quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Praga

Fazia algum tempo que eu andava sozinho
era Praga
e eu tomava cerveja e subia o morro
para olhar a cidade de cima.
Voltei para o albergue, no fim da tarde
e só pensava na minha cerveja
e talvez um uísque,
fumava sem parar.
Até que ela entrou
cheia de mala
e ele estava de verde -
eu sempre me apaixono pelo verde.
O jeito de falar era
conhecido
era brasileira.
Eu queria ela pra mim
eu queria alguém
mas queria ela um pouco mais.
Eu disse alguma besteira.
"brasileira, é?"
Ela sorriu, para minha surpresa
ela sorriu!
"vamos beber alguma coisa",
ela disse.
Era Praga e era tudo diferente
da Praga de ontem.
A gente bebeu, de bar
em bar.
E ela bebia bem, bebia com o coração.
Então, em cima de um ponte
ela disse que Praga
era mais romântica que Paris.
Eu concordei, peguei ela pelos braços
e a minha boca colou na dela
e a dela na minha.
As nossas línguas se tocaram,
e era aquilo que devia ser.
Era Praga
e eu ficaria mais um dia por ali.
Até ela ir embora
e eu ir embora
e a gente continuaria assim, para sempre
embora.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

O sol não se põe, ele perde.

É raro quando eu durmo antes
das 5 da manhã.
E em alguns desses dias
eu, simplesmente,
não faço nada.
Só fico ali, sentado
olhando o nada.
Fumo cigarros,
às vezes, muitos
cigarros.
Encaro a parede.
Penso. Me apaixono duas,
três
vezes.
Me apaixono por imagens que eu crio
na minha cabeça
e é tudo projetado naquela parede azul
um filme lindo
saindo, como raios, dos meus
olhos.
Quase choro,
engulo tudo.
Às vezes,
quando tem algo pra beber
eu bebo alguma coisa.
Ou fumo alguma coisa.
Olho para a TV.
E imagino minha vida
naquele quadrado
com aquelas pessoas
e eu rio de mim mesmo
chuto a vida para longe
tirando o goleiro
da jogada.
Bato uma punheta.
Deito
sentindo o vento do ventilador
e fecho os olhos
e não tenho a intenção de dormir.
Quero voar
sentindo a o chão se aproximar
indo cada vez mais rápido
e mais rápido
e não vôo mais,
eu caio
e o chão é logo ali
e eu reconheço aquelas pessoas
e
SOCORRO
eu abro os olhos
e não contenho minha risada.
Levanto.
Caminho de um lado para o outro
no corredor pequeno
entre a cama e o armário.
Ando em circulos.
E falo, um pouco sozinho
até alguém aparecer a minha frente.
E sempre é alguem conhecido.
Eu abraço. Beijo.
Sinto saudade,
quase sempre
eu sinto saudade.
E a gente conversa um pouco.
Fumamos um cigarro.
Alguns trazem sua própria bebida.
Então eu volto a estar sozinho
e é quase manhã, então
eu abro a janela e me sento
com as pernas para fora
e os pássaros cantam,
cantam um samba
um samba triste
é, normalmente, é
sobre algum carnaval.
Aprendo rápido a letra
e canto com eles.
Fumo um cigarro.
Me livro dele
jogando para cima,
mas ele quer mais que acabar ele
cria asas, assim, de repente
e voa
por cima do morro
vejo a sua chama acesa
no horizonte.
E quando ele some
eu sei que é hora de ir.
Me deito.
E vou afundando
devagar
para o fundo da cama
e a cama me abraça e me proteje.
Enquanto o Sol
lá fora
vomita tudo de ruim que o dia espera.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

A placa

Ela tinha dois olhos

e uma boca,

como

quase

todo mundo.

Só que a sua boca foi

desenhada por anjos

em 22 dias.

E seus olhos tinham

a cor

que o mundo

deveria ter.

E eu ouvia

da sua boca

"meu amigo..."

quase sempre.



Eu não tinha muito

o que oferecer.

Não tinha nada,

na verdade.

Eu me sentia bem,

me sentia querido.

Então, sem pensar,

eu ofereci meu coração.

E aqueles olhos

e aquela

boca

quiseram o que eu tinha.

E assim

minha boca

acanhada

pelo trabalho de anjos

tocou a dela.

E meus olhos,

que sempre foram sofrimento,

olharam toda a água

de todos os mares e

de todos os rios

que eram

os olhos dela.

Minha língua entrou

entrou

na boca dela

e a dela na minha.

Eu sorri

com todas as partes do corpo

que podem sorrir.

E aquelas palavras

"meu amigo..."

já não faziam tanto sentido.

Eu era o que pensava que

deveria ser.

Eu tinha tudo naqueles olhos

naquela boca.

A paz era minha,

o amor era meu.



E como tudo que é

noite

um dia amanhece.

E com o Sol

a vida vai embora.

Só que o medo

não foi junto.

O amor ficou!

Eu sempre acreditei nisso

no amor e na verdade.

E não via nada além disso.



O Sol se pondo

fez meu coração acelerar

dizendo que tudo era como a

noite

como devia ser.

Os anjos que esculpiram

aquela

boca

me cercaram

e fizeram uma orgia

a minha volta.

Eu queria aquilo.

Eu queria aqueles olhos só

meus.

Eu queria aquele corpo

contra o meu.

Eu queria aquelas palavras

"meu amigo"

se dissipando

em orgasmos.



Eu queria...

Eu queria...

Eu queria que nada tivesse

acontecido

eu não queria aquela noite

não queria a manhã.

Eu queria aquele

canto escuro

onde eu nunca fui nada

e onde eu nunca sofri

e que, na porta, havia

uma placa

dizendo:

Não entre.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

O quarto

Eu estava deitado
na minha cama
lendo alguma coisa.
E ela do meu lado, olhando TV
algum programa ridículo, como
sempre.
E parecia bom assim,
eu me sentia bem.
Ela botou a mão no meu peito
fez um carinho no meu rosto
e se virou devagar
olhando nos meus olhos.
Faz um sanduíche,
ela disse.
Deixa eu terminar o capítulo,
respondi.
Se tu me amasse tu faria agora,
quem ama faz as coisas para a outra
pessoa,
tu não me ama?,
ela perguntou.
Aquilo não fazia sentido para mim.
Disse que amor não era aquilo
que o amor era se
sentir bem, era querer estar
era permanecer.
E eu não tinha muita
idéia do que eu estava
dizendo.
Mas sabia,
naquele minuto,
que não havia
amor
naquele quarto.

sábado, 26 de setembro de 2009

A minha cabeça - que nunca serviu para nada

De cabeça para baixo
eu vi tudo acabar
sem olhar eu sabia
que não havia medo o suficiente
naquele lugar
não havia paz
e tudo era só uma
pequena ilusão
do que um dia a gente
seria.
De cabeça para baixo
eu passei dias
cheios de fogo
e chuvas
e de tempestades
rezando
por um pouco de sanidade
meu Deus, um pouco de sanidade,
por favor.
De cabeça para baixo
eu derramei lágrimas
felizes no chão
férteis
que fizeram nascer
novas e desconhecidas
plantas
de amor, plantas de
felicidade.
De cabeça para baixo
a vida passou por mim
e eu passei despercebido
pela maioria, e
não poderia querer de outro
jeito.
De cabeça para baixo
eu amei
e amei e amei
tudo que eu podia
e me entreguei a todos esses
pequenos amores
que nasceram e morreram
dentro de mim.
De cabeça para baixo
eu abracei toda a felicidade
e toda a tristeza
que meus braços puderam
alcançar.
De cabeça para baixo
meio assim
sem querer
sem tentar
eu pensei
que a cabeça para baixo
era só algo
da minha cabeça
talvez.

domingo, 20 de setembro de 2009

Reflexo

Hoje eu me olhei no espelho
depois de três anos.
E eu vi uma faca
cravada
no meu peito.
Nunca tinha notado
aquilo
nem sentido dor.
Sentei no sofá
pensando no que fazer.
O telefone tocou.
"Oi, Rafael?",
uma voz feminina
perguntou.
"Sim"
Teve um silêncio
na linha.
Então,
"Só te liguei pra dizer
que eu não te amo,
e nunca amei"
Ela desligou.
Eu peguei o cabo
da faca
e mexi de um lado pra
outro.
Não tive dor
nem remorso
nem medo.
E tirei ela de lá.
Fez um buraco grande
mais ou menos
um palmo.
Botei a faca numa mesa
e voltei para o banheiro.
Parei na frente do espelho
e tinha um homem lá dentro
do tamanho de um pilha
com pernas e braços e cabeça.
Ele corria de um lado para
o outro.
E xingava
e gritava.
Até que ele me olhou
e parou
de frente para mim.
Nós eramos iguais
ele e eu.
Ele sorriu.
Levantou a mão e disse que
nunca mais queria me ver.
Eu também não queria ver ele.
Eu não gostava dele, tão pouco
ele de mim.
A gente se odiava.
Eu peguei uma agulha e uma linha
costurei meu peito
e decidi pôr todos os espelhos da casa
fora.

A troca

Ela tinha dois olhos
uma boca
um nariz
e dois peitos redondos
que levantavam a blusa para
o céu.
Ela bebia e fumava, e ela tinha
um jeito
lindo de fazer isso
ela tinha classe.
Ela dançava sem dançar
e ela tinha isso
como uma arte
e ela fazia de tudo
uma arte.
Ela tinha unhas vermelhas
e tinha olhos verdes
e aqueles olhos tinham luz
e aquela luz era dela.
E ela estava na minha frente
e ela tinha todo meu ódio
porque ela tinha tudo
e eu não tinha nada pra dar
em troca.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Brindes, desejos e lágrimas

São algumas coisas,
pequenas coisas, que fazem
tudo mudar.
É descobrir que um
amigo, distante, mas que
por vezes
foi proximo
morreu.
E a gente morre um pouco com ele.
A gente morre
cada dia
um pouquinho.
O grande Buk já disse
são as pequenas coisas
na vida
que deixam um homem
louco.
E a cada dia que eu morro
um pouquinho então
eu caminho
um passo a mais
em direção da loucura.
E eu tenho essa
obrigação de viver.
E eu não tenho
muita vontade, às vezes.
E a casa me parece mais confortável
e o silêncio me agrada.
Então eu deu um gole
em homenagem àqueles que
passaram por aqui.
Que passaram por mim.
Um brinde.
Para aqueles que me mataram
um pouquinho, que me ensinaram a viver.
Um brinde, de novo, pra todas aquelas
mulheres -meninas-
que me deixaram cicatrizes
de dor e de felicidade.
Eu bebo à isso.
Eu bebo à vocês.
Eu bebo àquele que
se foi, dizendo que
eu posso ir também e que
todo mundo pode.
Então tudo é cercado
desse verde e preto e azul
e sempre tem muita fumaça
e vocês podem sentir
que o medo está espalhado por aqui.
Isso é bom, é bom ter medo
é bom perder, é bom ganhar.
E, cada dia que passa, mesmo com toda a
tristeza que eu sempre carreguei em mim,
eu sinto essa vontade crescer
dentro de mim.
Eu quero viver. Eu quero conhecer
tudo isso que se tem
pra conhecer.
Eu quero chorar em todas as
partes;
na felicidade, na tristeza,
eu quero rir.
Eu quero um amor para sempre,
não me importa o quanto ele
dure.
Eu quero sentir essa coisa queimando dentro de mim.
Eu quero ter poderes.
Uma mulher já disse
que eu tinha.
Eu quero encantar e ser
encantado.
Eu quero ser ridículo
e, até, dançar.
E tomar chuva.
Eu quero ser uma criança.
Um velho. Um mendigo bem sucedido.
Eu quero aprender
como as pessoas
e com seus medos
e suas vontades
e sofrimentos.
E a decepção é
algo presente
todos os momentos,
mas eu quero aprender
a levantar e sorrir
com as lágrimas.
Eu quero ser forte.
E, mesmo não parecendo,
eu quero ser forte pra viver,
porque já passei a vida
inteira
muito forte pra morrer.

Chamada Internacional

Era uma segunda-feira
e, naquela época, eu adorava
esse dia.
E eu estava sozinho. E
eu estava em Londres,
longe de tudo.
O telefone tocou.
Era ela, e era a felicadade que
vinha nas costas dela.
Internacional, ela deve se importar,
pensei.
E só de escutar aquela voz,
e aquele som puxado
"raaaaaaafa"
eu tinha tudo, e me sentei na escada
de uma casa
que não era minha e
fui feliz. Pela primeira vez,
naquela casa eu fui feliz.
Eu acendi um cigarro, e relembrei
de quando ela disse
"parece a praia aqui contigo"
e ela estava quase dormindo
no seu apartamento, no centro
com o ar condicionado ligado.
E eu ri, e ela riu comigo.
E eu só era feliz e nada
mais.
Mas é ai que o perigo mora,
meu amigo.
As mulheres têm esse jeito
de falar e fazer
que é só um jeito antecipado
de elas
te matarem.
E sempre é bom, meu Deus,
sempre é bom.
E eu vi aquilo acontecendo.
A voz mudou, a escada,
o telefone, meu cigarro, tudo
mudou.
"Tu deveria se amar, sabia?", ela disse.
Mais uma dessas?, pensei.
"Eu tava sempre tentando te fazer
sentir melhor contigo mesmo."
Oh, que merda.
"Eu não posso suportar essa pressão. Eu
NÃO sou tua mãe."
Graças a Deus.
"Eu não sou o homem do relacionamento."
Eu acendi outro cigarro
e perguntei:
Que porra é essa que tu está
falando?
Tava tudo bem, cinco minutos
atrás!
Fui até meu quarto
servi um pouco de uísque
e voltei pra minha escada
enquanto ela falava sozinha.
Quer dizer, recomecei, eu nunca te pedi
nada.
Nunca pedi pra tu me fazer sentir melhor.
- eu era bom -
Eu gosto do jeito que eu sou.
Não me importo
se não tiro fotos
e odeio espelhos.
- eu era ótimo -
E não sei de que relacionamento
tu está falando.
- ela estava na minha mão -
"Tu nunca vai amar ninguém
se tu não te amar primeiro.", ela disse
com uma voz murcha.
hahaha, eu ri
para mim.
Eu? Eu que sempre
me apaixono, eu que amo tanto.
Ela só pode estar brincando, eu pensava.
Então
ela desligou.
E isso faz 6
meses.
Nunca mais ligou
de novo.
E eu não amo ninguém
faz 6 meses,
agora.
Merda.

The whole sitting and waiting thing

You can see them.
Wherever you are
you can see them.
Helpless in the
streets.
And their sacks
full with their lifes.
And they'll go
nowhere.
It's their faith
to be there
sitting under a tree
rolling a cigarete.
I can see them
I
even
can see beuty in there.
In those lonely heart
full of madness.
You might think they gave
up.
That they're fools
waiting for death.
I can hear them
too.
I can hear their silence.
And it's the most beautiful
silence ever heard.
It's jazz
It has its own
harmony.
You thought wrong.
They're waiting for
life,
but life gave up
on them.
So people walk by.
And they don't
listen or
hear a thing.
But I do, oh, yeah
I do.
'Cos I'm sitting
there now
and then.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

é

Não tinha nada ali
era tudo só luz e
brilho e
tinha saudade
ali.
Tinha muita saudade
espalhada por
tudo.
Era um ser
e não ser.
Mas, ah,
era realidade,
era mesmo
realidade.
Era uma paixão nascendo.
Era um medo morrendo.
Era um
para-sempre
definhando.
Era um
e
já foi.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

About sun and water

I remember when I
was a little boy
and I used to sit there
in front of my window
looking outside at that beautiful
landscape.
I was about 7
or 8
and I'd watch
that sunset
every late afternoon
with the smell
of fresh beans coming
from downstairs.
So I'd feel this great peace
coming to my soul.
And as I grew older I stayed there
- not in the window -
but in the park benches
in front of the lake,
fulling my heart with booze
or madness,
hanging out with bums
like a bum.
But - from time to time -
I$'d remember
that window
and that sun
and that smell.
So I'd forget
the pot, booze
madness,
pain, love
women,
unlove, work,
classes fucking everything
all around me.

That lake
- I know -
is filthy,
as filthy as it goes,
but I drank
its water
my whole
life.
I still can feel
it.
That hot water
with that wonderful
sun
sitting
there.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Meu pau e a janela

Eu vejo o dia
amanhecer
pela janela do
meu quarto.
As casas de luzes apagadas
e, pelo menos,
mil pessoas dormindo.
Com seus paus
moles.
Enquanto eu
mantenho
o meu duro.
O ônibus
faz seu trabalho
e não tem ninguém
para trabalhar
no meu
pau.

Aos 40

Deitado numa cama, com
tocos de cigarro
enchendo
um cinzeiro
vermelho e
brega.
Uma mulher ao
lado -
uma mulher
sem
nome -
e eu estou
morto.
Então
nos jornais:
"Ilustre poeta que
nunca foi lido
morre."
E irão publicar
uma cópia
deste poema -
escrito aos 20
anos, e sem esperança -
dizendo que eu
sabia das coisas.
Dizendo que eu
falava a verdade.

E alguns críticos
irão se interessar
pelo meu trabalho
e
talvez
eu ganhe uma
biografia
cheia de erros -
meus erros.
E as editoras
irão fazer
algum dinheiro
com isso
enquanto eu fiquei sem
nada,
como Vincent,
mas mantive minha orelha, apesar
de ter desistido
da sanidade -
mesmo aos 20.

E o tempo vai
passar e meus poemas
irão passar e as
pessoas irão notar
que eu não era
realmente
bom.

E eu vou ter acertado
em cheio
novamente
o futuro.
Mas não
espero
elogios e
reconhecimento dessa
vez.

Enquanto meu pau
apodrece e faz
meia duzia de mulheres infelizes
a minha genialidade
volta
ao normal -
a não existir.