segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Minha janela

Todos os quartos de todas as mulheres
suas camas e colchas e lâmpadas e cestas de lixo
e a falta de intenção ao pegarem no sono
enquanto eu sento na janela, acendo um cigarro
e olhando para baixo
tento entender a coisa toda.
São todas tão diferentes, mas não consigo deixar
de perceber os pontos em comum:
a elegância com que vão ao banheiro
parecendo ditadores quando saem
e tiram a roupa.
Eu sento na janela e observo
fingindo entender alguma coisa
enquanto elas dormem e sonham com
balas de hortelã.

Mas você
você não tinha janelas
só portas.
Então restou apenas o meu quarto
e a minha janela
de onde
gritávamos enquanto o mundo inteiro
parecia dormir profundamente
afundando em seus prórpios pesadelos.
E F.O. já não parecia ter o senso
de novidade que sempre me encantou
e uma caminhada por NY não
parecia mais poética que por POA.
C.B. parecia ter deixado alguma coisa escapar
por entre os dedos enquanto a Musa
o enganava em bares
tão terríveis quanto ele sempre escreveu.
E.P. se tornava mais fascista do que nunca.
L.P. não parecia aquele sonhador maravilhoso
que morreu tentando abraçar a Lua.
A.A. era só forma e os versos íntimos
não faziam mais sentido que o meu café da manhã.
Eu começava a pensar que na verdade
a coisa não vinha da vergonha
e J.W. tinha perdido alguns versos
pelo caminho.
E não conseguia mais esperar os
golpes tão fortes
que C.V. havia me alertado,
mesmo com eles dobrando a esquina.

E eu não me importava com a sorte
ou com como as palavras deveriam soar, muito menos
com o impressionismo, lirismo,
surrealismo, realismo ou com machismo.
Nenhum ismo.
Exceto talvez pelo amadorismo,
porque assim eu poderia fazer uma piada idiota
e talvez arrancar um sorriso seu
e esquecer todos os meus problemas
dizendo o quanto eu gosto de você
mesmo sem coragem
porque tudo isso
- nós, a janela, as cestas de lixo, a vida -
no fim
é só uma grande piada.

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