Eu não me sinto
bem
a maior parte do tempo.
Me sinto inadequado
um idiota.
E me sinto
muito bem
assim.
Estou acostumado,
talvez.
Sempre odiei
a pretensão.
Lutei contra ela
nos outros
e as cicatrizes
grudaram em mim.
Me olho no espelho
talvez tenha algo
de bonito
lá dentro
e as cicatrizes não
me permitem ver.
Mesmo que eu
GRITE
do outro lado.
Eu fui
meu próprio pai abusivo
alcoólatra
idolatrando a repulsa
idolatrando minhas
cicatrizes.
Enquanto meu
pai nunca
disse "eu te amo"
em voz alta
mas nunca conseguiu
esconder
dos seus olhos.
Me sentindo uma
espécie
de Jesus
particular.
Sinto um prego
entrando no meu
pulso esquerdo
e sinto
minha mão direita
martelando.
Suicídio eu traduzo
em segurança.
Oremos
que não resta mais nada
oremos.
Pedaços da minha vida
caindo de mim.
Pendendo para fora
do carro
arrastado pelo
asfalto.
Acendo uma fogueira
para deixar a
escuridão
do meu quarto
mais atraente.
Tentando
acender
meu coração.
Eu sinto
o cano gelado
do 38.
colar no meu lábio
inferior.
Me sinto
muito bem assim.
Me sinto bem por ser agora
por não ter sido
por ela
ou por mim.
Me sinto bem quando
o ferro
bate no dente
me sinto bem
por vocês.
E quando eu crio
coragem
e posiciono
gentilmente
o dedo no gatilho,
ela sorri
enquanto tiro
suas roupas.
E joga a cabeça pro
lado
e ri.
E tudo é tão de verdade.
O sorriso
o barulho da sua
voz
da minha
a nossa.
E a minha cama
se torna um milagra
maravilhoso o suficiente
para fazer eu chorar.
Mas não choro.
É ridículo
um homem
chorando
de pau duro.
Ando me sentindo
muito bem
ultimamente.
Um homem muito
diferente
daquele homem
estranho
que começou a escrever
esse poema.
A arma cai no chão
e junto
vai meu coração.
sábado, 22 de janeiro de 2011
terça-feira, 18 de janeiro de 2011
Não deixe seu filho crescer sem aprender sobre tênis e raquetes
Ela sentou do
meu lado
e sorriu um pouco.
Sorriu e não
pude identificar se
era bonita
ou linda
ou feia
porque seus olhos
tomavam conta de tudo que eu via.
Duas esferas de fogo
congelado.
Duas esferas
que combinavam com seu coração.
Com a maioria
dos corações.
Me sentia meio deprimido
na época.
Como quando era criança
cortando a coxa com um
estilete enferrujado
sentido o sangue
grudar na bermuda.
Acreditando quando
diziam
que era louco
psicopata
e devia ir embora
de qualquer cidade
de qualquer maneira.
Sentia que precisava de uma bebida
para escapar daquilo tudo
sem escapatória.
A bebida que nunca me escapou
em nenhum momento.
Mordi o canto da bochecha
até sentir um pouco
de sangue
porque tudo que sangra e morre
e vive
tem alguma chance
e eu
precisava de alguma
chance
algum dia.
Sabia que não tinha
uma arma
guardada em
casa.
Mas sabia onde conseguir
e sempre se pode
dar um tiro
na cabeça e acabar com isso
tudo.
Não tenho
coragem
não tenho
nada.
Não sei o
que
dizer.
Ela estica a mão
e puxa meu cinzeiro
e nós conversamos.
Meu deus, eu nunca
acredito
quando isso acontece.
Nós conversamos.
E eu precisava me lembrar
quem eu era
e o que queria
de cinco
em cinco
minutos.
E ela era maluca
tanto quanto eu
deliberadamente me machucando
e eu me sentindo
bem
com aquilo
tudo.
Me sentindo bem
com a condição
que impus para
mim.
Ou que impuseram.
E o tempo
rolava para
debaixo do sofá
como poeira varrida.
E a gente ria,
é
a gente até ria
e ele segurava a minha perna
porque eu era engraçado
e original.
Porque eu não me importava.
Levantou e foi
caminhando ao banheiro.
E parecia tão certo
o jeito que ela andava
e quando ela pisava
era um ponto de
exclamação que se formava
das verdades que eu
nunca escutei.
Meu deus, eu tenho sorte!
