Ela tinha dois olhos
e uma boca,
como
quase
todo mundo.
Só que a sua boca foi
desenhada por anjos
em 22 dias.
E seus olhos tinham
a cor
que o mundo
deveria ter.
E eu ouvia
da sua boca
"meu amigo..."
quase sempre.
Eu não tinha muito
o que oferecer.
Não tinha nada,
na verdade.
Eu me sentia bem,
me sentia querido.
Então, sem pensar,
eu ofereci meu coração.
E aqueles olhos
e aquela
boca
quiseram o que eu tinha.
E assim
minha boca
acanhada
pelo trabalho de anjos
tocou a dela.
E meus olhos,
que sempre foram sofrimento,
olharam toda a água
de todos os mares e
de todos os rios
que eram
os olhos dela.
Minha língua entrou
entrou
na boca dela
e a dela na minha.
Eu sorri
com todas as partes do corpo
que podem sorrir.
E aquelas palavras
"meu amigo..."
já não faziam tanto sentido.
Eu era o que pensava que
deveria ser.
Eu tinha tudo naqueles olhos
naquela boca.
A paz era minha,
o amor era meu.
E como tudo que é
noite
um dia amanhece.
E com o Sol
a vida vai embora.
Só que o medo
não foi junto.
O amor ficou!
Eu sempre acreditei nisso
no amor e na verdade.
E não via nada além disso.
O Sol se pondo
fez meu coração acelerar
dizendo que tudo era como a
noite
como devia ser.
Os anjos que esculpiram
aquela
boca
me cercaram
e fizeram uma orgia
a minha volta.
Eu queria aquilo.
Eu queria aqueles olhos só
meus.
Eu queria aquele corpo
contra o meu.
Eu queria aquelas palavras
"meu amigo"
se dissipando
em orgasmos.
Eu queria...
Eu queria...
Eu queria que nada tivesse
acontecido
eu não queria aquela noite
não queria a manhã.
Eu queria aquele
canto escuro
onde eu nunca fui nada
e onde eu nunca sofri
e que, na porta, havia
uma placa
dizendo:
Não entre.
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
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