tag:blogger.com,1999:blog-76434130696437518272024-03-08T15:16:27.255-08:00ExcreçõesPoesia sujaRafael Raffahttp://www.blogger.com/profile/04889781159934810828noreply@blogger.comBlogger130125tag:blogger.com,1999:blog-7643413069643751827.post-4416542005668259822013-09-02T18:30:00.004-07:002013-09-16T10:10:17.217-07:00sobre a poesiaI<br />
<br />
eu gosto é da simplicidade;<br />
do jeito fácil que as palavras<br />
descem pela pele<br />
e que quando o leitor atravessa<br />
derme e epiderme de frases<br />
morre e nasce outra vez sem perceber<br />
<br />
é como quando você se dá conta<br />
que agora coloca uma toalha para não arranhar a mesa<br />
e você nunca usou toalhas;<br />
e sabe, institivamente, que algo dentro de você mudou;<br />
você se sente maduro, diferente, um homem<br />
e ao sentir isso<br />
sente vergonha, ridículo, quem pensa assim?<br />
mas sorri ao ver as letras que brilham do olho<br />
<br />
II<br />
<br />
os poemas, a poesia, as mulheres<br />
mudam<br />
assim como você<br />
na exata proporção;<br />
e com o tempo<br />
e com as vezes que sorrimos<br />
com as vezes que cantamos<br />
com as vezes que choramos<br />
e nos deixamos abraçar<br />
os poemas, a poesia, as mulheres<br />
ficam melhores<br />
ou<br />
piores.<br />
<br />Rafael Raffahttp://www.blogger.com/profile/04889781159934810828noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-7643413069643751827.post-52982036187810742662013-07-15T22:30:00.000-07:002013-07-15T22:30:16.926-07:00o que eu quero não quero essa idolatria por estrelas mortas<br />
<div>
no céu e na terra</div>
<div>
essas palavras cheias de respostas</div>
<div>
esses rostos em todos os cantos</div>
<div>
essa imposição de soluções</div>
<div>
esse eterno discurso morto</div>
<div>
no céu e na terra</div>
<div>
que nós sem querer criamos</div>
<div>
e deixamos nos criar</div>
<div>
essa inversão entre poder e dever</div>
<div>
essa nossa eterna mania de se diminuir</div>
<div>
de ser pequeno para impor sentido -</div>
<div>
essa necessidade de algo maior.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
não, não quero palavras respostas</div>
<div>
prontas</div>
<div>
em pedras ou folhas amarelas;</div>
<div>
quero palavras caminhos</div>
<div>
de questões e olhos lindos</div>
<div>
percorrendo trilhas</div>
<div>
vivas e luminosas. </div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
Rafael Raffahttp://www.blogger.com/profile/04889781159934810828noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7643413069643751827.post-5946824368601405992013-04-24T15:49:00.000-07:002013-04-24T16:06:18.178-07:00eclipsevocê se apaixona pela luz<br />
e aos poucos<br />
ela diminui<br />
até tornar-se<br />
ausência<br />
<br />
a sala inteira se ilumina<br />
como com luz negra<br />
- a ausência -<br />
o ter algo na frente<br />
os raios que saem de lá<br />
<br />
a luz que transborda<br />
<br />
lhe ilumina e lhe cega<br />
dobrando seus joelhos<br />
e lhe pondo a rezar<br />
uma missa de miçangas e<br />
panos verdes<br />
e panos azuis e panos vermelhos<br />
e panos laranjas<br />
<br />
e tudo escorrendo pelo chão<br />
<br />
numa água colorida que<br />
abre caminho pelas rochas<br />
em você<br />
dentro de você<br />
rochas com gosto<br />
cheiro e textura<br />
de geléia<br />
<br />
você põe seus pés na areia<br />
abrindo espaço com os dedos<br />
e antes de chorar você ri<br />
como se nada mais<br />
importasse<br />
<br />
porque você está vivo<br />
e consegue<br />
rir das ondas do ar<br />
e da falta de sentido<br />
da luz<br />
da ausência<br />
do algo na frente<br />
<br />
você joga areia para cima<br />
mas decide não olhar<br />
apenas escuta o barulho<br />
de vidro se<br />
quebrando<br />
<br />
alguns olhos são piores<br />
que um eclipse.<br />
<br />
<br />
<br />
<br />Rafael Raffahttp://www.blogger.com/profile/04889781159934810828noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7643413069643751827.post-66186899631555391502013-02-20T16:43:00.001-08:002013-02-20T16:49:58.090-08:00as estrelas do Uruguai ela diz,<br />
vai em frente<br />
pula.<br />
e eu não sei o que há de errado<br />
comigo. eu quero<br />
todos os extremos.<br />
e me vejo só<br />
embaixo de um árvore<br />
soltando fumaça<br />
esperando os prédios cairem sobre<br />
mim.<br />
eu vejo o sol lá longe<br />
atrás do parque<br />
soltando fumaça<br />
esperando que a vida se levante<br />
diante dos meu olhos.<br />
um cordão de ouro descendo do céu. e<br />
eu me agarro nele<br />
soltando fumaça<br />
eu navego pela cidade<br />
paciente e silenciosamente<br />
esperando<br />
esperando<br />
<br />
esperando os extremos<br />
enquanto alguém assobia à sombra<br />
enquanto alguém beija<br />
enquanto alguém recua<br />
enquanto meu amigos continuam o mesmo assunto<br />
da primeira vez<br />
dez anos atrás<br />
enquanto a vida me possibilita extremos<br />
enquanto eu acredito que isso pode acabar<br />
enquanto o mundo gira<br />
enquanto eu amo e deixo de amar<br />
enquanto ela espera<br />
<br />
e me diz,<br />
acho que é hora de ir; boa noite.<br />
<br />
e eu explodo junto das estrelas do Uruguai;<br />
para cair<br />
fugaz<br />
e nasçer de novo<br />
ainda pensando ser o centro do Universo<br />
ainda pensando que nada acontece longe de mim<br />
ainda pensando nos extremos -<br />
eu explodo.<br />
<br />Rafael Raffahttp://www.blogger.com/profile/04889781159934810828noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7643413069643751827.post-22660860335844259352012-11-12T16:25:00.003-08:002012-11-16T10:11:09.329-08:00o peso do aro sinal muda do amarelo para o vermelho<br />
e eu paro numa encruzilhada -<br />
sempre numa encruzilhada<br />
eu paro e eu olho<br />
pela janela do carona.<br />
um carro se aproxima<br />
e freia um pouco antes de bater<br />
no outro carro, estacionado a sua frente.<br />
eu vejo um homem muito branco<br />
com o rosto meio azul iluminado pela<br />
luz do celular no seu colo<br />
balançar as mãos com raiva<br />
xingando e amaldiçoando o motorista<br />
do carro da frente que<br />
continua distante, exceto por<br />
ter respirado um pouco mais fundo com<br />
o barulho das rodas se segurando ao asfalto.<br />
e eu odeio aquele homem<br />
e eu odeio a sua gravata muito apertada no pescoço<br />
e seus dedos longos pendurados no fim de seus braços<br />
e seus olhos apertados contendo a mais feia das loucuras:<br />
uma loucura morta<br />
que busca o que está morto.<br />
e eu odeio aquele homem<br />
sem tentar entender a sua raiva<br />
sem motivo - apenas<br />
por algo que eu acredito<br />
e tento impor.<br />
<br />
e quando o sinal muda do vermelho para o verde<br />
eu acelero, realmente me sentindo muito mal<br />
como se eu não pudesse respirar<br />
como se o ar pesasse.<br />
eu dirijo com a sensação que nós dois<br />
(eu e o homem do carro ao lado)<br />
somos uma mínúscula parcela do que há<br />
de errado com essa quase insignificante<br />
civilização que flutua perdida dentro desse planeta<br />
que flutua perdido por uma imensidão escura<br />
de dúvidas<br />
de mistérios<br />
de falta de sentido<br />
de estrelas mortas e idolatradas.<br />
assim nós impomos sentido ao lado de fora<br />
porque o que mais tememos é que não haja nada lá fora.<br />
então damos vida às estrelas mortas<br />
e criamos motivos para matar<br />
e nos acorrentamos à bobagens à obrigações estúpidas<br />
e louvamos o sofrimento<br />
e buscamos redenção<br />
e esquecemos de achar graça<br />
enquanto enxertamos culpa em tudo que parece livre<br />
em tudo que parece sorrir.<br />
<br />
minhas costas doem tentando puxar o ar<br />
enquanto troco a marcha<br />
mas a janela do carona chama minha atenção<br />
novamente e com esforço eu viro o pescoço<br />
