domingo, 31 de agosto de 2008

Tentando me esconder de mim mesmo num bar cheio de pessoas sem alma e eu continuo sem mostrar a minha para tentar não parecer tão ridículo como sou.

Eu estava lá
só isso, nada mais,
parado no meu canto
eu e minha solidão e tristeza
temperando tudo com uma cerveja
absurdamente
cara.
E tinha agumas mulheres perto de mim
da minha mesa e dos meus cigarros.
E elas eram iguas, jeans
e jaquetas pretas, loiras e bonitas
e comuns.
Elas bebiam champanhe. Elas riam.
Eu não queria champanhe. Não tinha motivo algum
para comemorar. Precisava de uísque, uma bebida
forte e seca. Uma bebida que me faça
sentir que eu ainda vivo. Mas
não tinha motivo pra viver.
Mas eu
estava vivendo mesmo assim. Mesmo assim eu
era invisível.
Será que alguém invisível existe?
Bem, eu estava lá.
E era tudo que eu precisava fazer
pra me sentir
miserável
patético e sozinho.
Eu consigo estragar tudo
mesmo parado
com minha cerveja e minha cara patética.
Eu sou bom,
muito bom nisso.
Pelo menos.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

A Blusa e o Azul.

Não era dia
nem noite
nem nada.
Não era
eu,
não sei se cheguei a estar em algum
lugar.
Nada.
Não era ela
que vinha e se
aproximava.
Não tinha garrafa nenhuma
nem cigarros
nem cinzeiros.
E a cerveja,
que não estava no copo
descia escorrengando
pela minha garganta
que não existia e não
estava lá.
E aquela boca
aqueles lábios molhados,
naquele movimento lascivo,
não me beijou
e não havia nada para
ser beijado.
E, então, sem ser nada
estava sentado na minha cama
que nunca esteve alí.
E ela não sentou no meu colo
não me beijou
não me fez feliz.
Eu não estava lá.

E ela nunca tirou a blusa azul
sentada no meu colo
de frente pra mim.
Nunca me beijou com
aquela
blusa
azul
saindo de sua cabeça.
E meu rosto não pôde se abaixar
e morder
e lamber
tudo que a blusa azul
sempre escondeu.
E minha língua nunca
percorreu aquela área que saía
por de toda a blusa,
azul ou não.

E ela nunca mordeu minha orelha,
e nunca ouvi sussuro nenhum dela
grudada em mim.

Eu não estava lá,
ela também não
nada.

Mas, a blusa azul
vivenciou
cada minuto.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

A garrafa.

Você está sentando
numa praia
e o sol não te deixar ver
mais do que dois metros a
sua frente.
E o vento carrega você pro
lado.
E grãos de areia voam com
o vento. E seu cabelo também
voa
imóvel.
E os grãos começam a se transformar
e você vê pedaços enormes de areia
vindo em sua direção.
Blocos do tamanho de um cachorro.
E não consegue desviar.
E eles batem na sua cara
e se transformam em milhões
de grãos minúsculos.
E você fica alí
parado.
E a cada placa de areia que te acerta
você toma mais
um gole
de sua bebida favorita.
E você pensa.
"Como tudo foi acabar
assim?"
Mas você não quer sair,
você pode aguentar.
Você quer provar
que consegue.
E você não vê mais ninguém a sua volta
e, na verdade, nem sabe se
um dia
chegou a ver.
E você deita
e descansa
e o vento diminui.
Uma brisa te faz adormecer.
E você nunca mais acordou.

E, depois de muitos anos,
uma civilização
acha um corpo.
E esse corpo é você.
E eles não dão bola ao grande homem
que você foi, não mesmo!
Eles estão mais interessados
na garrafa de sua
bebida favorita.
Que sobreviveu,
intacta.
Como a bebida
amarga e
forte
que ela é.