quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Eu já dormi em lugares estranhos, meu bem

Eu olhei em seus
olhos e disse que estava
tudo acabado.
Eu era um herói.
Um herói como Hemingway
jogando sangue cérebro ossos
tudo contra a parede.
Talvez não tão
dramático
talvez não
tão final
talvez
nada parecido com Hemingway
se dando um tiro na cabeça.
Somente um ato heróico
e parecido comigo
mesmo
explodindo a parte escura
dos meus olhos.

Eu penso em ti,
eu comecei,
e dói pensar em ti.
E, às vezes, eu
sei,
é uma dor boa
um conforto
um calor
mamadeira quente
na cama
uma praia vazia
e há um pescador em cima de
uma pedra
jogando o anzol para além
do mar
e o pescador sou
eu
mesmo que nunca
tenha aprendido a pescar.

Talvez, tudo isso,
porque você é uma mulher,
continuei,
e como todas as mulheres
veneno na ponta
da faca.
Em pequenas garrafas coloridas
que não se pode deixar de beber.
Um veneno vermelho
pele branca
veneno vermelho
olhos de mel
e o cabelo é vermelho
e é amarelo
e é preto
e o cabelo é azul.

Não sei se existe mulheres
de cabelo azul.
Mas eu penso em mulheres
de acabelo azul.

Penso em santas, vagabundas
mulheres que amam e odeiam
e amam bem
e odeiam bem
da mesma maneira.

Mulheres definitivas.
E você
mulher definitiva.
Uma tatuagem
escondida pela camisa e gravata
enquanto eu tento
arrancar minha pele
arrancar
você
de mim
e jogar você
para longe
para outra pele.

Eu quero você
longe do meu
presente
que não existe
e explode agora
e agora e agora
e ali, ele
explodindo
na canto direito da
tela.

Você é uma casa velha
amarela
escrito
aluga-se
com letras
vermelhas.

Você é passado
e como passado
eu sinto
você
maravilhosa dentro de mim.
Algo quase esquecido.
Como uma dor
de garganta
que passa e
que não se sabe se foi inventada
ou se a dor
já foi real
algum dia.

E o futuro, terminei,
é uma bolha de sabão
voando em direção de uma
árvore cheia de espinhos.

Nenhum comentário: