sexta-feira, 17 de junho de 2011

conversa

ela me olha de baixo, abrindo
meu zíper.
seu corpo
inteiro
vibra e se contorce.
tira meu pau
do descanço das calças.
desliza a língua
do início ao fim
até enfiar tudo na boca.
então, me olha
e enfia tudo de novo.
pego seus braços,
puxo para cima e
enfio minha língua naquela
boca.
e depois de um tempo
ela acende um cigarro
apoiada no encosto da cama.
me olha
inclinando a cabeça 53º
a direita
e começa a falar e falar
e falar
sobre o terceiro paralelepípedo -da calaçada para a rua -
do lado direito
da subida até a minha casa
e sobre ir embora.

eu saio correndo
e me escondo dentro do armário.
acendo um isqueiro e vejo
minha sombra projetada
dançar sobre o balcão de um hotel
no interior da França.

ela continua falando
53º a direita
me olhando com os olhos
que estão prestes a derramar
não lágrimas,
mas o verde e o mel -
devido à inclinação.

rafa, ela diz.

eu espirro
e entendo tudo o que
ela fala.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

quando eu peço um expresso (longo)

às vezes eu acho que é
por causa do jeito que as
sílabas do nome dela saem
leves
da minha boca

a primeira se abrindo e pedindo piedade
piedosa
a segunda desliza se fechando
num eterno bico
que ela destrói num segundo
se jogando num beijo para cima de mim
e recua a cabeça num sorriso
cheio de vergonha
que logo se revela uma mentira
tão grande quanto a neblina de toda
manhã

às vezes eu acho
que por tudo isso
eu sento num café
peço um expresso longo
acendo um cigarro
no sol das 16:32
e escrevo romances imaginários
sobre as pessoas que caminham por ali

e a senhora que esperava anos
por ele
sem ele nunca ter um rosto ou um apelido
morria
esquecida no canto do quarto
por cansar de esperar
e ser feia demais e velha demais e e se odiar demais

jogada
com a saia dobrada para cima da cintura
a meia calça vermelha terrivelmente imóvel
tudo silencioso e cinza

agora toma chá com bolachas
num café muito branco e amarelo
enquanto a meia calça tem vida própria
espera por ele quebrar o assobio contínuo
da porta de entrada
e entrar inteiro para ela

ela
vibra e espera

ele vem

já eu

sorrio amassando a carteira de cigarros
acendo um último
tomo um último gole de café
e desço a avenida
me sentindo muito bem