
muito calmo, dirigindo pelas ruas de óculos escuros.

As horas passavam preguiçosas. Sem problemas.
Sem ansiedade.
Uma enchia qualquer sutiã. A outra, cabia na boca.
Uma fazia com que eu não sentisse tão mal
e eu já não era ridículo por não saber o que fazer
com as mãos, parado, esperando um café.
A outra me fazia carinho durante a noite.
Fumaça e cerveja. Ela com as mãos no meu peito
os dedos entrelaçando pêlo e suor.

Me aceitavam. As duas.
E se entregavam, com todas as suas
armas no chão. Tudo tão simples e bom.
Nós, dirigindo em direção do Sol.
As mesmas músicas.
Uma e a outra.

Só estar com elas, no mesmo quarto,
na mesma cama, fazia com que eu me sentisse
bem. Satisfeito com a crise das bolsas mundiais.
Sem medo do que vinha pela frente. Segurando
meu coração, do alto da montanha, para quem
quisesse ver. Completamente nu.

Mas isso foi há muito tempo. Eu já morri
muitas vezes desde então.

Acendo um cigarro e abro o jornal.
Leio sobre uma pessoa que não conheço
que está com câncer.
O mundo inteiro sai dos trilhos
e pessoas começam a cair
como chuva
da minha janela. Anjos descem do céu
exigindo vingânça. Cachorros comem a carne de cachorros
pelas ruas. E os homens que batem no chão
lutam pelas sobras.

Ligo o rádio para entender o que está
acontecendo. Sintonizo nas notícias
que, por algum motivo, toca aquele cd do meu carro
e o cantor diz:

da próxima vez.



sábado, 12 de novembro de 2011

O jogo

Quando você se dá conta, está deitado num campo de areia
uma espécie de Coliseu particular.
Você carrega em seus braços um pano, como um cobertor
que você mesmo teceu, mas não sabe porque.
Não consegue entender aquilo tudo, pricipalmente
quando, sem esperar, uma mulher cruza todo caminho
até você. Ela corre e derrama mel e sangue dos olhos.
Instintivamente, você sabe que ela quer lhe machucar
que ela corre para a sua destruição, para lhe matar.
Então você consegue desviar algumas vezes;
você é rápido e tudo que quer é ir embora de lá.
Você não entende nada, mas tem seu coração.
E você tem medo, você quer apenas um cigarro e
uma cama para que possa descançar.

Até que, numa de suas investidas, ela
para há dois metros de você e
ela tem olhos luminosos
e você olha aqueles olhos e
a boca dela sofre uma pequena elevação no encontro dos lábios
e você olha aquela boca e
suas pernas escondem alguma coisa santificada
e você olha aquelas pernas e
seu cabelo cai sobre os ombros
e você olha aquele cabelo
e sente um frio subindo a espinha
parando no peito e causando algumas
dores abdominais. Você acha que vai vomitar.
Mas não vomita. Você apenas entende tudo.
Entende porque teceu aquele pano
porque está ali e, pricipalmente, porque ela quer
lhe matar.

Você espera ela cansar e corre até o extremo oposto
do campo. Ela de um lado, você do outro.
Você respira fundo algumas vezes. Toma coragem.
Ela vem correndo contra a sua direção e você corre
até ela. Algo em torno de 500 metros até
se encontrarem no meio do caminho.
Você levanta seu pano até à cabeça
com a barra arrastando no chão.
Quando vocês se encontrarem, irá jogar o pano
em cima dela. Cobrindo-a totalmente. E irá dar
um nó na parte das suas costas, para que não
se livre tão fácil e para que você a segure melhor
no colo ou deitada.
Seu coração bate mais forte a cada passo.
Você nunca antes havia
corrido de pau duro. Com o coração saindo pela garganta.
Vocês se aproximam e os olhos dela queimam os seus.
Ela ri. Você está em pânico. Mas vai conseguir,
você sabe disso. É a sua vez. Você entendeu o jogo todo.
E quando você vai jogar o pano
ele se prende no pé dela,
que deu um passo a mais. Sem que você pudesse
imaginar ou entender.
Então você cai no chão. E a areia lhe corta inteiro
pernas, braços, peito, rosto, tudo.
Você está cheio de marcas que irá carregar
para o resto da vida.

