sábado, 19 de março de 2011

Ei, pára de coçar as bolas

Eu gosto do silêncio em que o mundo
inteiro
gira
enquanto eu tiro suas roupas.
Eu posso ouvir pessoas conversando
duas quadras abaixo
mas prefiro escutar o barulho do seu zíper
abrindo.
Gosto do jeito que ela geme
rindo
ou ri
gemendo,
nunca soube.
Gosto do som
da sua voz,
assim,
simplesmente o som
que é um trompete
alucinado
girando por toda a madrugada.
Gosto de como é fácil
estar aqui
com ela
e como tudo que eu acredito
se perde
para baixo da cama, eu acho,
e eu ressurjo como pedaços de carvão.

Então ela está de pé
de costas para mim
empinando aquela bunda
-e eu nem acredito naquela bunda-
para minha cara
olhando por cima do ombro
pedindo
implorando
querendo
que eu faça tudo
que penso em fazer.
Faço.
A gente cai por cima de alguns livros.
Consigo identificar um ou dois
romances
uma colêtanea de poesia
mas prefiro espiar para dentro do seu cu.
A gente rola pelo chão
e eu nem consigo lembrar
que faz dois dias que não passo o aspirador.
Meu joelho bate no armário.
Gosto do jeito que ela
me aperta
minúscula e quebrando
no mínimo
três costelas
e espremendo o coração.
Ela bate a cabeça na cabeceira da cama.
E bate a cabeça de novo.
E bate de novo.
E de novo.
Foda-se a poesia, eu penso.
Mas, enquanto ela puxa minha orelha
para baixo
com os dentes
fecho os olhos e vejo:
TUDO É POESIA.
E a gente acaba
na cama
e ela se gruda em mim
apertando tudo de carne e choro e feliz
que eu tenho dentro de mim.
E ela fala na minha orelha:
goza
e sempre que ela fala
eu obedeço
e gozo e ela geme
e ri
ou ri e
geme
enquanto eu
sigo fazendo uma prece
para aquela bunda,
amém.

Eu sento na cadeira;
ela está deitada e de costas
quase dormindo
e continua gemendo -
não mais por minha causa, acredito.
Acendo um cigarro
e tudo aquilo parece escorrer como tinta molhada.
A cena inteira
ela
a cama
a bunda
eu
escorrendo.
E enquanto meus olhos
terminam
de refazer o quadro
eu solto um anel de fumaça
em homenagem aos deuses
à bunda
até à mim, é
à mim.
E o quadro está pronto
e é igual
e eu ainda não acredito naquela bunda.
Não me controlo
e começo a rir
até me engasgo com a fumaça.
Escuto ela rindo sozinha
e eu quero engolir ela
porque ela ri sozinha
uma risada tão minha.

Ei, pára de coçar as bolas, ela diz.

Desculpa, eu rio
pensando, meu deus,
ela é algo um pouco melhor que humano.

É culpa tua, respondo,
porra seca nas bolas
coça.

hahahaha, tu é nojento, ela fala
e eu sei que vou acabar
engolindo ela
algum dia.

E nós dois rimos juntos
e a bunda ri junto
e ela ainda não olhou para mim
e já me sacou
do início ao fim
eu rio
sem parar
e ela não pára de mexer aquela bunda
eu penso em estupro concedido
e penso que não sou nojento
sou um romântico irrecuperável,
quero a coceira nas bolas.

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