e olho para uma árvore quase marrom<br />
e olho para um calçada muito cinza<br />
e faço todo o caminho até dois sapatos<br />
pretos<br />
e subo para um vestido cheio de flores<br />
verdes<br />
e vejo os olhos daquela mulher<br />
que são como dois projetores de cinema<br />
emitindo uma luz quase azul quase cinza<br />
direto para uma parede vermelha.<br />
eu paro o carro no meio da avenida<br />
desço ignorando o resto da cidade<br />
e caminho até aquele muro<br />
e tento entender a cena projetada.<br />
uma navalha corta um olho de um boi<br />
e nós sabemos sobre isso tudo<br />
sobre o boi e sobre a navalha<br />
e ainda assim acreditamos<br />
humano<br />
e de alguma forma<br />
isso parece bom o suficiente<br />
e eu respiro melhor<br />
um ar com cor e cheiro de mel.<br />
<br />
então<br />
eu olho para aquela mulher<br />
ali parada e inofensiva feito um predador à espreita<br />
ela olha para mim<br />
projetando algumas imagens na minha<br />
camiseta branca -<br />
sempre imagens tão confusas,<br />
mas que são boas o bastante para lavar<br />
um bocado da culpa embora e fazer com que<br />
eu volte sorrindo para o carro.<br />
e como sempre eu<br />
acelero.<br />
<br />
<br />
<br />
<br />Rafael Raffahttp://www.blogger.com/profile/04889781159934810828noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-7643413069643751827.post-72902997953924907422012-10-23T14:32:00.001-07:002012-10-24T09:26:18.118-07:00o pedestre e a esquinaparado em uma esquina<br />
o carro em ponto morto<br />
eu vejo um homem de terno<br />
em um terreno baldio ao lado<br />
lutando para agarrar um<br />
quero-quero.<br />
ele corre de um lado para o outro.<br />
pula muito baixo, abre os braços<br />
como se fosse alcançá-lo<br />
e acaba caindo<br />
deixando as calças cairem da cintura<br />
um pouco.<br />
logo ele está de pé<br />
e corre para o outro lado do terreno<br />
atrás, ainda, do quero-quero.<br />
no meio do caminho<br />
a calça tranca suas pernas como uma pedra,<br />
ali, na metade do caminho,<br />
e ele cai mais uma vez.<br />
<br />
levanta-se, e sai caminhando devagar para a calçada<br />
ele ri e tem um pouco de trabalho com o cinto.<br />
<br />
então,<br />
eu escuto as buzinas<br />
milhares delas<br />
milhares de buzinas atrás de mim<br />
e olho para o carro ao meu lado,<br />
que também continua parado.<br />
<br />
um velho de óculos escuros<br />
e bigode sorri para mim.<br />
seu sorriso de 70 anos apenas<br />
parece dizer<br />
que loucura isso tudo.<br />
<br />
nós deixamos o homem de terno atravessar<br />
a rua<br />
ignorando as buzinas<br />
e as buzinas e as pessoas atrás das buzinas.<br />
e antes de arrancar,<br />
o velho abaixa o vidro e diz:<br />
o único homem sensato que eu vi hoje.<br />
<br />
eu concordo com a cabeça.<br />
ele dobra à direita<br />
e eu vou reto.<br />
as buzinas param<br />
as buzinas<br />
bem longe<br />
param<br />
<br />
porque<br />
às vezes<br />
é tão estranho o que<br />
une as<br />
pessoas.<br />
<br />Rafael Raffahttp://www.blogger.com/profile/04889781159934810828noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7643413069643751827.post-46833735891475255592012-10-21T19:24:00.001-07:002012-10-24T09:26:06.385-07:00cachorroé sempre início da madrugada quando eles come<em style="background-color: white; font-family: arial, sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: bold; line-height: 16px;">çam a latir.</em><br />
<em style="background-color: white; font-family: arial, sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: bold; line-height: 16px;">primeiro um cachorro despretensioso, ent</em><em style="background-color: white; font-family: arial, sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: bold; line-height: 16px;">ão outro o acompanha</em><br />
<em style="background-color: white; font-family: arial, sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: bold; line-height: 16px;">e em seguida mais um e outro e outro</em><br />
<em style="background-color: white; font-family: arial, sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: bold; line-height: 16px;">e logo </em><br />
<em style="background-color: white; font-family: arial, sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: bold; line-height: 16px;">s</em><em style="background-color: white; font-family: arial, sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: bold; line-height: 16px;">ão centenas de cachorros latindo.</em><br />
<em style="background-color: white; font-family: arial, sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: bold; line-height: 16px;">e eu olho para a rua pela minha janela, e n</em><em style="background-color: white; font-family: arial, sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: bold; line-height: 16px;">ão vejo nada. Nenhum</em><br />
<em style="background-color: white; font-family: arial, sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: bold; line-height: 16px;">cachorro. Mas os uivos e latidos me atingem como um tsunami</em><br />
<em style="background-color: white; font-family: arial, sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: bold; line-height: 16px;">de sons.</em><br />
<span style="font-family: arial, sans-serif; font-size: x-small;"><span style="line-height: 15.981481552124023px;"><b>e eu penso sobre isso.</b></span></span><br />
<span style="font-family: arial, sans-serif; font-size: x-small;"><span style="line-height: 15.981481552124023px;"><b><br /></b></span></span>
<br />
<em style="background-color: white; font-family: arial, sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: bold; line-height: 16px;">n</em><em style="background-color: white; font-family: arial, sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: bold; line-height: 16px;">ão acho que eles digam alguma coisa</em><br />
<em style="background-color: white; font-family: arial, sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: bold; line-height: 16px;">n</em><em style="background-color: white; font-family: arial, sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: bold; line-height: 16px;">ão imagino um cachorro comentando</em><br />
<em style="background-color: white; font-family: arial, sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: bold; line-height: 16px;">sobre a alta das </em><em style="background-color: white; font-family: arial, sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: bold; line-height: 16px;">ações</em><br />
<em style="background-color: white; font-family: arial, sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: bold; line-height: 16px;">ou sobre a brutalidade de todas nossas atividades cotidianas.</em><br />
<span style="font-family: arial, sans-serif; font-size: x-small;"><span style="line-height: 15.962963104248047px;"><b>acredito que os cachorros só la</b></span></span><b style="font-family: arial, sans-serif; font-size: small; line-height: 15.962963104248047px;">mentam</b><br />
<span style="font-family: arial, sans-serif; font-size: x-small;"><span style="line-height: 15.962963104248047px;"><b>gritam por contato</b></span></span><br />
<span style="font-family: arial, sans-serif; font-size: x-small;"><span style="line-height: 15.962963104248047px;"><b>uivos de mémorias e </b></span></span><em style="background-color: white; font-family: arial, sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: bold; line-height: 16px;">solidão</em><br />
<span style="font-family: arial, sans-serif; font-size: x-small;"><span style="line-height: 15.962963104248047px;"><b>querem pular uns sobre os outros</b></span></span><br />
<span style="font-family: arial, sans-serif; font-size: x-small;"><span style="line-height: 15.962963104248047px;"><b>quererem correr juntos</b></span></span><br />