Então você levanta, e nem a mulher ou pano
estão alí. Você está sozinho e não consegue
ver nada a sua volta. Nada. Até o horizonte
nada.
Você respira fundo e, como num milagre,
acha uma carteira de cigarros no bolso.
Você acende e dá uma longa tragada
realmente se esforçando para sentir
alguma coisa. Uma lágrima rola pela bochecha.
E você se dá conta que ainda
tem seus cigarros, sua cerveja e que vai conseguir
algum dia tecer outro pano, dessa vez
mais forte e curto.
E, de algum modo, você sabe que em breve
outra mulher aparecerá por alí.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

meus tênis

eu atravesso a rua sentindo vontade de vomitar
e não pelos litros de cerveja que joguei para dentro
de mim; mas pelo peso nas costas que deixa meu
queixo grudado no peito e me revira o estômago
enquanto um carro vermelho quase acerta minha
perna direita e me joga para o lado esquerdo
da rua, acabando com tudo - dor e felcidade -
antes que eu possa decidir ir caminhando para casa

tudo é só expectativa, eu penso
chegando do outro lado
da calçada
são e salvo;
me sentindo insano e perdido -
eu caminho:

os postes da joão alfredo brilham como tochas
durante a madrugada e vestidos verdes;
mesmo que os olhos dela brilhem ainda mais,
eu escolho a rua e sigo sozinho; meus tênis como
trampolins me jogando cada vez mais alto
a cada passo mais alto até que eu consiga
pular por cima dos prédios da cidade baixa
e ver todo o caminho até a zona sul de volta
ao meu coração

e quando minha cabeça ultrapassa os limites
das nuvens eu vejo meus potes e toda
a geléia -minha substância- transbordando para
fora deles, até o chão; chego a
pensar que a morte é uma coisa marvilhosa
não com olhar suicida de antigamente
- que acreditava ter -
mas penso na morte como a gargalhada final;
o momento em que nada mais importará e eu consiguirei rir
de toda minha vida: um filme ordinário
da sessão da tarde;
como rio das vergonhas da minha infância
cheias de palavras e frases que deveria ter omitido
com vontade de gritar para que as memórias
pulem para fora de mim sem que ninguém perceba
que já estiveram lá;
então, vendo os potes transbordarem
eu penso que deveria escrever um poema
sobre mim, sobre como eu sou maravilhoso quando
não há ninguém por perto; como eu posso ser mágico
e até pular por cima das nuvens apenas com meus tênis
sonhos, amores e alguns goles de cerveja;
penso também que, quando estiver escrevendo,
não irei carregar comigo mulher alguma
e que nenhuma boceta vai aparecer nas minhas linhas
enrolando minhas palavras e ideias
porque a beleza e a naturalidade e a esperança e
tudo que eu quero carregar em mim
não vêm só de pernas braços e sobrancelhas
mas do que só eu posso ver
de olhos fechados no escuro.

chego em casa
e, como era de se esperar,
falho miseravelmente e caio de cara no chão
direto das nuvens como um anjo pecaminoso
que não aprendeu a desistir
e sabe muito pouco do que se passa lá fora
quando não está presente.





terça-feira, 25 de outubro de 2011

abraços orgasmos e sorrisos

não quero minhas palavras cheias de intenções ou
sorrisos premeditados prazeres monótonos
aviso prévio arrastado por de baixo da porta
quero ser o resultado de toda a naturalidade
de gestos em manhãs sonolentas de domingo
suspiros cor de terra molhados de chuva
quero ser o senhor da minha confusão e ter o direito
de desistir de tudo que me for capaz
para abraçar o necessário
esperando ansiosamente que a beleza natural
seja despejada em mim justamente quando não estiver preparado
fazendo acabar a rotação dos planetas
no ponteiro avançando um segundo no relógio da cozinha
despertando a selvageria que não me liga aos pontos onde
eu me prendi ao chão para que possa
desistr a qualquer minuto para só então encontrar
a menina de olhos brilhantes e faca na mão
que tem a malícia para matar e
ainda não se acostumou a ser linda
andando descalça pela casa
sem saber o que isso realmente significa
ou sem impor significado à meia-calça verde
pendurada na maçaneta de madeira do meu quarto
para que no simples movimento do relógio
o ponteiro definitivo
eu tenha a capacidade de acreditar que um novo mundo é possível
e que a bondade é tão simples quanto acender um cigarro

quero a vida na naturalidade dos movimentos
gestos e intenções
onde a arte diga alguma coisa e o amor
seja apenas abraços orgasmos e sorrisos
servidos com gelo
dependendo do meu humor.




segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Minha janela

Todos os quartos de todas as mulheres
suas camas e colchas e lâmpadas e cestas de lixo
e a falta de intenção ao pegarem no sono
enquanto eu sento na janela, acendo um cigarro
e olhando para baixo
tento entender a coisa toda.
São todas tão diferentes, mas não consigo deixar
de perceber os pontos em comum:
a elegância com que vão ao banheiro
parecendo ditadores quando saem
e tiram a roupa.
Eu sento na janela e observo
fingindo entender alguma coisa
enquanto elas dormem e sonham com
balas de hortelã.

