domingo, 27 de fevereiro de 2011

Eu sou um poeta e

sobre tudo que se tem
a dizer
se pode dizer
realmente
muito pouco.
Eu não existo
de verdade
sou uma imagem refletida
por olhos brilhantes
em um muro cheio de riscos.
Pedaços de papel picado
espalhados pelo chão.
Pedaços de mim
picado
espalhados sobre teu sangue e coração.
A vida é curta
mas grito
loooooooooonga espera e
o tempo voa como se eu não ouvisse.
Falta muito para morrer
eu digo, amigo,
e falta tanto pra viver
que a dor às vezes faz lágrimas brilharem geladas nas minhas bochechas
levantadas para cima rindo do seu sorriso.
Dou um tiro para o alto
e espero a bala cair silenciosamente sobre minha cabeça.
Elefantes amarrados por barbantes
voam
como balões de hélio.
E eu não entendo nada sobre hélio ou elefantes
a não ser
que todos ficam com um ar sereno
apoiados na grade
sob o Sol.
Eu grito poesia
e grito que o poder está no pau
enquanto tenho medo do meu.
Medo do que ele traz
do definitivo
do que eu crio como definitivo
da ânsia de vômito com pernas
e vestidos verdes.
E já não sei bem
em qual linha eu estou
com a cabeça apoiada sobre a mesa
eu sou um poeta
e minha alma não vale de nada.
Eu sou um poeta e minh'alma
bóia numa piscina de merda
que eu mesmo criei.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Ah, esses adoráveis intelectuais

eu estava sentado
cuidando da minha vida
quando ele chegou e disse:

é uma pena, você se considera
um poeta
não tem estrutura e não se preocupacom a forma.
Aperta
enter
e diz que é poesia.

o problema é que ela
tem olhos
que me paralizam.
eles brilham me
deixando
rídiculo
opaco do lado de fora
da casa, respondo.

poesia é exaltação
é beleza
e você só reclama sobre a
sua vida
que ninguém está
interessado. e eu
lhe pergunto:
isso é poesia?

não sei, respondo,
e quando ela
tira a roupa
e age como estivesse
brincando de boneca
rindo
me fazendo rir
zombando de todos os deuses
e dos mistérios do centro da Terra
eu sei
tenho que
gritar sobre isso.
e, sim, eu sou burro,
mas li o o'hara,
e o que mais se pode fazer?

você pode estudar,
ele diz rindo,
pode começar lendo os
clássicos.
ouvi dizer que você acha
sheakespeare chato.
camões uma perda
de tempo.
e olavo bilac
um retardado
com tempo de sobra.

o que eu posso fazer
se estou deitado na minha cama
e é domingo de tarde
e não me preocupo com nada
a não ser
respirar
pelas próximas 5 horas?, pergunto.
e eu olho para a minha escrivaninha
e vejo um livro
de poesia
que é simples
e diz MUITO com ALGUMAS palavras
e elas são fáceis
deslizando pelas páginas
e são confortantes
quando precisam ser
e te revoltam o estômago
no momento certo
e são como espinhos cheios de veneno
cheios de mulheres
cheios de vinho
cheios do cheiro de perdra molhada pela chuva de verão às 17h de um dia cizento que chamam de terça-feira
e nem o dia, nem o tempo, nem o nome
muito menos a pedra ou a chuva
importam
a não ser o cheiro e tudo
que aquele cheiro traz
porque o velho feio sujo safado
que escreveu e se dizia poeta
sentia de verdade aquilo tudo
e não escrevia porque devia
mas porque precisava.

eu achava que era só nas tuas poesias que tu não
fazia sentido, ele diz
com seus pequenos olhos cheios de
conhecimento
se fechando em reprovação e
em falta de compreensão
das coisas simples que eu dizia.

espera que eu estou chegando lá,
tentei acalmá-lo mentindo, pensando:
hahaha, como eu adoro
esses intelectuais virgens.

e do lado do livro, continuo,
tem uma carteira de cigarros deitada
com a tampa aberta
e eu ignoro aquilo por algum
tempo.
mas
de repente
eu olho para ela
e eu vejo que está escrito HORROR
na parte de trás da tampa do cigarro deitado.
então eu lembro das figuras do ministério da saúde
e não consigo relacionar a figura certa com o HORROR.
mas eu lembro de lourenço mutarelli por um tempo
e penso em ciganos
e cartas que revelam a sorte e o futuro
e penso numa mulher
com olhos malucos explodindo para fora do rosto
correndo pelada com os cabelos pegando fogo.
mas o mais importante
é que eu esqueço disso tudo
em 2 minutos
e lembro que a carteira está vazia
e que eu preciso de um cigarro
com HORROR
ou sem.

você está simplesmente
falando
sem dizer nada, ele fala e
ri de mim.