<span style="font-family: arial, sans-serif; font-size: x-small;"><span style="line-height: 15.962963104248047px;"><b>cheirar outros rabos</b></span></span><br />
<span style="font-family: arial, sans-serif; font-size: x-small;"><span style="line-height: 15.962963104248047px;"><b>mijar em novos postes.</b></span></span><br />
<span style="font-family: arial, sans-serif; font-size: x-small;"><span style="line-height: 15.962963104248047px;"><b>eu penso sobre isso.</b></span></span><br />
<br />
e<br />
<span style="font-family: arial, sans-serif; font-size: x-small;"><span style="line-height: 15.962963104248047px;"><b>os latidos ficam cada vez mais altos.</b></span></span><br />
<span style="font-family: arial, sans-serif; font-size: x-small;"><span style="line-height: 15.962963104248047px;"><b>mais melancólicos. mais doces e suaves,</b></span></span><br />
<span style="font-family: arial, sans-serif; font-size: x-small;"><span style="line-height: 15.962963104248047px;"><b>como um homem que já </b></span></span><em style="background-color: white; font-family: arial, sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: bold; line-height: 16px;">n</em><em style="background-color: white; font-family: arial, sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: bold; line-height: 16px;">ão consegue</em><br />
<em style="background-color: white; font-family: arial, sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: bold; line-height: 16px;">chorar.</em><br />
<em style="background-color: white; font-family: arial, sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: bold; line-height: 16px;">e eu me sinto muito bem</em><br />
<em style="background-color: white; font-family: arial, sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: bold; line-height: 16px;">porque</em><br />
<em style="background-color: white; font-family: arial, sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: bold; line-height: 16px;">agora </em><br />
<em style="background-color: white; font-family: arial, sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: bold; line-height: 16px;">eu </em><em style="background-color: white; font-family: arial, sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: bold; line-height: 16px;">n</em><em style="background-color: white; font-family: arial, sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: bold; line-height: 16px;">ão consigo chorar:</em><br />
<em style="background-color: white; font-family: arial, sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: bold; line-height: 16px;">nem com todos esses latidos</em><br />
<em style="background-color: white; font-family: arial, sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: bold; line-height: 16px;">esse lamento </em><br />
<em style="background-color: white; font-family: arial, sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: bold; line-height: 16px;">essa impossibilidade de pular sobre as grades </em><br />
<em style="background-color: white; font-family: arial, sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: bold; line-height: 16px;">e correr.</em><br />
<em style="background-color: white; font-family: arial, sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: bold; line-height: 16px;"><br /></em>
<em style="background-color: white; font-family: arial, sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: bold; line-height: 16px;">um homem caminha para seu quintal</em>
<span style="font-family: arial, sans-serif; font-size: x-small;"><span style="line-height: 15.981481552124023px;"><b>e aponta uma arma para a cabe</b></span></span><em style="background-color: white; font-family: arial, sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: bold; line-height: 16px;">ça</em><br />
<em style="background-color: white; font-family: arial, sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: bold; line-height: 16px;">do primeiro cachorro a latir.</em><br />
<span style="font-family: arial, sans-serif; font-size: x-small;"><span style="line-height: 15.962963104248047px;"><b>o disparo é mais alto que todos os latidos.</b></span></span><br />
<em style="background-color: white; font-family: arial, sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: bold; line-height: 16px;">e e</em><em style="background-color: white; font-family: arial, sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: bold; line-height: 16px;">nt</em><em style="background-color: white; font-family: arial, sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: bold; line-height: 16px;">ão</em><br />
<em style="background-color: white; font-family: arial, sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: bold; line-height: 16px;">enquanto o homem volta para a cama</em><br />
<span style="font-family: arial, sans-serif; font-size: x-small;"><span style="line-height: 15.962963104248047px;"><b>o Morro inteiro fica quieto</b></span></span><br />
<span style="font-family: arial, sans-serif; font-size: x-small;"><span style="line-height: 15.962963104248047px;"><b>assombrado apenas pelo barulho dos pássaros -</b></span></span><br />
<span style="font-family: arial, sans-serif; font-size: x-small;"><span style="line-height: 15.962963104248047px;"><b>dos que podem voar.</b></span></span><br />
<span style="font-family: arial, sans-serif; font-size: x-small;"><span style="line-height: 15.962963104248047px;"><b><br /></b></span></span>
<span style="font-family: arial, sans-serif; font-size: x-small;"><span style="line-height: 15.962963104248047px;"><b>e os cachorros voltam para dentro de casa</b></span></span><br />
<span style="font-family: arial, sans-serif; font-size: x-small;"><span style="line-height: 15.962963104248047px;"><b>onde até o carinho de seus donos</b></span></span><br />
<span style="font-family: arial, sans-serif; font-size: x-small;"><span style="line-height: 15.962963104248047px;"><b>parece um bocado com </b></span></span><br />
<span style="font-family: arial, sans-serif; font-size: x-small;"><span style="line-height: 15.962963104248047px;"><b>trabalho.</b></span></span><br />
<em style="background-color: white; font-family: arial, sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: bold; line-height: 16px;"><br /></em>
<span style="font-family: arial, sans-serif; font-size: x-small;"><span style="line-height: 15.962963104248047px;"><b><br /></b></span></span>Rafael Raffahttp://www.blogger.com/profile/04889781159934810828noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7643413069643751827.post-65406318005606223902012-10-01T20:07:00.002-07:002012-10-09T16:25:54.252-07:00pazé sentir a lágrima escorrendo pelo rosto<br />
com o único objetivo de molhar o sorriso<br />
é a gargalhada impossível de segurar<br />
velhas dentro de elevadores<br />
o som da palavra emperrado; repetida incansavelmente<br />
todas as praças e seus malucos<br />
as ruas do Menino Deus com cheiro de feijão<br />
a zona sul de pequenas derrotas e vitórias<br />
<br />
é criar marcas<br />
<br />
é embalar para sentir o vento no rosto<br />
12 anos<br />
e o mesmo vento da primeira vez<br />
o vento que sopra a dor embora<br />
e lhe faz pular como uma criança<br />
se divertir como uma criança<br />
<br />
é o IAPI<br />
<br />
é conseguir ver aquele sorriso que ela dá<br />
daquele jeito que ela dá<br />
e não entender o sorriso<br />
e não entender o jeito<br />
apenas sentir as orelhas quentes e o estômago frio<br />
e algo dentro de você sabe que algo dentro de você<br />
mudou ao ser inundado por esse sorriso<br />
<br />
é o olho brilhando<br />
<br />
é saber que sempre é diferente<br />
em cada lugar; em cada minuto;<br />
e mesmo assim<br />
não impor sentido a isso<br />
apenas abraçar o que se quer viver<br />