Mas você
você não tinha janelas
só portas.
Então restou apenas o meu quarto
e a minha janela
de onde
gritávamos enquanto o mundo inteiro
parecia dormir profundamente
afundando em seus prórpios pesadelos.
E F.O. já não parecia ter o senso
de novidade que sempre me encantou
e uma caminhada por NY não
parecia mais poética que por POA.
C.B. parecia ter deixado alguma coisa escapar
por entre os dedos enquanto a Musa
o enganava em bares
tão terríveis quanto ele sempre escreveu.
E.P. se tornava mais fascista do que nunca.
L.P. não parecia aquele sonhador maravilhoso
que morreu tentando abraçar a Lua.
A.A. era só forma e os versos íntimos
não faziam mais sentido que o meu café da manhã.
Eu começava a pensar que na verdade
a coisa não vinha da vergonha
e J.W. tinha perdido alguns versos
pelo caminho.
E não conseguia mais esperar os
golpes tão fortes
que C.V. havia me alertado,
mesmo com eles dobrando a esquina.

E eu não me importava com a sorte
ou com como as palavras deveriam soar, muito menos
com o impressionismo, lirismo,
surrealismo, realismo ou com machismo.
Nenhum ismo.
Exceto talvez pelo amadorismo,
porque assim eu poderia fazer uma piada idiota
e talvez arrancar um sorriso seu
e esquecer todos os meus problemas
dizendo o quanto eu gosto de você
mesmo sem coragem
porque tudo isso
- nós, a janela, as cestas de lixo, a vida -
no fim
é só uma grande piada.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

detalhe

ela era linda
mas eu nunca mais consegui
escrever sobre ela.
e, às vezes, eu fumo um cigarro
numa segunda-feira a tarde
e penso sobre isso.

nós, a estrada, nossos acontecimentos
fluiam de forma não-linear.
poética, sem pretensão
ou intenção.
cheia de redenções
embaixo da porta da igreja.

perdia a fúria da tela em branco.
sem esforço.
assim como a vida
vagava
pelas ruas que
ganhavam novos significados
porque de alguma forma
ela era possível.

eu dancei, meus amigos
eu dancei!
dancei sem vergonha alguma
e senti uma bala perfurar a minha
barriga.
e, pelo furo, eu sentia um vento gelado
felicidade e baunilha
correr para dentro de mim.
e o vento abraçava meus brônquios
como fita de seda verde.
e eu exalava a felicidade de um baseado
às 8:30
ou de uma cerveja no final da manhã.

perco o ar.
solto a fumaça para o alto.

tudo isso, eu penso, porque
ela era linda
e isso
nela
era apenas um detalhe.



sexta-feira, 17 de junho de 2011

conversa

ela me olha de baixo, abrindo
meu zíper.
seu corpo
inteiro
vibra e se contorce.
tira meu pau
do descanço das calças.
desliza a língua
do início ao fim
até enfiar tudo na boca.
então, me olha
e enfia tudo de novo.
pego seus braços,
puxo para cima e
enfio minha língua naquela
boca.
e depois de um tempo
ela acende um cigarro
apoiada no encosto da cama.
me olha
inclinando a cabeça 53º
a direita
e começa a falar e falar
e falar
sobre o terceiro paralelepípedo -da calaçada para a rua -
do lado direito
da subida até a minha casa
e sobre ir embora.

eu saio correndo
e me escondo dentro do armário.
acendo um isqueiro e vejo
minha sombra projetada
dançar sobre o balcão de um hotel
no interior da França.

ela continua falando
53º a direita
me olhando com os olhos
que estão prestes a derramar
não lágrimas,
mas o verde e o mel -
devido à inclinação.

rafa, ela diz.

eu espirro
e entendo tudo o que
ela fala.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

quando eu peço um expresso (longo)

às vezes eu acho que é
por causa do jeito que as
sílabas do nome dela saem
leves
da minha boca

a primeira se abrindo e pedindo piedade
piedosa
a segunda desliza se fechando
num eterno bico
que ela destrói num segundo
se jogando num beijo para cima de mim
e recua a cabeça num sorriso
cheio de vergonha
que logo se revela uma mentira
tão grande quanto a neblina de toda
manhã

