quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

A placa

Ela tinha dois olhos

e uma boca,

como

quase

todo mundo.

Só que a sua boca foi

desenhada por anjos

em 22 dias.

E seus olhos tinham

a cor

que o mundo

deveria ter.

E eu ouvia

da sua boca

"meu amigo..."

quase sempre.



Eu não tinha muito

o que oferecer.

Não tinha nada,

na verdade.

Eu me sentia bem,

me sentia querido.

Então, sem pensar,

eu ofereci meu coração.

E aqueles olhos

e aquela

boca

quiseram o que eu tinha.

E assim

minha boca

acanhada

pelo trabalho de anjos

tocou a dela.

E meus olhos,

que sempre foram sofrimento,

olharam toda a água

de todos os mares e

de todos os rios

que eram

os olhos dela.

Minha língua entrou

entrou

na boca dela

e a dela na minha.

Eu sorri

com todas as partes do corpo

que podem sorrir.

E aquelas palavras

"meu amigo..."

já não faziam tanto sentido.

Eu era o que pensava que

deveria ser.

Eu tinha tudo naqueles olhos

naquela boca.

A paz era minha,

o amor era meu.



E como tudo que é

noite

um dia amanhece.

E com o Sol

a vida vai embora.

Só que o medo

não foi junto.

O amor ficou!

Eu sempre acreditei nisso

no amor e na verdade.

E não via nada além disso.



O Sol se pondo

fez meu coração acelerar

dizendo que tudo era como a

noite

como devia ser.

Os anjos que esculpiram

aquela

boca

me cercaram

e fizeram uma orgia

a minha volta.

Eu queria aquilo.

Eu queria aqueles olhos só

meus.

Eu queria aquele corpo

contra o meu.

Eu queria aquelas palavras

"meu amigo"

se dissipando

em orgasmos.



Eu queria...

Eu queria...

Eu queria que nada tivesse

acontecido

eu não queria aquela noite

não queria a manhã.

Eu queria aquele

canto escuro

onde eu nunca fui nada

e onde eu nunca sofri

e que, na porta, havia

uma placa

dizendo:

Não entre.

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