segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Momento feliz 3

O sutiã abrindo
com uma mão
fácil,
um botão
que se solta
como quem quer
se abrir.
Um suspiro
um gemido.
E um pau duro
que é
nada mais
que a comprovação
de que tudo
é
exatamente
o que devia ser.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Sobre carnaval e postes-de-luz

Era carnaval e era Santa
Catarina.
Era uma festa e era um lugar
de gente
bonita
de gente
com dinheiro
de gente
que precisa de carnaval.
Eu caminhava por entre
as pessoas
e não via muita vida nos olhos
delas
e elas eram hostis,
sempre quem tem tudo é
hostil com quem não tem
nada.
As mulheres eram lindas
e arrumadas
e ninguém ficava bêbado de verdade
eles só eram um pouco mais
felizes.
As mulheres não tinham nada
o que eu quisesse
talvez o corpo
eu entraria nelas
eu comeria elas
mas eu não me apaixonaria
por nenhuma;
não valia a pena tentar.
Eram postes-de-luz
que erguiam o nariz e faziam
cara feia
para todo mundo.
Por que um poste-de-luz
levantaria o nariz?
Por que um poste-de-luz
se acharia melhor
que um poste qualquer?

Bem, era carnaval
e eu não queria estar ali,
um sangue ácido corria
por mim
e me fazia sentir bem
e rir e gargalhar.
Eu queria gritar.
Era carnaval
e o carnaval é para as pessoas
que precisam do carnaval.
Ali nasce um amor
que morre com a luz do dia.
Os postes-de-luz precisam disso.
Eles precisam do carnaval
para se libertarem.
É uma desculpa.
Nós não
nós não precisamos
de carnaval
nós somos
ele.

E eu ri pensando
nisso,
meu Deus, eu ri
ajoelhado no chão.
Dançando e pulando na areia.
Cantando.
Pedindo samba,
amor e que eu sumisse
dali.
Era carnaval, e se não fosse
seria qualquer dia
com amor e sexo
como qualquer carnaval.

E para que os postes-de-luz
vivam mais um ano,
eles precisam saber que em fevereiro
tem carnaval
e que eles podem ser e sentir como
eu sou e sinto o ano todo.
Eles podem ser livres deles
mesmos.
Livres da sociedade.
Tem carnaval, postes-de-luz,
todo dia, eu mostro onde
eu mostro como,
mas, por favor,
abaixem essa porra
de nariz
em primeiro lugar.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Momento feliz 2

Dizer sim e não
ou não dizer nada
sorrir
gritar, gozar
amar
pensar na vida
com uma brincadeira
como amarelinha
sem rodar como o pião
ser sem sentido.
Não precisar fazer sentido.