e entender que sempre se pode rir no final<br />
<br />
é ter a certeza que nem todos os poemas acabam.<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />Rafael Raffahttp://www.blogger.com/profile/04889781159934810828noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7643413069643751827.post-69649995470846186012012-09-24T19:16:00.000-07:002012-09-24T19:20:35.268-07:00ChuvaFoi numa tarde quente de inverno<br />
- com um tom poético na própria<br />
descrição -<br />
que eu entendi<br />
pela primeira vez<br />
a expressão norte-americana blue.<br />
Meu olhar inocente<br />
encarando as paredes azuis<br />
da quinta série<br />
enquanto a professora explicava<br />
"o azul acalma"<br />
e falhava ao ver o terror<br />
em nossos olhos.<br />
E, nossa!, como nossos olhos brilhavam!<br />
Mas todos os adultos falhavam ao ver o brilho<br />
e assim<br />
iam pouco a pouco matando o que havia dentro<br />
de nós<br />
impondo complicações aos atos mais comuns<br />
tornando difícil falar<br />
difícil conviver<br />
meu deus<br />
difícil sorrir, dar oi, amar sem discriminação<br />
censurando nossa imaginação; gritando: mentira!<br />
E a sala<br />
tornou-se cada vez mais escura<br />
nossos olhos com o tempo<br />
cada vez mais apagados<br />
o azul por todos os lados<br />
enquanto a professora falhava em ouvir nossos gritos.<br />
Nós, cada vez mais eles.<br />
A naturalidade como motivo de exclusão.<br />
A vida cada vez mais em partes. Em porções.<br />
<br />
Agora<br />
é inverno de novo, e eu sento de bermuda na minha janela<br />
olhando uma das maiores tempestades que já vi.<br />
Duas quadaras acima<br />
eu vejo uma mulher de vestido colorido<br />
caminhando pela chuva.<br />
O rádio avisa: carros cheios de água, ruas alagadas,<br />
árvores e postes e anjos caídos.<br />
Enquanto essa mulher,<br />
essa linda mulher de vestido colorido<br />
caminha tranquila pela chuva.<br />
Tentando pegar as gotas com a mão<br />
levantando o queixo para sentir o vento<br />
sem se importar com nada<br />
sentindo-se sozinha num mundo que ela não sabe<br />
é meu.<br />
Eu olho para ela<br />
e eu amo essa mulher de vestido colorido<br />
cada passo<br />
o jeito que e vento faz o vestido colorido colar em seu corpo<br />
o olhar que imagino<br />
e sorriso que é somente daquela rua deserta<br />
e tomo como meu.<br />
E mesmo quando não consigo mais vê-la<br />
caminhando para o outro lado da quadra<br />
eu estou ligado a essa mulher de vestido colorido.<br />
Então<br />
meus olhos começam a brilhar novamente,<br />
sinto-os arder em chamas<br />
e ilumino a mulher de vestido colorido<br />
para além das estrelas do mundo<br />
que eu criei.<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
Lembro que li num romance de Paul Auster<br />
que Dante escreveu a Divína Comédia<br />
para uma mulher que viu apenas duas vezes.<br />
<br />
E, claro, isso não significa nada:<br />
todo mundo sabe<br />
escritores mentem<br />
toda hora<br />
mentem<br />
sem saber porque.<br />
<br />Rafael Raffahttp://www.blogger.com/profile/04889781159934810828noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7643413069643751827.post-45341245383295243052012-08-26T22:30:00.002-07:002012-08-28T22:17:23.979-07:00um poema para as águascomo pela primeira vez, encosto a garrafa<br />
<div>
contra meus lábios</div>
<div>
e deixo a água entrar.</div>
<div>
sinto a água escorrendo por todo meu corpo<br />
caindo pelos meus ombros e braços</div>
<div>
sinto os dedos gelarem<br />
de dentro para fora</div>
<div>
como se fosse a felcidade chegando -</div>
<div>
e, meu deus, o que é a felicidade chegando?</div>
<div>
apenas dou mais um gole - e acredito.</div>
<div>
lembro de um poema de Frank O'hara</div>
<div>
e me sinto - também - o centro</div>
<div>
de toda a beleza.</div>
<div>
<br />
penso que deveria escrever um poema</div>
<div>
sobre isso.</div>
<div>
sobre como é possível ser terrivelmente feliz</div>
<div>
bebendo água</div>
<div>
às duas da manhã.</div>
<div>
penso nos olhos daquela mulher</div>
<div>
e eu prometi para mim mesmo</div>
<div>
curvado sobre meu próprio túmulo</div>
<div>
que jamais voltaria a pensar nela </div>
<div>
(cinco vezes, apenas nesta semana).</div>
<div>
<br />
eu realmente deveria escrever um poema sobre isso</div>
<div>
sobre como beber água pode fazer tanto sentido<br />
sobre como é possivel sentir a vida correndo em nós</div>
<div>
sobre a liberdade e a solidão das duas da manhã.<br />
<br />
com o poema certo, tudo é possível.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
coloco a garrafa sobre a mesa</div>
<div>
plástico e mais plástico</div>
<div>
inútil e vazio</div>
<div>
o plástico que um dia acabará com a terra -</div>
<div>
dizem.<br />
Vejo nossa imagem e semelhança. </div>
<div>
<br /></div>
<div>
acendo um cigarro olhando para a lua lá fora e</div>
<div>
penso nela.<br />
<br /></div>
<div>
sorrio e uivo desesperado.</div>
<div>
nunca chego realmente a lembrar de escrever o poema</div>
<div>
sobre a água.</div>
<div>
<br />
eu vejo o mundo inteiro da minha janela -<br />
agora é fácil:</div>
<div>
o sentido está dentro de mim.<br />
esqueço os olhos dela - que brilham mais que a lua<br />
lá fora - e<br />
a deixo descansar sobre uma pilha de rascunhos -<br />
apenas má poesia.</div>
<div>
<br />
<br />
<br />
<br />
<br /></div>
<div>
alguém deveria escrever um poema sobre</div>
<div>
todos os poemas que a gente nunca chega a escrever.</div>
<div>
<br /></div>
Rafael Raffahttp://www.blogger.com/profile/04889781159934810828noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7643413069643751827.post-48020201441670694612012-07-03T14:07:00.000-07:002012-07-03T14:25:12.102-07:00piadas ruinsdepois de um tempo<br />
é possível rir de praticamente <br />
tudo<br />
<br />
eu lembro destas mulheres<br />
dos gestos dos rostos de como comiam ou se deixavam comer<br />
eu lembro de como elas eram<br />
incrivelmente passionais no nosso próprio desamor<br />
eu lembro tanto de suas peles suaves que<br />
me faziam pensar em manhãs de domingo sem nada para fazer<br />
eu lembro delas como furacões<br />
arrasando cidades em mim para então construir novas paisagens<br />
<br />
eu lembro delas<br />
eu penso nelas<br />
<br />
mas algo em mim faz eu esquecer seus nomes<br />
ou algum detalhe banal que costumava me deslumbrar<br />
e eu acabo rindo do que sempre esteve alí<br />
e que com o humor certo parece novidade<br />
<br />
eu tento lembrar mas não consigo <br />
penso em chamá-las todas de Katrina<br />
<br />
mas isso seria apenas uma piada ruim<br />
daquelas simples e fáceis<br />
que qualquer um podia ter visto e contado<br />
e que entretanto é necessário uma quantidade absurda <br />
de coragem para contá-la<br />
<br />
mas que nós rimos<br />
de qualquer maneira<br />
rimos porque não há nada mais<br />
para se fazer<br />
nós rimos e contamos piadas<br />
e somos o que restou do outro<br />
em nósRafael Raffahttp://www.blogger.com/profile/04889781159934810828noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7643413069643751827.post-67000411720479041522012-06-17T14:51:00.002-07:002012-06-17T14:59:58.087-07:00O meu segredoO segredo é<br />
amar o que está perto<br />
o que está longe, o que não existe<br />
o que passou, o que morreu<br />
amar sem querer<br />
amar sem entender<br />
amar.<br />
<br />
O segredo é<br />
sentir-se um maratonista<br />
ao arrumar a cozinha e servir a coca<br />
durante o tempo pré-determinado do micro-ondas.<br />
É sentir-se realmente especial<br />
ao tirar o prato<br />
um segundo antes do último apito.<br />
É sentir vergonha por isso tudo<br />
e ao mesmo tempo<br />
sentir-se orgulhoso por conseguir<br />
e amar.<br />
<br />
O segredo é<br />
a capacidade de criar teorias<br />
sobre a vida e o amor e a paz e a civilização<br />
e esquecer-se delas, pular inteiro<br />
para dentro de tudo<br />
e amar.<br />
<br />
O segredo é<br />
saber banalizar o amor em algo naturalmente bom<br />
sem grades ou correntes<br />
sem esperar, sem entender.<br />
É não ter medo do seu medo<br />
fechar os olhos<br />
e amar.<br />
<br />
<br />Rafael Raffahttp://www.blogger.com/profile/04889781159934810828noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7643413069643751827.post-24522664791186126962012-05-09T12:37:00.000-07:002012-05-09T12:49:26.305-07:00A MELHOR MÚSICA QUE VOCÊ JAMAIS ESCUTOUNós sentamos no bar.<br />
Toca jazz.<br />
Peço dois chopes<br />
enquanto ela tira o casaco,<br />
e faz o piano comer duas ou três notas<br />
e o saxofonista engolir sua palheta.<br />
<br />
Eu sei que logo ela<br />
irá dizer alguma coisa - tomo um gole -,<br />
e não faço ideia do que será.<br />
<br />
Sempre tive essa necessidade de entender as pessoas<br />
principalmente<br />
as mulheres<br />
(logo cedo, decidi que não cresceria<br />
para ser uma pessoa bonita)<br />
precisava de algum tipo<br />
de vantagem.<br />
<br />
Olho em seus olhos tentando<br />
descobrir alguma coisa.<br />
Nada.<br />
Apenas descubro o mundo ao meu redor:<br />
as frases do trompete dançando, o<br />
barulho do chope caindo da máquina;<br />
um arranhão áspero na minha nuca;<br />
o modo como seus ombros servem como<br />
refletores para a luz amarga de seus olhos;<br />
meus dentes batendo - engolindo cerveja e desespero -<br />
prontos para criarem vida própria.<br />
<br />
Mas, ainda assim, não estava preparado<br />
quando ela disse que talvez<br />
ainda houvesse uma chance: que tudo <br />
seria diferente. <br />
Que exisitia felicidade como estado de espírito.<br />
<br />
Ela queria salvar o mundo.<br />
Suas palavras como caminhos distantes:<br />
trilhas de um pequeno bosque.<br />
<br />
Escolho uma e entro.<br />
Respiro fundo, e sinto algo como<br />
o cheiro da morte, <br />
um cheiro realmente muito bom.<br />
Nunca havia visto <br />
aquelas árvores<br />
aquelas flores<br />
aqueles animais:<br />
apenas aceitava-os.<br />
<br />
Tomo um gole. Escuto. Comento.<br />
E, como única opção possível:<br />
concordo.<br />
Ela fala. E quando ela fala<br />
sinto meu corpo ceder para fora da minha alma,<br />
e não ao contrário.<br />
<br />
Então, sem aviso, o chope derrama para cima<br />
molhando o teto.<br />
As pernas das mesas e cadeiras tremem<br />
descolando-se do chão.<br />
O trompetista flutua pelo bar, e suas notas tão serenas e melódicas<br />
agora gritam em tom de desepero. <br />
Todas os clientes pedem água, <br />
e nós continuamos na cerveja.<br />
<br />
Ela fala sobre finais de semana em família<br />
comunismo e amor.<br />
<br />
Eu sei que se conseguisse desviar meus olhos dos seus<br />
acabaria com tudo isso.<br />
Mas não. Não consigo. Apenas tomo um gole.<br />
<br />
Quando chego no final da trilha, estou de frente para um labirinto<br />
de grandes rosas vermelhas.<br />
Rosas enormes. <br />
E, logo que entro, arranho meu braço num espinho.<br />
<br />
Ela fala sobre desistir <br />
e mudar o mundo.<br />
Eu digo: sim!<br />
<br />
Nós tomamos um gole,<br />
e nem conseguimos salvar<br />
a nós mesmos.<br />
<br />
O trompetista cai de costas em cima de<br />
nossa mesa.<br />
As cadeiras param de tremer.<br />
O chope molha o chão.<br />
<br />
Então, ainda deitado, ele deixa escapar<br />
as últimas frases de seu trompete:<br />
mais como um velho morrendo<br />
sozinho;<br />
mais como um prédio<br />
caindo;<br />
a respiração ofengante do <br />
suicida;<br />
o estalo do último<br />
beijo.<br />
<br />
E, ainda assim, é a melhor música<br />
que você jamais <br />
escutou.Rafael Raffahttp://www.blogger.com/profile/04889781159934810828noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7643413069643751827.post-30607820713487289662012-03-25T19:41:00.005-07:002012-04-08T15:08:01.429-07:00três da manhãparo no meio da rua<div>e não paro no meio da rua como se tivesse</div><div>um motivo, apenas paro<br /><div>neste meu eterno três da manhã.</div><div>olho para trás:</div><div>os postes de luz, os carros, as pedras</div><div>o asfalto, casas, gramados, árvores</div><div>coisas tão minhas </div><div>que me fazem perder o ar</div><div>que me fazem não sentir tão sozinho</div><div>que empregam sentido a</div><div>esse meu eterno três da manhã.</div><div>solto um pequeno suspiro enquanto</div><div>tento manter meu corpo hidratado</div><div>e meus olhos fechados.</div><div><br /></div><div>paro aqui, e poderia ter parado em qualquer</div><div>outro lugar. mas, não. paro </div><div>nesta minha eterna vontade de ir sem saber aonde</div><div>nesta minha eterna escuridão de olhos</div><div>neste meu eterno banquete inalcançável</div><div>neste meu eterno aconchego de espinhos.</div><div><br /></div><div>paro aqui, e vejo a mulher mais linda</div><div>do mundo - no momento -, e seus olhos </div><div>brilham tanto que eu quase chego a entender</div><div>porque parei - de alguma maneira</div><div>a luz emprega sentido</div><div>a cada ato.</div><div><br /></div><div>respiro fundo, </div><div>nesse meu eterno nó gelado na garganta,</div><div>e caminho, como se tudo isso</div><div>valesse </div><div>realmente </div><div>a pena.</div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><div><div><br /></div></div></div><div><div><div><br /></div></div></div></div>Rafael Raffahttp://www.blogger.com/profile/04889781159934810828noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7643413069643751827.post-73684456835239704342012-02-29T18:17:00.006-08:002012-03-01T04:40:11.004-08:00orelhaseu só consigo dormir com a orelha tapada, <div>eu conto para ela.</div><div><br /></div><div>o ângulo reto; minha orelha e eu:</div><div>expostos;</div><div>o ar soprando meus segredos </div><div>que entram como navalhas; vento e <span style="font-size: 100%; ">segredos</span></div><div>que são do mundo inteiro; o ar,</div><div>que não é só meu; eu sinto o </div><div>TERROR</div><div>como única forma de existência:</div><div>o ar.</div><div><br /></div><div>tenho medo que alguma coisa</div><div>entre, e fique lá, expliquei. </div><div><br /></div><div>ando preocupado ultimamente;</div><div>e digo ultimamente por cortesia; pena -</div><div>deve ser pecado sentir pena de si mesmo; sinto</div><div>o vento pelo quarto; minha orelha exposta <span style="font-size: 100%; ">é </span></div><div><span style="font-size: 100%; ">uma lembrança, um aviso:</span></div><div>sempre há com o que se preocupar.</div><div><br /></div><div>meu deus,</div><div>um cobertor.</div><div><br /></div><div>é idiota não conseguir dormir sem tapar a orelha</div><div>eu sei. ela sabe. desabafo:</div><div>sempre esperei que fosse por causa do Van Gogh.</div><div>e, embora nunca tivesse pensado sobre isso, parece</div><div>uma teoria desenvolvida ao longo de muitos anos.</div><div><span style="font-size: 100%; ">uma paisagem de arrepios em cenas vibrantes e coloridas,</span></div><div>que eu faço questão de contar em detalhes </div><div>enquanto nos deitamos.</div><div><br /></div><div>TERROR; TERROR; nada é de verdade</div><div>ou possível; não há certeza; nunca; </div><div>certeza é ilusão; pedaços de um mapa</div><div>rasgado; um tesouro que há muito</div><div>deixou de existir; a certeza de buscar</div><div>o que não está lá;</div><div>TERROR; TERROR; a ilusão é</div><div>necessária; a vida pré-determinada</div><div>em gotas homeopáticas; um labirinto</div><div>lógico que ninguém consegue escapar:</div><div>não há diferença entre ilusão e certeza.</div><div><br /></div><div>amasso meu peito sobre suas costas;</div><div>meu pau sobre sua bunda;</div><div>e não sei dizer a diferença.