Meu deus, talvez eu não tenha
tantos problemas assim
e possa permanecer
sentado
nessa cidade
cuidando da minha vida!
Meu deus, desculpa pelas minúsculas
mas as maiúsculas reservo
para quando
eu tenho certeza
reservo para
Ela.
E eu vejo Ela saindo
e Ela carrega pel0 braço
um homem
sem rosto e de nariz comprido
e acena
com a cabeça para mim
enquanto
passa pela porta
e o vento da rua
envolve ela
e ele
para outro lugar.
Eu não consigo deixar de
sorrir
aos deuses,
pensando que talvez
as maiúsculas
tivessem feito alguma diferença.
Pensando que
se pode perder
alguns sets,
talvez até um game.
Mas o que importa
é o match point.
E quando me dou conta disso,
me dou conta
que nunca joguei
ou entendi
tênis.
E que talvez
esse seja o meu
problema.
É, com certeza,
esse é o meu problema.
domingo, 26 de dezembro de 2010
tarde quente de domingo
Tudo é tão terrível
numa tarde quente
de domingo.
A mosca da janela
nunca
vai embora.
O barulho do ventilador
é a única coisa
que escuto -
um som alto
forte
com cheiro de amônia.
Eu entro no banho
três vezes
para lavar o
terror
que gruda no meu corpo.
É uma tarde
quente e nostálgica
tanto quanto
todo o domingo
quente ou frio.
Então, eu sinto saudade daquela múscia
"na hora do almoço"
e não
saudade da música
exatamente
e não saudade da letra
exatamente
mas saudade
da certeza.
Certeza de que
quando a última nota soar
alguém irá falar:
"o que eu tenho MEDO
mesmo
é da coisa parecida"
e todos vão concordar e
rir e rir
e concordar
porque da coisa
parecida
é que fugimos juntos.
É o que gritamos
e choramos.
O que vivemos
todos os dias
alucinados
cantando
no meio da noite.
E tudo é tão
terrível
numa tarde quente de domingo.
Porque eu sinto
saudade dos
pontos de exclamação
que nunca escutei.
Me vejo
velho
morrendo
sozinho
rindo do som
da palavra desamparo
que me escapa da boca
e eu sempre achei tão
lindo.
Porque
são nas tardes
quentes
de domingo
como esta
que eu converso
com a morte.
Trancados no meu
quarto
acertamos velhas
contas
pedimos desculpas
até elogiamos
novos cortes de cabelo -
Hoje ela usava chanel.
Depois
nos despedimos
muitas vezes
nos beijamos
e ela nunca precisou dizer que
volta.
Aceno
olhando em seus olhos
vejo como são terríveis
as tardes quentes
de domingo.
numa tarde quente
de domingo.
A mosca da janela
nunca
vai embora.
O barulho do ventilador
é a única coisa
que escuto -
um som alto
forte
com cheiro de amônia.
Eu entro no banho
três vezes
para lavar o
terror
que gruda no meu corpo.
É uma tarde
quente e nostálgica
tanto quanto
todo o domingo
quente ou frio.
Então, eu sinto saudade daquela múscia
"na hora do almoço"
e não
saudade da música
exatamente
e não saudade da letra
exatamente
mas saudade
da certeza.
Certeza de que
quando a última nota soar
alguém irá falar:
"o que eu tenho MEDO
mesmo
é da coisa parecida"
e todos vão concordar e
rir e rir
e concordar
porque da coisa
parecida
é que fugimos juntos.
É o que gritamos
e choramos.
O que vivemos
todos os dias
alucinados
cantando
no meio da noite.
E tudo é tão
terrível
numa tarde quente de domingo.
Porque eu sinto
saudade dos
pontos de exclamação
que nunca escutei.
Me vejo
velho
morrendo
sozinho
rindo do som
da palavra desamparo
que me escapa da boca
e eu sempre achei tão
lindo.
Porque
são nas tardes
quentes
de domingo
como esta
que eu converso
com a morte.
Trancados no meu
quarto
acertamos velhas
contas
pedimos desculpas
até elogiamos
novos cortes de cabelo -
Hoje ela usava chanel.
Depois
nos despedimos
muitas vezes
nos beijamos
e ela nunca precisou dizer que
volta.
Aceno
olhando em seus olhos
vejo como são terríveis
as tardes quentes
de domingo.
domingo, 12 de dezembro de 2010
Sabe, é estranho porque...
Quando eu olho
em seus
olhos
eu me esqueço de respirar
por algum tempo
perco o fôlego
me afogo e
não evito
o sorriso.