às vezes eu acho
que por tudo isso
eu sento num café
peço um expresso longo
acendo um cigarro
no sol das 16:32
e escrevo romances imaginários
sobre as pessoas que caminham por ali

e a senhora que esperava anos
por ele
sem ele nunca ter um rosto ou um apelido
morria
esquecida no canto do quarto
por cansar de esperar
e ser feia demais e velha demais e e se odiar demais

jogada
com a saia dobrada para cima da cintura
a meia calça vermelha terrivelmente imóvel
tudo silencioso e cinza

agora toma chá com bolachas
num café muito branco e amarelo
enquanto a meia calça tem vida própria
espera por ele quebrar o assobio contínuo
da porta de entrada
e entrar inteiro para ela

ela
vibra e espera

ele vem

já eu

sorrio amassando a carteira de cigarros
acendo um último
tomo um último gole de café
e desço a avenida
me sentindo muito bem

quarta-feira, 4 de maio de 2011

sinal vermelho

eu dirijo e sigo olhando
aquele arroio que divide a

porto alegre que carrego em mim


e quando vejo tudo

com o sol vermelho refletindo

faróis de carros e os meus olhos

se fecham como em uma explosão

dentro do meu estômago que

identifico como felicidade

mesmo odiando a palavra


porque vejo uma beleza tão natural

que me apaixono por todo o lixo

do dilúvio de todas as espécies

e sinto que tenho alguma chance


e quando eu vejo a noite

cair dentro do arroio

eu penso em uma arca e

penso em um café holandês
penso em queijos podres
penso em um beijo esquecido na torre negra

penso em todos os fins de tarde

penso em cheiro de feijão



e de repente o sinal vermelho

grita na minha cara


paro

e me dou conta
que não lembro de dirigir

por uns bons 2km



e meu olho fica umedecido

daquela maneira que os olhos

umedecem quando parece

que tudo é estático e sereno

e que se pode abaixar os braços e nem tentar

porque eu posso ser tão deliciosamente

eu quando não estou por perto



rio tão alto que assusto

uma mulher com olhos como duas rosas

brancas morrendo

que tentava atravessar a rua


então decido que vou escrever

um poema sobre como a POESIA

deve ser fácil
simples

e natural

e tão livre quanto pensar



sopro uma bola de fumaça pela janela

engato a primeira

acelero.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Voz baixa

Não; não estou aqui para gritar
esse é um poema de voz baixa
um vento por baixo da saia, um arrepio, um gemido
talvez porque um pedaço de madeira ainda me
salva
de toda a loucura e de tudo que é velho e opressor
talvez porque eu posso acender um cigarro e
não
me importar com o peso do cigarro
talvez porque minha mão fica mais bonita quando olho de um certo
ângulo
e o ângulo ou a minha mão não têm nada a ver com isso
talvez porque a distância é muito longa a primeira vista
mas
não tenho pressa de sair
talvez porque eu possa fazer um poema de voz baixa e
gritar
com a força de um berrante o meu coração
talvez por não impor sentido ao fato de rir porque
alguém
arregalou os olhos e sorriu perfurando meu ombro esquerdo

esse é só um poema de voz baixa
um sussuro
um sorriso
minha substância
é eu gritando
não pelo amor livre
mas pelo amor livre
de todo o peso que a palavra carrega nas costas.

domingo, 27 de março de 2011

poesia

eu saio do banheiro e entro no quarto
ela está de pé arrumando os lençóis da cama
e eu vejo a sua bunda gloriosa branca empinada
e penso que ainda não me acostumei com aquilo tudo
sinto falta de ar por não conseguir parar de me surpreender
quando ela me olha e me beija
e como ela tem um jeito tão sutil de olhar e beijar
que parece entender tudo que digo
sem antes eu dizer uma palavra
e tudo é uma verdade mentirosa
enquanto o cheiro doce da baunilha me entope as veias
eu sinto as feridas cravadas a marteladas cheias de sangue
dentro do que eu considero eu
se derretendo e escapando para fora da barra das minhas calças
eu penso que se isso
o ato em si
a bunda os lençóis ela a falta de ar
os olhos paranormais o meu quarto
o banheiro a janela nossa boca
não for poesia de verdade
poesia de verdade
é uma grande merda.

sábado, 19 de março de 2011

Ei, pára de coçar as bolas

Eu gosto do silêncio em que o mundo
inteiro
gira
enquanto eu tiro suas roupas.
Eu posso ouvir pessoas conversando
duas quadras abaixo
mas prefiro escutar o barulho do seu zíper
abrindo.
Gosto do jeito que ela geme
rindo
ou ri
gemendo,
nunca soube.
Gosto do som
da sua voz,
assim,
simplesmente o som
que é um trompete
alucinado
girando por toda a madrugada.
Gosto de como é fácil
estar aqui
com ela
e como tudo que eu acredito
se perde
para baixo da cama, eu acho,
e eu ressurjo como pedaços de carvão.

Então ela está de pé
de costas para mim
empinando aquela bunda
-e eu nem acredito naquela bunda-
para minha cara
olhando por cima do ombro
pedindo
implorando
querendo
que eu faça tudo
que penso em fazer.
Faço.
A gente cai por cima de alguns livros.
Consigo identificar um ou dois
romances
uma colêtanea de poesia
mas prefiro espiar para dentro do seu cu.
A gente rola pelo chão
e eu nem consigo lembrar
que faz dois dias que não passo o aspirador.
Meu joelho bate no armário.
Gosto do jeito que ela
me aperta
minúscula e quebrando
no mínimo
três costelas
e espremendo o coração.
Ela bate a cabeça na cabeceira da cama.
E bate a cabeça de novo.
E bate de novo.
E de novo.
Foda-se a poesia, eu penso.
Mas, enquanto ela puxa minha orelha
para baixo
com os dentes
fecho os olhos e vejo:
TUDO É POESIA.
E a gente acaba
na cama
e ela se gruda em mim
apertando tudo de carne e choro e feliz
que eu tenho dentro de mim.
E ela fala na minha orelha:
goza
e sempre que ela fala
eu obedeço
e gozo e ela geme
e ri
ou ri e
geme
enquanto eu
sigo fazendo uma prece
para aquela bunda,
amém.

Eu sento na cadeira;
ela está deitada e de costas
quase dormindo
e continua gemendo -
não mais por minha causa, acredito.
Acendo um cigarro
e tudo aquilo parece escorrer como tinta molhada.
A cena inteira
ela
a cama
a bunda
eu
escorrendo.
E enquanto meus olhos
terminam
de refazer o quadro
eu solto um anel de fumaça
em homenagem aos deuses
à bunda
até à mim, é
à mim.
E o quadro está pronto
e é igual
e eu ainda não acredito naquela bunda.
Não me controlo
e começo a rir
até me engasgo com a fumaça.
Escuto ela rindo sozinha
e eu quero engolir ela
porque ela ri sozinha
uma risada tão minha.

Ei, pára de coçar as bolas, ela diz.

Desculpa, eu rio
pensando, meu deus,
ela é algo um pouco melhor que humano.

É culpa tua, respondo,
porra seca nas bolas
coça.

hahahaha, tu é nojento, ela fala
e eu sei que vou acabar
engolindo ela
algum dia.

E nós dois rimos juntos
e a bunda ri junto
e ela ainda não olhou para mim
e já me sacou
do início ao fim
eu rio
sem parar
e ela não pára de mexer aquela bunda
eu penso em estupro concedido
e penso que não sou nojento
sou um romântico irrecuperável,
quero a coceira nas bolas.

segunda-feira, 14 de março de 2011

estrela cadente

Ela estava sentada no canto
da cama
com a cabeça entre as pernas.
Dizia que eu vivia sozinho
atrás das montanhas
e segurava
um faca na mão.
Eu tinha uma cabana
de madeira
onde eu guardava
meus pequenos traumas
em caixas de LP.
Ela chorava.
Dizem que isso é amor.

Saio para a cozinha
tomo uma garrafa de água
num gole só
e
estou deitado em cima
de uma pedra
onde o mar bate
como uma orquesta
só de metais
olhando para as estrelas
que estão a um palmo do meu nariz;
vejo uma se desprender do céu
e peço que o amor
seja mais do que algo que eles dizem.

Eu estou sentado no canto
da cama
com a cabeça entre as pernas
e a estrela cadente
parece ser mais importante
que todo o
resto.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Eu sou um poeta e

sobre tudo que se tem
a dizer
se pode dizer
realmente
muito pouco.
Eu não existo
de verdade
sou uma imagem refletida
por olhos brilhantes
em um muro cheio de riscos.
Pedaços de papel picado
espalhados pelo chão.
Pedaços de mim
picado
espalhados sobre teu sangue e coração.
A vida é curta
mas grito
loooooooooonga espera e
o tempo voa como se eu não ouvisse.
Falta muito para morrer
eu digo, amigo,
e falta tanto pra viver
que a dor às vezes faz lágrimas brilharem geladas nas minhas bochechas
levantadas para cima rindo do seu sorriso.
Dou um tiro para o alto
e espero a bala cair silenciosamente sobre minha cabeça.
Elefantes amarrados por barbantes
voam
como balões de hélio.
E eu não entendo nada sobre hélio ou elefantes
a não ser
que todos ficam com um ar sereno
apoiados na grade
sob o Sol.
Eu grito poesia
e grito que o poder está no pau
enquanto tenho medo do meu.
Medo do que ele traz
do definitivo
do que eu crio como definitivo
da ânsia de vômito com pernas
e vestidos verdes.
E já não sei bem
em qual linha eu estou
com a cabeça apoiada sobre a mesa
eu sou um poeta
e minha alma não vale de nada.
Eu sou um poeta e minh'alma
bóia numa piscina de merda
que eu mesmo criei.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Ah, esses adoráveis intelectuais

eu estava sentado
cuidando da minha vida
quando ele chegou e disse:

é uma pena, você se considera
um poeta
não tem estrutura e não se preocupacom a forma.
Aperta
enter
e diz que é poesia.

o problema é que ela
tem olhos
que me paralizam.
eles brilham me
deixando
rídiculo
opaco do lado de fora
da casa, respondo.

poesia é exaltação
é beleza
e você só reclama sobre a
sua vida
que ninguém está
interessado. e eu
lhe pergunto:
isso é poesia?

não sei, respondo,
e quando ela
tira a roupa
e age como estivesse
brincando de boneca
rindo
me fazendo rir
zombando de todos os deuses
e dos mistérios do centro da Terra
eu sei
tenho que
gritar sobre isso.
e, sim, eu sou burro,
mas li o o'hara,
e o que mais se pode fazer?

você pode estudar,
ele diz rindo,
pode começar lendo os
clássicos.
ouvi dizer que você acha
sheakespeare chato.
camões uma perda
de tempo.
e olavo bilac
um retardado
com tempo de sobra.

o que eu posso fazer
se estou deitado na minha cama
e é domingo de tarde
e não me preocupo com nada
a não ser
respirar
pelas próximas 5 horas?, pergunto.
e eu olho para a minha escrivaninha
e vejo um livro
de poesia
que é simples
e diz MUITO com ALGUMAS palavras
e elas são fáceis
deslizando pelas páginas
e são confortantes
quando precisam ser
e te revoltam o estômago
no momento certo
e são como espinhos cheios de veneno
cheios de mulheres
cheios de vinho
cheios do cheiro de perdra molhada pela chuva de verão às 17h de um dia cizento que chamam de terça-feira
e nem o dia, nem o tempo, nem o nome
muito menos a pedra ou a chuva
importam
a não ser o cheiro e tudo
que aquele cheiro traz
porque o velho feio sujo safado
que escreveu e se dizia poeta
sentia de verdade aquilo tudo
e não escrevia porque devia
mas porque precisava.

eu achava que era só nas tuas poesias que tu não
fazia sentido, ele diz
com seus pequenos olhos cheios de
conhecimento
se fechando em reprovação e
em falta de compreensão
das coisas simples que eu dizia.

espera que eu estou chegando lá,
tentei acalmá-lo mentindo, pensando:
hahaha, como eu adoro
esses intelectuais virgens.

e do lado do livro, continuo,
tem uma carteira de cigarros deitada
com a tampa aberta
e eu ignoro aquilo por algum
tempo.
mas
de repente
eu olho para ela
e eu vejo que está escrito HORROR
na parte de trás da tampa do cigarro deitado.
então eu lembro das figuras do ministério da saúde
e não consigo relacionar a figura certa com o HORROR.
mas eu lembro de lourenço mutarelli por um tempo
e penso em ciganos
e cartas que revelam a sorte e o futuro
e penso numa mulher
com olhos malucos explodindo para fora do rosto
correndo pelada com os cabelos pegando fogo.
mas o mais importante
é que eu esqueço disso tudo
em 2 minutos
e lembro que a carteira está vazia
e que eu preciso de um cigarro
com HORROR
ou sem.

você está simplesmente
falando
sem dizer nada, ele fala e
ri de mim.

talvez sim, comento,
mas eu tenho medo que algum dia
eu perca tudo isso
e veja tudo
numa ordem certa
descrita com perfeição.
palavras e mais palavras
para dizer o mesmo que uma linha.
tenho medo
que o livro seja só o livro
e cigarro esteja vazio desde o início.
e tenho medo
que ELA seja uma só
e que ELA precise de nomes diferentes
ou de olhos diferentes
toda vez
e esqueça DELA.
tenho medo de não reparar na risada quando estiver de pau duro.
tenho medo de ter medo de escrever pau duro.
medo de ter que escrever
parar e pensar e TER que escrever.
prefiro uma visita irregular
um abraço cheio de saudade
e lágrimas no ombro -
prefiro a necessidade.
prefiro poder esquecer das maiúsculas só para deixar vocês putos
fechando seus cus intelectuais de ódio.
e, como você sabe,
é muito difícil fazer muito sentido
quando se escreve com o pau
pelado balançando na frente do teclado.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Eu já dormi em lugares estranhos, meu bem

Eu olhei em seus
olhos e disse que estava
tudo acabado.
Eu era um herói.
Um herói como Hemingway
jogando sangue cérebro ossos
tudo contra a parede.
Talvez não tão
dramático
talvez não
tão final
talvez
nada parecido com Hemingway
se dando um tiro na cabeça.
Somente um ato heróico
e parecido comigo
mesmo
explodindo a parte escura
dos meus olhos.