</div><div><br /></div><div>ela estica o braço para trás. </div><div>tenho a certeza que vai me matar.</div><div>mas ela descança a mão no meu rosto</div><div>tapando minha orelha. </div><div><br /></div><div>tá tudo bem, ela diz.</div><div>eu sei, eu respondo.</div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div>Rafael Raffahttp://www.blogger.com/profile/04889781159934810828noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7643413069643751827.post-68130777961870798072012-01-13T09:11:00.000-08:002012-01-13T10:23:50.862-08:00Ano novoEra o fim de mais um ano.<br />E eu só consigo ver o fim<br />nunca o começo.<br />Como se todo dia<br />fosse o fim de um Era.<br />E, com o ano acabando,<br />vislumbrava o inicício de novas trevas.<br />A morte sorrindo para mim<br />através da janela do ônibus<br />sozinho<br />no meio do Uruguai.<br /><br />Então<br />essa menina<br />cheia de caveiras na blusa<br />ombros como dois pesos para o chão<br />parou, em pé, do lado do banco<br />onde eu estava sentado.<br />De todos os espaços,<br />ela parou colada em mim.<br />Eu, sentindo suas coxas no meu<br />braço. O zíper arrastando em<br />meu cotovelo.<br />Pressionava a cintura contra mim<br />o metal gelado<br />as coxas macias mesmo cobertas<br />de jeans.<br />Eu sentia o seu sorriso<br />mesmo sem ver<br />mesmo olhando a janela<br />e tudo o que passava por mim.<br />Ela se inclinou para frente<br />e eu senti as caveiras e seios<br />roçando em meu rosto.<br />Olhei em seus olhos<br />e vi inocência e vi sexo e vi<br />o ano começando.<br />Possibilidades, meu deus, tudo<br />que a gente precisa é de possibilidades.<br /><br />Cheguei em casa<br />algum tempo depois<br />e encontrei este<br />e mais dois poemas<br />realmente existenciais<br />perdidos<br />na minha cueca.Rafael Raffahttp://www.blogger.com/profile/04889781159934810828noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7643413069643751827.post-82309613339442478042012-01-12T20:20:00.000-08:002012-01-28T05:59:30.254-08:00cuca holandesatodo dia eu parava <br />no posto de gasolina<br />para comprar cigarros <br />e todo dia havia<br />uma uma cuca holandesa <br />exposta na vitrine <br />e na maioria dos dias a gente <br />pedia um belo pedaço e<br />comia na cama.<br /><br />então<br />ela entrou no avião<br />e foi embora.<br /><br />dois meses passaram<br />comprando cigarros <br />todo dia<br />no mesmo posto de gasolina<br />e nenhuma cuca holandesa<br />exposta<br />na vitrine.<br /><br />e todo dia<br />eu olhava os bolos<br />tortas<br />e nunca a <br />cuca.<br /><br />até que esqueci dela.<br />do gosto ou<br />como se parecia.<br /><br />até que<br />num dia desses<br />eu a vi<br />quieta no canto da vitrine<br />e pedi um pedaço.<br />só pela risada.<br />só por brincar de lembrar.<br />e <br />deitado na cama<br />eu dei a primeira garfada<br />senti ela<br />deitada sobre mim<br />tirando o garfo da boca<br />deixando farelos escapar pelo queixo<br />a cuca<br />fazendo ela se contorcer em<br />felicidade<br />olhando para mim e rindo<br />do meu sorriso.<br />porque com a cuca<br />era fácil rir ou não se<br />sentir <br />cansado.<br /><br />então<br />senti uma vontade de <br />de alguma forma<br />contar isso para ela.<br />sobre a cuca<br />e como o gosto continuava igual<br />e sobre como<br />tudo aquilo que sobrava<br />é uma pequena poça de água<br />da chuva<br />em um dia de outono.<br />mas<br /><br />não.<br /><br />eu apenas dei mais uma<br />garfada<br />e guardei o resto na geladeira.<br /><br />acendi um cigarro e<br />- o segredo não está no que acaba<br />ou no que pode ser<br />mas onde há<br />algo que sobra<br />no final -<br />algo dentro de mim <br />sentiu vontade de explodir<br />uma porta batendo<br />um grito na escuridão<br />pássaros voando<br />trovões e raios de sol:<br /> <br />um sorriso que escapa da boca.Rafael Raffahttp://www.blogger.com/profile/04889781159934810828noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7643413069643751827.post-89685780840691005892011-12-27T10:06:00.000-08:002011-12-27T10:39:52.301-08:00olhos fechadosàs vezes ela é loira<br />e me assopra o rosto quando<br />depois de suor e gozo eu<br />sinto calor deitado na cama<br />e me esconde em seu sorriso<br />para que tudo pareça simples<br />como descer o escorregador da piscina<br />(mesmo que algumas pessoas já<br />se machucaram<br />fazendo isso-<br />todos vimos os vídeos da internet)<br />e simples assim<br />afunda seus dedos em minhas costas<br />geme e me liberta<br />goza me fazendo rir<br /><br /><br />às vezes ela é ruiva<br />e tudo a sua volta<br />parece ter energia<br />como se todos estivessem balançando<br />os braços para o ar<br />rindo e cantando<br />totalmente alucinados<br />sem a necessidade de lsd<br />porque tudo é leve e divertido<br />somado ao leve balançar<br />da sua cintura<br /><br />às vezes ela é morena<br />e eu consigo experimentar<br />suas palavras que são tão<br />doces vindas de um rosto inclinado para<br />baixo como uma menina de olhos<br />tão brilhantes que não consigo<br />identificar a cor<br />mesmo que eu saiba que todos<br />os olhos têm cores diferentes<br /><br />é difícil enxergar quando se está apaixonado<br />eu pensei<br />junto de todas elas<br /><br />perco cinco minutos<br />orando por elas<br />por<br />todas essas mulheres<br />lindas em sua própria confusão<br />loucas em sua sanidade<br />pedaços de mim<br />que abriram seus corpos<br />que abriram suas mentes<br />que me deixaram entrar<br />que ainda caminham comigo<br /><br />-sombras da minha escuridão-<br /><br />direto<br />para uma nova paixão<br /><br />por isso sigo de olhos fechados<br />que é para estar preparado<br />para quando eu chegar.Rafael Raffahttp://www.blogger.com/profile/04889781159934810828noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7643413069643751827.post-26372235364292483832011-11-21T09:21:00.000-08:002011-12-23T09:33:00.738-08:00Yin-YangHouve uma época em que eu saia com duas mulheres:<div>uma loira, outra morena. E todo dia</div><div>eu escutava o mesmo cd</div><div>no rádio do carro. Hora com uma</div><div>hora com outra. Fazia sempre sol, e eu me sentia</div><div>muito calmo, dirigindo pelas ruas de óculos escuros.</div><div><br /></div><div>As horas passavam preguiçosas. Sem problemas. </div><div>Sem ansiedade. </div><div>Uma enchia qualquer sutiã. A outra, cabia na boca.</div><div>Uma fazia com que eu não sentisse tão mal</div><div>e eu já não era ridículo por não saber o que fazer</div><div>com as mãos, parado, esperando um café.</div><div>A outra me fazia carinho durante a noite.</div><div>Fumaça e cerveja. Ela com as mãos no meu peito</div><div>os dedos entrelaçando pêlo e suor.</div><div><br /></div><div>Me aceitavam. As duas.</div><div>E se entregavam, com todas as suas</div><div>armas no chão. Tudo tão simples e bom.</div><div>Nós, dirigindo em direção do Sol.</div><div>As mesmas músicas.</div><div>Uma e a outra.</div><div><br /></div><div>Só estar com elas, no mesmo quarto,</div><div>na mesma cama, fazia com que eu me sentisse</div><div>bem. Satisfeito com a crise das bolsas mundiais.</div><div>Sem medo do que vinha pela frente. Segurando</div><div>meu coração, do alto da montanha, para quem</div><div>quisesse ver. Completamente nu.</div><div><br /></div><div>Mas isso foi há muito tempo. Eu já morri</div><div>muitas vezes desde então.</div><div><br /></div><div>Acendo um cigarro e abro o jornal.</div><div>Leio sobre uma pessoa que não conheço </div><div>que está com câncer. </div><div>O mundo inteiro sai dos trilhos</div><div>e pessoas começam a cair</div><div>como chuva</div><div>da minha janela. Anjos descem do céu</div><div>exigindo vingânça. Cachorros comem a carne de cachorros</div><div>pelas ruas. E os homens que batem no chão</div><div>lutam pelas sobras.