quinta-feira, 4 de setembro de 2008

O porquê (sem muita saudade da minha infância querida que os anos não trazem mais)

Eu era novo, uma
criança e só e
queria saber o porquê
o porquê das coisas
o porquê de mim
o porquê da vida.
E eu não fazia muita
coisa:
brincava com as formigas
esmagava elas com o dedo
indicador
e gritava: "migas; migas!"
E eu chorava às vezes, e apanhava
às vezes
e eu não sabia o porquê.
E pensava que eu nunca faria as coisas
do jeito certo, que nunca
acertaria em nada.
E um dia, chovia forte, muito
forte
E eu perguntei o porquê da
chuva, e eu já havia apanhado
naquele
dia.
Não lembro o motivo.
E minha mãe ainda
estava braba, pois eu fazia coisas sérias
pra ela
e sem sentido
pra mim.
E ela disse: "Papai do Céu está
chorando
pelo o que tu fez!"
E eu me dei conta
que eu estava sempre errado
e que nao afetava apenas
as quatro pessoas da minha
família.
Não mesmo.
Afetava o mundo todo, e que eu
sempre seria punido.
Com tapas,
com chinelos
e Deus, usaria todo o seu poder
para me punir com raios e
trovões,
e eu chorei, e me senti a pior
pessoa do mundo. E tinha
vontade de pedir perdão
gritando da janela do meu quarto.
Mas ninguém se interessava. Nunca.
E, às vezes, chovia e eu
não tinha apanhado.
E as pessoas eram gentis comigo.
Como?
Eu tinha estragado com o mundo
de novo.
De novo.
E eu chorava também, às vezes
e tudo girava ao meu redor, em torno de uma pessoa
só:
Eu.
E nada acontecia, quando eu
não estava
ao menos
olhando.
E foi assim, com todos
chorando por mim e me
punindo
e trovões caindo sobre
minha cabeça
e eu sempre longe de saber
o porquê.

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