Eu penso em ti,
eu comecei,
e dói pensar em ti.
E, às vezes, eu
sei,
é uma dor boa
um conforto
um calor
mamadeira quente
na cama
uma praia vazia
e há um pescador em cima de
uma pedra
jogando o anzol para além
do mar
e o pescador sou
eu
mesmo que nunca
tenha aprendido a pescar.

Talvez, tudo isso,
porque você é uma mulher,
continuei,
e como todas as mulheres
veneno na ponta
da faca.
Em pequenas garrafas coloridas
que não se pode deixar de beber.
Um veneno vermelho
pele branca
veneno vermelho
olhos de mel
e o cabelo é vermelho
e é amarelo
e é preto
e o cabelo é azul.

Não sei se existe mulheres
de cabelo azul.
Mas eu penso em mulheres
de acabelo azul.

Penso em santas, vagabundas
mulheres que amam e odeiam
e amam bem
e odeiam bem
da mesma maneira.

Mulheres definitivas.
E você
mulher definitiva.
Uma tatuagem
escondida pela camisa e gravata
enquanto eu tento
arrancar minha pele
arrancar
você
de mim
e jogar você
para longe
para outra pele.

Eu quero você
longe do meu
presente
que não existe
e explode agora
e agora e agora
e ali, ele
explodindo
na canto direito da
tela.

Você é uma casa velha
amarela
escrito
aluga-se
com letras
vermelhas.

Você é passado
e como passado
eu sinto
você
maravilhosa dentro de mim.
Algo quase esquecido.
Como uma dor
de garganta
que passa e
que não se sabe se foi inventada
ou se a dor
já foi real
algum dia.

E o futuro, terminei,
é uma bolha de sabão
voando em direção de uma
árvore cheia de espinhos.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Meu amor próprio

Bem,
eu não sou nada
bonito
mas de vez em
quando
tenho sorte e alguma
mulher aparece.

E ela aparece
e seu nome é
Sílvia.
E ela dá um passo
e o mundo inteiro
treme
e curva à sua frente.
Ela tem um jeito de sorrir
que causou as duas
guerras mundias.
Ela é a bomba atômica
com duas pernas
que são cobras
mas
estranhamente
se movem como pernas.
Badaladas do relógio velho
sexo
a cada passo
sexo e mais sexo.
E eu não sei me apaixonar
mas ela me tem.
Não sei dizer eu te
amo
mas os olhos
gritam tudo que meu coração
excreta
por ela.
Ela
deliberadamente
me machuca.
Some por
semanas
meses
e aparece
de braços abertos
iguais aos meus
que nunca se fecharam.
E ela goza com
outras pessoas
em outras ideias
enquanto eu
mudo de janela
e gozo nela.
Ela me machuca.

Já, Priscila
me olha como
se eu fosse bonito.
Deixa eu saber
que está lá
inteira
para mim.
E o sexo
é lindo,
mas penso em Sílvia.
E as brigas
são brigas boas
porque ele grita
que me quer.
Ela deixa eu saber
que está à um passo
de mim
e eu caminho vinte
para trás.
tenho medo.
Medo que Sílvia volte
e medo que eu não
esteja lá.

Agora
sozinho e do topo
da minha solidão
eu vejo
que sou apaixonado
por mim.
Pela ideia que criei
de mim.
Algo que não vale a pena
amar.
Algo descartável.
Algo.
E amando o que me
despreza
eu tenho um pouco
de amor próprio.
Uma punheta sem nunca
gozar.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Enquanto espero

Eu não me sinto
bem
a maior parte do tempo.
Me sinto inadequado
um idiota.
E me sinto
muito bem
assim.

Estou acostumado,
talvez.

Sempre odiei
a pretensão.
Lutei contra ela
nos outros
e as cicatrizes
grudaram em mim.

Me olho no espelho
talvez tenha algo
de bonito
lá dentro
e as cicatrizes não
me permitem ver.
Mesmo que eu
GRITE
do outro lado.

Eu fui
meu próprio pai abusivo
alcoólatra
idolatrando a repulsa
idolatrando minhas
cicatrizes.
Enquanto meu
pai nunca
disse "eu te amo"
em voz alta
mas nunca conseguiu
esconder
dos seus olhos.