Você me toca
e meu
sangue
corre mais rápido
ferve
e eu sinto um
frio subindo pela minha
espinha.
E logo
eu esqueço
isso tudo
e esqueço você
segurando uma
espada
lutando contra todos os
clichês.
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
Enquanto o Sol fazia meu olho arder
Faz alguns dias
que eu não
faço sexo.
Mas
tenho essa lembrança dessa
loira
pernas e sorrisos
abertos
nua
deitada sobre minha cama.
Ando me sentindo
bem
na verdade
melhor do que
nunca estive.
As paredes
não tremem
mais
enquanto as cinzas
me sujam
desprezível
aos olhos
ensanguentados.
Espelhos
cansaram
e deixaram de me
seguir
na escuridão da
minha própria sombra.
Eu devia
estar pulando de alegria
mas
não.
Estou deprimido;
sinto falta
do tumulto.
Palavras e vacas
girando
no furacão da nossa madrugada.
Sinto falta
da dúvida
até da dúvida
e dos espelhos; das paredes
das cinzas;
das manhãs; dos domingos;
da tristeza;
do sorriso; e
do de repente.
E como sempre
de repente
eu vejo aquelas
pernas
e aqueles sorrisos
e vejo aquela loira
de volta
na minha cama.
E ela chuta tão
alto
que acerta a Lua
em mim.
Sorri e gira o corpo
agarra meu pau
e minha alma
deixa o dia mais fácil
a manhã mais
parte de mim
falando palavras
sem nexo
e sem valor
que eu guardo
escondidas por um mapa
num código que não entendo
esquecido na madrugada.
Encaro minha janela
por horas
nada se move
os pássaros morreram
o ar é venenoso
e a Lua é um brilho que
nunca existiu.
Penso em suicídio
por ser importante
penso em viver para sempre
não me basto
não gosto
não me quero
e me amo
e me amo.
E sofro
de tanta felicidade
que eu trago
escondida no meu
estômago
para então
explodir
sozinho
por cima do morro
em que nasci.
terça-feira, 23 de novembro de 2010
Eu devia estar trabalhando
mas
ao invés disso
estou lutando contra
o meu teclado.
Bato forte
odeio as teclas
quero que elas sofram
mas tomo socos
na boca do estômago
no queixo
meu nariz está sangrando
e eu continuo batendo
nas teclas
sem parar.
Até que
vou
a nocaute.
Quando acordo
estou sentado na sala
de espera do meu
psiquiatra
com uma revista -
papel couché fosco
e fotos envernizadas -
sobre arte
moderna
nas mãos.
Olho para as palavras
mas não leio
nenhuma.
Começo a me sentir
fraco
quando uma gota de sangue
pinga do meu nariz.
E outra.
Largo a revista
no chão.
E pinga
e pinga
e
pinga
e
pinga e
pinga pinga
pinga pinga
pinga pinga pinga
até que começa jorrar.
Logo
o chão da sala está
vermelho
sangue
quase cobre a sola
dos meus tênis.
Meu olhos começam
a se fechar
não sinto nada
meu corpo
nada
e desmaio
para frente com o
rosto
virado para a direita
prestes a faturar
o maxilar.
Mas não.
Mergulho numa
piscina vermelha
sem fundo
e vou afundando
e dormindo
e me contorcendo
e afundando.
Culpa do meu
superego fascista,
segundo
especialistas.
Eu devia estar trabalhando
mas
ao invés disso
estou rezando ajoelhado
na frente
desses pequenos ícones.
Mulheres
feitas de argila
molhada
derretendo
esquecidas
no canto da sala.
Eu devia estar trabalhando
mas
ao invés disso
grito um horror
esquecido dentro
de mim.
Grito
para esquecer quem
eu sou.
Para apagar as imagens
de vergonha e de
derrota
da minha cabeça.
Grito
e digo que não merecia
viver
ou ter nascido
mesmo sabendo
que
se pudesse
não faria nada para
mudar isso.
Eu devia estar trabalhando
mas
ao invés disso
sou um rascunho
de papel
deitado na pista
do
IAPI.
E baseados
à sombra
das árvores
me passo
a limpo
num caderno
com aspirais
de marfim.
Eu devia estar trabalhando
mas
ao invés disso
eu fumo um cigarro
e agradeço
aos
deuses
que estou sozinho.
Eu
tão
perdidamente eu.