</div><div><br /></div><div>Ligo o rádio para entender o que está</div><div>acontecendo. Sintonizo nas notícias</div><div>que, por algum motivo, toca aquele cd do meu carro</div><div>e o cantor diz: </div><div><br /></div><div>da próxima vez. </div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div>Rafael Raffahttp://www.blogger.com/profile/04889781159934810828noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7643413069643751827.post-70552341058606308312011-11-12T07:23:00.001-08:002011-11-12T08:06:40.798-08:00O jogoQuando você se dá conta, está deitado num campo de areia<div>uma espécie de Coliseu particular.</div><div>Você carrega em seus braços um pano, como um cobertor</div><div>que você mesmo teceu, mas não sabe porque.</div><div>Não consegue entender aquilo tudo, pricipalmente</div><div>quando, sem esperar, uma mulher cruza todo caminho</div><div>até você. Ela corre e derrama mel e sangue dos olhos.</div><div>Instintivamente, você sabe que ela quer lhe machucar</div><div>que ela corre para a sua destruição, para lhe matar.</div><div>Então você consegue desviar algumas vezes;</div><div>você é rápido e tudo que quer é ir embora de lá.</div><div>Você não entende nada, mas tem seu coração.</div><div>E você tem medo, você quer apenas um cigarro e </div><div>uma cama para que possa descançar.</div><div><br /></div><div>Até que, numa de suas investidas, ela </div><div>para há dois metros de você e</div><div>ela tem olhos luminosos</div><div>e você olha aqueles olhos e</div><div>a boca dela sofre uma pequena elevação no encontro dos lábios</div><div>e você olha aquela boca e </div><div>suas pernas escondem alguma coisa santificada </div><div>e você olha aquelas pernas e</div><div>seu cabelo cai sobre os ombros</div><div>e você olha aquele cabelo </div><div>e sente um frio subindo a espinha</div><div>parando no peito e causando algumas</div><div>dores abdominais. Você acha que vai vomitar.</div><div>Mas não vomita. Você apenas entende tudo.</div><div>Entende porque teceu aquele pano</div><div>porque está ali e, pricipalmente, porque ela quer</div><div>lhe matar.</div><div><br /></div><div>Você espera ela cansar e corre até o extremo oposto</div><div>do campo. Ela de um lado, você do outro.</div><div>Você respira fundo algumas vezes. Toma coragem.</div><div>Ela vem correndo contra a sua direção e você corre</div><div>até ela. Algo em torno de 500 metros até</div><div>se encontrarem no meio do caminho.</div><div>Você levanta seu pano até à cabeça</div><div>com a barra arrastando no chão.</div><div>Quando vocês se encontrarem, irá jogar o pano</div><div>em cima dela. Cobrindo-a totalmente. E irá dar</div><div>um nó na parte das suas costas, para que não</div><div>se livre tão fácil e para que você a segure melhor</div><div>no colo ou deitada. </div><div>Seu coração bate mais forte a cada passo. </div><div>Você nunca antes havia</div><div>corrido de pau duro. Com o coração saindo pela garganta.</div><div>Vocês se aproximam e os olhos dela queimam os seus.</div><div>Ela ri. Você está em pânico. Mas vai conseguir,</div><div>você sabe disso. É a sua vez. Você entendeu o jogo todo.</div><div>E quando você vai jogar o pano </div><div>ele se prende no pé dela, </div><div>que deu um passo a mais. Sem que você pudesse</div><div>imaginar ou entender. </div><div>Então você cai no chão. E a areia lhe corta inteiro</div><div>pernas, braços, peito, rosto, tudo.</div><div>Você está cheio de marcas que irá carregar</div><div>para o resto da vida. </div><div><br /></div><div>Então você levanta, e nem a mulher ou pano</div><div>estão alí. Você está sozinho e não consegue</div><div>ver nada a sua volta. Nada. Até o horizonte</div><div>nada.</div><div>Você respira fundo e, como num milagre,</div><div>acha uma carteira de cigarros no bolso.</div><div>Você acende e dá uma longa tragada</div><div>realmente se esforçando para sentir</div><div>alguma coisa. Uma lágrima rola pela bochecha.</div><div>E você se dá conta que ainda</div><div>tem seus cigarros, sua cerveja e que vai conseguir</div><div>algum dia tecer outro pano, dessa vez</div><div>mais forte e curto.</div><div>E, de algum modo, você sabe que em breve</div><div>outra mulher aparecerá por alí. </div>Rafael Raffahttp://www.blogger.com/profile/04889781159934810828noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7643413069643751827.post-47291664082758113922011-10-31T09:59:00.001-07:002011-11-02T17:05:47.297-07:00meus têniseu atravesso a rua sentindo vontade de vomitar<div>e não pelos litros de cerveja que joguei para dentro</div><div>de mim; mas pelo peso nas costas que deixa meu</div><div>queixo grudado no peito e me revira o estômago</div><div>enquanto um carro vermelho quase acerta minha</div><div>perna direita e me joga para o lado esquerdo </div><div>da rua, acabando com tudo - dor e felcidade - </div><div>antes que eu possa decidir ir caminhando para casa</div><div><br /></div><div>tudo é só expectativa, eu penso</div><div>chegando do outro lado</div><div>da calçada </div><div>são e salvo;</div><div>me sentindo insano e perdido -</div><div>eu caminho:</div><div><br /></div><div>os postes da joão alfredo brilham como tochas</div><div>durante a madrugada e vestidos verdes;</div><div>mesmo que os olhos dela brilhem ainda mais,</div><div>eu escolho a rua e sigo sozinho; meus tênis como</div><div>trampolins me jogando cada vez mais alto</div><div>a cada passo mais alto até que eu consiga</div><div>pular por cima dos prédios da cidade baixa</div><div>e ver todo o caminho até a zona sul de volta</div><div>ao meu coração </div><div><br /></div><div>e quando minha cabeça ultrapassa os limites</div><div>das nuvens eu vejo meus potes e toda </div><div style="text-align: -webkit-auto;">a geléia -minha substância- transbordando para </div><div style="text-align: -webkit-auto;">fora deles, até o chão; chego a </div><div>pensar que a morte é uma coisa marvilhosa</div><div>não com olhar suicida de antigamente </div><div>- que acreditava ter - </div><div>mas penso na morte como a gargalhada final;</div><div>o momento em que nada mais importará e eu consiguirei rir</div><div>de toda minha vida: um filme ordinário</div><div>da sessão da tarde;</div><div>como rio das vergonhas da minha infância</div><div>cheias de palavras e frases que deveria ter omitido</div><div>com vontade de gritar para que as memórias</div><div>pulem para fora de mim sem que ninguém perceba</div><div>que já estiveram lá; </div><div>então, vendo os potes transbordarem </div><div>eu penso que deveria escrever um poema</div><div>sobre mim, sobre como eu sou maravilhoso quando</div><div>não há ninguém por perto; como eu posso ser mágico</div><div>e até pular por cima das nuvens apenas com meus tênis </div><div>sonhos, amores e alguns goles de cerveja;</div><div>penso também que, quando estiver escrevendo,</div><div>não irei carregar comigo mulher alguma</div><div>e que nenhuma boceta vai aparecer nas minhas linhas</div><div>enrolando minhas palavras e ideias</div><div>porque a beleza e a naturalidade e a esperança e</div><div>tudo que eu quero carregar em mim</div><div>não vêm só de pernas braços e sobrancelhas</div><div>mas do que só eu posso ver</div><div>de olhos fechados no escuro.</div><div><br /></div><div>chego em casa</div><div>e, como era de se esperar, </div><div>falho miseravelmente e caio de cara no chão</div><div>direto das nuvens como um anjo pecaminoso</div><div>que não aprendeu a desistir</div><div>e sabe muito pouco do que se passa lá fora</div><div>quando não está presente.