quinta-feira, 2 de junho de 2011

quando eu peço um expresso (longo)

às vezes eu acho que é
por causa do jeito que as
sílabas do nome dela saem
leves
da minha boca

a primeira se abrindo e pedindo piedade
piedosa
a segunda desliza se fechando
num eterno bico
que ela destrói num segundo
se jogando num beijo para cima de mim
e recua a cabeça num sorriso
cheio de vergonha
que logo se revela uma mentira
tão grande quanto a neblina de toda
manhã

às vezes eu acho
que por tudo isso
eu sento num café
peço um expresso longo
acendo um cigarro
no sol das 16:32
e escrevo romances imaginários
sobre as pessoas que caminham por ali

e a senhora que esperava anos
por ele
sem ele nunca ter um rosto ou um apelido
morria
esquecida no canto do quarto
por cansar de esperar
e ser feia demais e velha demais e e se odiar demais

jogada
com a saia dobrada para cima da cintura
a meia calça vermelha terrivelmente imóvel
tudo silencioso e cinza

agora toma chá com bolachas
num café muito branco e amarelo
enquanto a meia calça tem vida própria
espera por ele quebrar o assobio contínuo
da porta de entrada
e entrar inteiro para ela

ela
vibra e espera

ele vem

já eu

sorrio amassando a carteira de cigarros
acendo um último
tomo um último gole de café
e desço a avenida
me sentindo muito bem

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