E me sinto bem
sem o som dos problemas
que chegam com voz
doce
e olhos de
cristais.
Eu devia estar trabalhando
mas ao invés disso
continuo
brigando
com meu teclado.
Porque é tudo
que me resta.
E tudo o que eu sempre
pude
fazer.
Eu devia estar trabalhando.
terça-feira, 12 de outubro de 2010
Meu amor cabe num pote de geléia
Meu amor
eu guardo em pequenos potes
de conserva
na parte gelada
do meu peito.
Organizados
em estantes brancas
em longos corredores
escuros
e devidamente
identificados
com etiquetas
e letras tremidas.
Às vezes
eu caminho por esses
corredores.
Vou devagar
e receoso.
Sinto muito frio.
Sinto todos os
sentimentos
em sua forma mais
primitiva.
Meu corpo
treme.
Eu sou feliz
e eu choro.
Sou triste
e eu choro.
Sinto o suor pelas
minhas costas.
Gozo.
Ah,
como eu gozo.
E como
eu sinto dor.
E quando é noite
e enquanto mundo
inteiro
deixa
de existir
eu fico
agarrado à Lua.
Olho para baixo
e vejo a cidade.
Vejo Porto Alegre
as ruas
e tudo que aquilo
significa
em mim.
Vejo livros
discos revistas
palavras
olhares medos
amores filmes
e vejo meu sangue
correndo nisso tudo.
E me pergunto
porque eu pego esse pote
de geléia
e guardo meu amor
enfileirado
junto de outros potes
que guardam
o meu amor.
Não guardo para lembrar.
Não guardo para esquecer.
Não guardo para separar.
Guardo
para amar
olhando velhos olhos
escutando velhas
palavras
sentindo velhos cheiros
um amor
que não existe.
Guardo porque me
preenche.
Porque é meu.
Porque
sou eu.
Solto minha
mão
dou adeus à Lua
vou caindo
devagar
quase flutuando.
E quando toco
o chão
eu tenho certeza.
Seria um idiota
se não
guardasse.
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
Um retalho para longe de nós
Minha cabeça batia
na janela
com o balanço
do ônibus
durante as curvas.
Meu pescoço estava
mole
meu corpo
estava mole
meu coração.
Eu ia para casa
dela
e sabia que tinha que fazer
aquilo.
Ela implorava chorando
baixinho
sentada a beira da cama
com a cabeça entre as
pernas.
Ela implorava gritando
todas a vozes
e todas as razões
do mundo.
Eu sentia
a pressão do cabo
da faca no meu
bolso.
Não podia deixar
ela ir
embora
assim
tão fácil.
Meu coração.
Tudo mole.
Eu sabia que tinha que
fazer
aquilo.
Toquei a campainha
e gritei;
gritei tudo que meu
bafo
que exalava coragem
e mesa de bar
conseguia pronunciar.
Tirei a camisa
e levantei a faca
para cima da
minha cabeça.
Passei a lâmina pelo
meu peito até minha cintura.
Puxei a pele com força
e da lá
saiu uma criança.
Ele estava numa sala de aula
sentado no chão;
num círculo formado por alunos
da 3ª série
e uma professora.
E todos riam
dele.
Todos riam daquele
menino que sentia
toda a indiferença
e todo ódio
que não existia
ali.
Ele sentia
não existir
e o cheiro do seu
medo
flutuava por entre
nossos corpos.
Não tinha
ainda
vivido
de verdade
e mesmo
assim
tinha medo de morrer sozinho.
Não tinha beijado
uma mulher
e sentia que nunca
mais beijaria.
E enquanto seus colegas
distribuíam abraços
ele sentia solidão
e não sentia ser tocado
de verdade.
Sentia nojo;
o nojo que vinha dos
outros
para sua direção
para sua ruína.
Ela assistiu
isso tudo
segurando forte
no meu braço.
Vi seus olhos
molhados
de felicidade.
Vi seus olhos
e eles olhavam
para além dos
meus.
Me segurou em seus braços
me apertou forte
me mordeu
me beijou
me lambeu
e soluçou ao dizer que
nunca estivemos
tão
próximos.
Enquanto isso
as paredes
choravam.
As paredes
que sabiam tudo
choravam porque sabiam
que nunca estivemos
tão próximos
de dizer
adeus.
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
A minha torre de babel
Meus joelhos
doem.
Há dias
em venho levantando esses
troncos
pregando
e me machucando.
É uma tarefa difícil
construir esse pedestal
no qual eu vou
suavemente
instalar minha cama
e ver o mundo
por cima.