Me sentindo uma
espécie
de Jesus
particular.
Sinto um prego
entrando no meu
pulso esquerdo
e sinto
minha mão direita
martelando.

Suicídio eu traduzo
em segurança.

Oremos
que não resta mais nada
oremos.

Pedaços da minha vida
caindo de mim.
Pendendo para fora
do carro
arrastado pelo
asfalto.

Acendo uma fogueira
para deixar a
escuridão
do meu quarto
mais atraente.
Tentando
acender
meu coração.

Eu sinto
o cano gelado
do 38.
colar no meu lábio
inferior.
Me sinto
muito bem assim.
Me sinto bem por ser agora
por não ter sido
por ela
ou por mim.
Me sinto bem quando
o ferro
bate no dente
me sinto bem
por vocês.

E quando eu crio
coragem
e posiciono
gentilmente
o dedo no gatilho,
ela sorri
enquanto tiro
suas roupas.
E joga a cabeça pro
lado
e ri.
E tudo é tão de verdade.
O sorriso
o barulho da sua
voz
da minha
a nossa.
E a minha cama
se torna um milagra
maravilhoso o suficiente
para fazer eu chorar.
Mas não choro.
É ridículo
um homem
chorando
de pau duro.

Ando me sentindo
muito bem
ultimamente.
Um homem muito
diferente
daquele homem
estranho
que começou a escrever
esse poema.

A arma cai no chão
e junto
vai meu coração.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Não deixe seu filho crescer sem aprender sobre tênis e raquetes

Ela sentou do
meu lado
e sorriu um pouco.
Sorriu e não
pude identificar se
era bonita
ou linda
ou feia
porque seus olhos
tomavam conta de tudo que eu via.
Duas esferas de fogo
congelado.
Duas esferas
que combinavam com seu coração.
Com a maioria
dos corações.

Me sentia meio deprimido
na época.
Como quando era criança
cortando a coxa com um
estilete enferrujado
sentido o sangue
grudar na bermuda.
Acreditando quando
diziam
que era louco
psicopata
e devia ir embora
de qualquer cidade
de qualquer maneira.
Sentia que precisava de uma bebida
para escapar daquilo tudo
sem escapatória.
A bebida que nunca me escapou
em nenhum momento.
Mordi o canto da bochecha
até sentir um pouco
de sangue
porque tudo que sangra e morre
e vive
tem alguma chance
e eu
precisava de alguma
chance
algum dia.
Sabia que não tinha
uma arma
guardada em
casa.
Mas sabia onde conseguir
e sempre se pode
dar um tiro
na cabeça e acabar com isso
tudo.

Não tenho
coragem
não tenho
nada.
Não sei o
que
dizer.

Ela estica a mão
e puxa meu cinzeiro
e nós conversamos.
Meu deus, eu nunca
acredito
quando isso acontece.
Nós conversamos.
E eu precisava me lembrar
quem eu era
e o que queria
de cinco
em cinco
minutos.
E ela era maluca
tanto quanto eu
deliberadamente me machucando
e eu me sentindo
bem
com aquilo
tudo.
Me sentindo bem
com a condição
que impus para
mim.
Ou que impuseram.

E o tempo
rolava para
debaixo do sofá
como poeira varrida.
E a gente ria,
é
a gente até ria
e ele segurava a minha perna
porque eu era engraçado
e original.
Porque eu não me importava.

Levantou e foi
caminhando ao banheiro.
E parecia tão certo
o jeito que ela andava
e quando ela pisava
era um ponto de
exclamação que se formava
das verdades que eu
nunca escutei.
Meu deus, eu tenho sorte!
Meu deus, talvez eu não tenha
tantos problemas assim
e possa permanecer
sentado
nessa cidade
cuidando da minha vida!
Meu deus, desculpa pelas minúsculas
mas as maiúsculas reservo
para quando
eu tenho certeza
reservo para
Ela.

E eu vejo Ela saindo
e Ela carrega pel0 braço
um homem
sem rosto e de nariz comprido
e acena
com a cabeça para mim
enquanto
passa pela porta
e o vento da rua
envolve ela
e ele
para outro lugar.

Eu não consigo deixar de
sorrir
aos deuses,
pensando que talvez
as maiúsculas
tivessem feito alguma diferença.
Pensando que
se pode perder
alguns sets,
talvez até um game.
Mas o que importa
é o match point.

E quando me dou conta disso,
me dou conta
que nunca joguei
ou entendi
tênis.
E que talvez
esse seja o meu
problema.

É, com certeza,
esse é o meu problema.