</div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div>Rafael Raffahttp://www.blogger.com/profile/04889781159934810828noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7643413069643751827.post-29008909402084757802011-10-25T20:11:00.000-07:002011-10-25T21:21:22.507-07:00abraços orgasmos e sorrisosnão quero minhas palavras cheias de intenções ou<div>sorrisos premeditados prazeres monótonos</div><div>aviso prévio arrastado por de baixo da porta</div><div><div><div>quero ser o resultado de toda a naturalidade</div><div>de gestos em manhãs sonolentas de domingo</div><div>suspiros cor de terra molhados de chuva</div><div>quero ser o senhor da minha confusão e ter o direito</div><div>de desistir de tudo que me for capaz </div><div>para abraçar o necessário</div><div>esperando ansiosamente que a beleza natural</div><div>seja despejada em mim justamente quando não estiver preparado</div><div>fazendo acabar a rotação dos planetas </div><div>no ponteiro avançando um segundo no relógio da cozinha</div><div>despertando a selvageria que não me liga aos pontos onde</div><div>eu me prendi ao chão para que possa</div><div>desistr a qualquer minuto para só então encontrar</div><div>a menina de olhos brilhantes e faca na mão</div><div>que tem a malícia para matar e </div><div>ainda não se acostumou a ser linda</div><div>andando descalça pela casa </div><div>sem saber o que isso realmente significa </div><div>ou sem impor significado à meia-calça verde </div><div>pendurada na maçaneta de madeira do meu quarto</div><div>para que no simples movimento do relógio</div><div>o ponteiro definitivo</div><div>eu tenha a capacidade de acreditar que um novo mundo é possível</div><div>e que a bondade é tão simples quanto acender um cigarro</div><div><br /></div><div>quero a vida na naturalidade dos movimentos</div><div>gestos e intenções</div><div>onde a arte diga alguma coisa e o amor</div><div>seja apenas abraços orgasmos e sorrisos</div><div>servidos com gelo</div><div>dependendo do meu humor.</div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div></div></div>Rafael Raffahttp://www.blogger.com/profile/04889781159934810828noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7643413069643751827.post-68340818837876826922011-10-24T06:48:00.000-07:002011-10-24T08:02:58.770-07:00Minha janelaTodos os quartos de todas as mulheres<br />suas camas e colchas e lâmpadas e cestas de lixo<br />e a falta de intenção ao pegarem no sono<br />enquanto eu sento na janela, acendo um cigarro<br />e olhando para baixo<br />tento entender a coisa toda.<br />São todas tão diferentes, mas não consigo deixar<br />de perceber os pontos em comum:<br />a elegância com que vão ao banheiro<br />parecendo ditadores quando saem<br />e tiram a roupa.<br />Eu sento na janela e observo<br />fingindo entender alguma coisa<br />enquanto elas dormem e sonham com<br />balas de hortelã.<br /><br />Mas você<br />você não tinha janelas<br />só portas.<br />Então restou apenas o meu quarto<br />e a minha janela<br />de onde<br />gritávamos enquanto o mundo inteiro<br />parecia dormir profundamente<br />afundando em seus prórpios pesadelos.<br />E F.O. já não parecia ter o senso<br />de novidade que sempre me encantou<br />e uma caminhada por NY não<br />parecia mais poética que por POA.<br />C.B. parecia ter deixado alguma coisa escapar<br />por entre os dedos enquanto a Musa<br />o enganava em bares<br />tão terríveis quanto ele sempre escreveu.<br />E.P. se tornava mais fascista do que nunca.<br />L.P. não parecia aquele sonhador maravilhoso<br />que morreu tentando abraçar a Lua.<br />A.A. era só forma e os versos íntimos<br />não faziam mais sentido que o meu café da manhã.<br />Eu começava a pensar que na verdade<br />a coisa não vinha da vergonha<br />e J.W. tinha perdido alguns versos<br />pelo caminho.<br />E não conseguia mais esperar os<br />golpes tão fortes<br />que C.V. havia me alertado,<br />mesmo com eles dobrando a esquina.<br /><br />E eu não me importava com a sorte<br />ou com como as palavras deveriam soar, muito menos<br />com o impressionismo, lirismo,<br />surrealismo, realismo ou com machismo.<br />Nenhum ismo.<br />Exceto talvez pelo amadorismo,<br />porque assim eu poderia fazer uma piada idiota<br />e talvez arrancar um sorriso seu<br />e esquecer todos os meus problemas<br />dizendo o quanto eu gosto de você<br />mesmo sem coragem<br />porque tudo isso<br />- nós, a janela, as cestas de lixo, a vida -<br />no fim<br />é só uma grande piada.Rafael Raffahttp://www.blogger.com/profile/04889781159934810828noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7643413069643751827.post-48464833611521199652011-09-13T14:12:00.000-07:002011-09-13T14:35:20.313-07:00detalheela era linda<div>mas eu nunca mais consegui</div><div>escrever sobre ela.</div><div>e, às vezes, eu fumo um cigarro</div><div>numa segunda-feira a tarde</div><div>e penso sobre isso.</div><div><br /></div><div>nós, a estrada, nossos acontecimentos</div><div>fluiam de forma não-linear.</div><div>poética, sem pretensão </div><div>ou intenção.</div><div>cheia de redenções</div><div>embaixo da porta da igreja.</div><div><br /></div><div>perdia a fúria da tela em branco.</div><div>sem esforço.</div><div>assim como a vida</div><div>vagava</div><div>pelas ruas que </div><div>ganhavam novos significados</div><div>porque de alguma forma</div><div>ela era possível.</div><div><br /></div><div>eu dancei, meus amigos</div><div>eu dancei!</div><div>dancei sem vergonha alguma</div><div>e senti uma bala perfurar a minha</div><div>barriga.</div><div>e, pelo furo, eu sentia um vento gelado</div><div>felicidade e baunilha</div><div>correr para dentro de mim.</div><div>e o vento abraçava meus brônquios</div><div>como fita de seda verde.</div><div>e eu exalava a felicidade de um baseado</div><div>às 8:30 </div><div>ou de uma cerveja no final da manhã.</div><div><br /></div><div>perco o ar.</div><div>solto a fumaça para o alto.</div><div><br /></div><div> tudo isso, eu penso, porque </div><div>ela era linda</div><div>e isso</div><div>nela</div><div>era apenas um detalhe.</div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div>Rafael Raffahttp://www.blogger.com/profile/04889781159934810828noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7643413069643751827.post-45998921900083170012011-06-17T11:29:00.000-07:002011-06-17T11:57:06.774-07:00conversaela me olha de baixo, abrindo<div>meu zíper.</div><div>seu corpo</div><div>inteiro</div><div>vibra e se contorce.</div><div>tira meu pau</div><div>do descanço das calças.</div><div>desliza a língua</div><div>do início ao fim</div><div>até enfiar tudo na boca.</div><div>então, me olha</div><div>e enfia tudo de novo.</div><div>pego seus braços,</div><div>puxo para cima e</div><div>enfio minha língua naquela</div><div>boca.</div><div>e depois de um tempo</div><div>ela acende um cigarro</div><div>apoiada no encosto da cama.</div><div>me olha </div><div>inclinando a cabeça 53º </div><div>a direita</div><div>e começa a falar e falar</div><div>e falar</div><div>sobre o terceiro paralelepípedo -da calaçada para a rua -</div><div>do lado direito</div><div>da subida até a minha casa</div><div>e sobre ir embora.</div><div><br /></div><div>eu saio correndo </div><div>e me escondo dentro do armário.</div><div>acendo um isqueiro e vejo </div><div>minha sombra projetada </div><div>dançar sobre o balcão de um hotel</div><div>no interior da França.</div><div><br /></div><div>ela continua falando </div><div>53º a direita</div><div>me olhando com os olhos</div><div>que estão prestes a derramar</div><div>não lágrimas,</div><div>mas o verde e o mel - </div><div>devido <span class="Apple-style-span" style="font-family: arial, sans-serif; line-height: 15px; font-size: small; ">à</span> inclinação.</div><div><br /></div><div>rafa, ela diz.</div><div><br /></div><div>eu espirro</div><div>e entendo tudo o que </div><div>ela fala.</div>Rafael Raffahttp://www.blogger.com/profile/04889781159934810828noreply@blogger.com2