Eu já não aguento
mais.
As feridas
não fecham
levei algumas facadas
e não tenho a aparência certa
para o trabalho.
Nunca soube pregar,
quer dizer,
não era algo natural em mim.
Era algo forçado
e doía como
chicotadas numas noite
quente de
primavera.
Mas eu vou aprendendo.
Eu vou.
E agora eu estou aqui
diante desse pedestal
que atravessa as nuvens
e que eu preguei
prego por
prego
sangue por
suor.
Dou a última martelada
e desmaio
em cima da cama.
As horas passam
por baixo dos
minutos aqui
em cima.
Nada precisa de um
sentido.
Ainda não abri meus olhos
mas o vento
tem um perfume
que entra por cada poro
e goza em todas as células
do meu corpo.
Então
eu sinto uma mão tocando meu rosto
leve suave
a mão de todo aquele
cheiro.
E quando
vejo
o que vejo
é um sorriso
que faz toda aquela estrutura
tremer
e se curvar
porque é tudo que se
tem
para fazer.
E ela se joga
para cima de mim
como um trem
e a gente se bate
como sabão
espalhando
gritos feridos e
orgasmos.
Ela é um bambolê
de seda e
carne
que gira por todo meu corpo.
E eu me atiro para dentro
daquilo tudo
colado em mim.
E a gente se torce
geme
grita e sussurra.
Eu quero estar
em todos os lugares
que ela esconde.
Quero morder
engolir
ter ela
dentro de mim.
Não me dou conta
do mundo que
ficou para
baixo
das nuvens.
Não me dou conta
de como só estar aqui
em cima
é maravilhoso.
Não me dou conta
porque o jeito
que ela me faz sorrir
enquanto não consegue
manter os olhos
abertos
é que é maravilhoso.
E quando eles fecham
por completo -
aqueles olhos
que escorrem mel e lágrimas -
me agarram
e pedem para que
eu nunca me mexa.
E
enquanto eu obedeço
olho para cima
areia voando
nas dunas
de um
deserto estrelado.
É noite.
Por algumas horas
eu fecho os olhos
e sonho que estou acordado.
Mas a calma nunca
dura
muito.
Escuto passos
conhecidos
e pesados.
Meu velho amigo
lenhador.
Ele traz consigo
um machado de
cinco metros
manchado de sangue.
Ele é inseguro
tem medo
foge
trai
machuca
e seu passatempo
é derrubar os pedestais
que eu construo.
Eu vejo sua enorme
barba
suja de cerveja
caminhando
devagar.
Quebro minha promessa.
Minhas pernas tremem.
Me mexo.
E meu sangue
tem cheiro
e gosto de pavor.
Cair lá de
cima
não me assusta,
não.
Mas a idéia de perder
aquilo
me machuca
me corta
me apodrece.
E a vida vai
assim
sendo demais
para suportar.
Sendo tão boa
que deixa triste.
E com tanto medo
da felicidade
me jogo
do pedestal
sem nem saber
se tinha chance
de ser derrubado.
E enquanto eu sinto
minha vida escorrer
para fora do meu abdômen -
semi-aberto
pelo impacto -
eu fico rezando
para que ela venha
me levantar.
Eu fico rezando
sem acreditar.
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
Enquanto eu fico pendurado aqui nessa corda
As minhas mãos
ardem
quando eu escorrego.
Eu estou pendurado
numa corda
segurando firme
morrendo de medo
de cair
e não sei bem
porque.
Olho para baixo
não vejo nada.
Não sei o que há
lá.
Pode ser qualquer
coisa,
mas é a minha vida,
sabe?
E, simplesmente,
não sei se quero
me jogar para o novo.
Não sei se vale
a pena
me prender ao desconhecido.
Eu sei que haverá mulheres
lá.
Mas elas irão me fazer
sorrir?
Eu sei que haverá vento
no rosto.
Mas eu conseguirei fechar os olhos
e aproveitar?
Eu sei que haverá abraços.
Mas eles serão de verdade?
E mesmo com todas as dúvidas
e com todas as dificuldades
eu tenho uma
certeza.
Certeza que eu
sou livre.
Mesmo pendurado
aqui
nessa corda
eu sou livre.
Livre porque eu posso
abrir a mão.
Livre porque eu posso
continuar
segurando.
Eu sou aquele que acha
um absurdo jogar lixo no chão.
Que as pessoas que o fazem
deveriam ser penduradas em praça
pública
pelo desprezo ao coletivo.