talvez sim, comento,
mas eu tenho medo que algum dia
eu perca tudo isso
e veja tudo
numa ordem certa
descrita com perfeição.
palavras e mais palavras
para dizer o mesmo que uma linha.
tenho medo
que o livro seja só o livro
e cigarro esteja vazio desde o início.
e tenho medo
que ELA seja uma só
e que ELA precise de nomes diferentes
ou de olhos diferentes
toda vez
e esqueça DELA.
tenho medo de não reparar na risada quando estiver de pau duro.
tenho medo de ter medo de escrever pau duro.
medo de ter que escrever
parar e pensar e TER que escrever.
prefiro uma visita irregular
um abraço cheio de saudade
e lágrimas no ombro -
prefiro a necessidade.
prefiro poder esquecer das maiúsculas só para deixar vocês putos
fechando seus cus intelectuais de ódio.
e, como você sabe,
é muito difícil fazer muito sentido
quando se escreve com o pau
pelado balançando na frente do teclado.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Eu já dormi em lugares estranhos, meu bem

Eu olhei em seus
olhos e disse que estava
tudo acabado.
Eu era um herói.
Um herói como Hemingway
jogando sangue cérebro ossos
tudo contra a parede.
Talvez não tão
dramático
talvez não
tão final
talvez
nada parecido com Hemingway
se dando um tiro na cabeça.
Somente um ato heróico
e parecido comigo
mesmo
explodindo a parte escura
dos meus olhos.

Eu penso em ti,
eu comecei,
e dói pensar em ti.
E, às vezes, eu
sei,
é uma dor boa
um conforto
um calor
mamadeira quente
na cama
uma praia vazia
e há um pescador em cima de
uma pedra
jogando o anzol para além
do mar
e o pescador sou
eu
mesmo que nunca
tenha aprendido a pescar.

Talvez, tudo isso,
porque você é uma mulher,
continuei,
e como todas as mulheres
veneno na ponta
da faca.
Em pequenas garrafas coloridas
que não se pode deixar de beber.
Um veneno vermelho
pele branca
veneno vermelho
olhos de mel
e o cabelo é vermelho
e é amarelo
e é preto
e o cabelo é azul.

Não sei se existe mulheres
de cabelo azul.
Mas eu penso em mulheres
de acabelo azul.

Penso em santas, vagabundas
mulheres que amam e odeiam
e amam bem
e odeiam bem
da mesma maneira.

Mulheres definitivas.
E você
mulher definitiva.
Uma tatuagem
escondida pela camisa e gravata
enquanto eu tento
arrancar minha pele
arrancar
você
de mim
e jogar você
para longe
para outra pele.

Eu quero você
longe do meu
presente
que não existe
e explode agora
e agora e agora
e ali, ele
explodindo
na canto direito da
tela.

Você é uma casa velha
amarela
escrito
aluga-se
com letras
vermelhas.

Você é passado
e como passado
eu sinto
você
maravilhosa dentro de mim.
Algo quase esquecido.
Como uma dor
de garganta
que passa e
que não se sabe se foi inventada
ou se a dor
já foi real
algum dia.

E o futuro, terminei,
é uma bolha de sabão
voando em direção de uma
árvore cheia de espinhos.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Meu amor próprio

Bem,
eu não sou nada
bonito
mas de vez em
quando
tenho sorte e alguma
mulher aparece.

E ela aparece
e seu nome é
Sílvia.
E ela dá um passo
e o mundo inteiro
treme
e curva à sua frente.
Ela tem um jeito de sorrir
que causou as duas
guerras mundias.
Ela é a bomba atômica
com duas pernas
que são cobras
mas
estranhamente
se movem como pernas.
Badaladas do relógio velho
sexo
a cada passo
sexo e mais sexo.
E eu não sei me apaixonar
mas ela me tem.
Não sei dizer eu te
amo
mas os olhos
gritam tudo que meu coração
excreta
por ela.
Ela
deliberadamente
me machuca.
Some por
semanas
meses
e aparece
de braços abertos
iguais aos meus
que nunca se fecharam.
E ela goza com
outras pessoas
em outras ideias
enquanto eu
mudo de janela
e gozo nela.
Ela me machuca.

Já, Priscila
me olha como
se eu fosse bonito.
Deixa eu saber
que está lá
inteira
para mim.
E o sexo
é lindo,
mas penso em Sílvia.
E as brigas
são brigas boas
porque ele grita
que me quer.
Ela deixa eu saber
que está à um passo
de mim
e eu caminho vinte
para trás.
tenho medo.
Medo que Sílvia volte
e medo que eu não
esteja lá.

Agora
sozinho e do topo
da minha solidão
eu vejo
que sou apaixonado
por mim.
Pela ideia que criei
de mim.
Algo que não vale a pena
amar.
Algo descartável.
Algo.
E amando o que me
despreza
eu tenho um pouco
de amor próprio.
Uma punheta sem nunca
gozar.