E, mesmo assim
às vezes
eu jogo.
Eu sou aquele que luta
pela verdade.
E grita ser a coisa
mais bonita que se
pode tocar.
E eu minto
por amor.
E minto
até para mim.
E pelo fato
de não precisar impor
nenhum tipo de
sentido ao que
eu sou
e ao que eu grito
eu tenho uma certeza.
Eu sou
livre
pendurado
aqui
nessa corda.
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
Duas horas no escuro
Eu era novo
-3 ou 4 anos-
e tudo que ia
além do que podia ver
era um clarão
flutuando pelo Universo.
Nada acontecia
se não acontecesse
para mim.
Tudo dependia de mim
para ser.
Um sorriso
só era um sorriso
se eu podia vê-lo.
Um beijo, sem mim,
era nada.
Ninguém chorava
se não fosse por mim.
Ninguém se incomodava
se eu não estivesse
por perto.
E quando eu não estava por
perto
o mundo andava em
câmera lenta
esperando eu entrar em cena.
Tinha essa mania
de esmagar formigas
com a ponta do dedo.
Me divertia.
Não por matar
mas por poder.
Porque eu era Deus
e eu criava
e destruía.
Às vezes, comia
terra
também
porque era a minha terra
porque eu podia.
E sozinho
sentado a beira
do formigueiro
o mundo inteiro
esperava
para me servir.
Agora, eu estou deitado
na minha cama
com um cinzeiro apoiado
na barriga.
Ninguém por perto.
Lembro das mulheres
que passaram por aqui
e logo
sinto-me
deixar
de existir.
Eu ainda as vejo.
Elas estão em camas novas
com sorrisos novos
enquanto eu não
existo
e sinto a minha infância
escorrer por entre
meus dedos
direto para
o ralo.
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
Caminhando por unhas vermelhas e de olhos fechados
Eu desço as escadas
do trabalho
e sinto uma liberdade
patética tomar
conta do meu braço
e espalhar-se pelo
meu corpo.
Acendo um cigarro
e meu cigarro solta
uma fumaça colorida
que fica rodando a minha volta
e me leva para onde eu vou.
Eu lembro de alguns poemas
e de suas palavras
que são tão parte de mim
quanto meu café da manhã.
E , meu Deus, eu grito
poesia
e não faço idéia do que seja
isso
de verdade.
Eu quero ir para casa
mas não tenho pressa
tomo o caminho mais longo
o favorito.
Passo por um poste,
um totem;
marca da selvageria
que me fez
assim.
Vejo-me ali
com um osso na mão
batendo e me divertindo
descobrindo coisas novas
me descobrindo.
Escuto minha risada primitiva
e ácida.
Ó, meu Deus, esse poste,
esse totem,
é parte de mim.
E eu dou um pulo
direto para o ano de 2010
e quase gozo
pensando nas imagens da noite anterior.
Caralho, minha vida passa
na mão dessas mulheres que passam por mim.
E eu dependo delas
para sorrir
para cantar
para beber.
Dou um tiro para cima.
E esqueço que elas
existem.
Mas eu lembro, lembro
do jeito que ela me olha de noite,
e eu lembro do seu cabelo loiro
e do seu cabelo ruivo
e de sua pele morena
que é tão clara
quanto leite.
Eu sempre lembro.
Lembro de como ela é alta
e encosta a cabeça no
meu peito
enquanto me abraça.
Ela chega perto de mim
e meu corpo inteiro
treme
e ela treme junto
e me puxa para dentro
dela.
Lembro do barulho que ela
faz ao engatilhar aquele
sorriso -
calibre 38.
Lembro dos seios
que cabem
e escorrem para fora da minha boca.
E os olhos
que têm todas cores do mundo
e choram todos os rios
que já vi
rios
de amor
tristeza e felicidade.
Lembro do jeito que ela
Lembro do jeito que ela
segura o meu pau
sempre
com uma mão diferente.
Lembro da indiferença
e da total devoção.
Lembro dos cachos e
daquele cabelo
absurdamente
liso.
Lembro da calcinha
no chão.
E, quando paro de pensar,
vejo minha casa
pego minha chave
no bolso direito
e quase gozo ao
atravessar a rua.
E o mundo passou por mim
passou em branco
enquanto ela
e ela
e ela
faziam eu não ver o mundo a minha
volta.
E, sinceramente,
não sei se
perdi
alguma coisa
ou se ganhei.
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