segunda-feira, 27 de setembro de 2010

A minha torre de babel

Meus joelhos
doem.
Há dias
em venho levantando esses
troncos
pregando
e me machucando.
É uma tarefa difícil
construir esse pedestal
no qual eu vou
suavemente
instalar minha cama
e ver o mundo
por cima.
Eu já não aguento
mais.
As feridas
não fecham
levei algumas facadas
e não tenho a aparência certa
para o trabalho.
Nunca soube pregar,
quer dizer,
não era algo natural em mim.
Era algo forçado
e doía como
chicotadas numas noite
quente de
primavera.
Mas eu vou aprendendo.
Eu vou.

E agora eu estou aqui
diante desse pedestal
que atravessa as nuvens
e que eu preguei
prego por
prego
sangue por
suor.
Dou a última martelada
e desmaio
em cima da cama.

As horas passam
por baixo dos
minutos aqui
em cima.
Nada precisa de um
sentido.
Ainda não abri meus olhos
mas o vento
tem um perfume
que entra por cada poro
e goza em todas as células
do meu corpo.
Então
eu sinto uma mão tocando meu rosto
leve suave
a mão de todo aquele
cheiro.
E quando
vejo
o que vejo
é um sorriso
que faz toda aquela estrutura
tremer
e se curvar
porque é tudo que se
tem
para fazer.
E ela se joga
para cima de mim
como um trem
e a gente se bate
como sabão
espalhando
gritos feridos e
orgasmos.
Ela é um bambolê
de seda e
carne
que gira por todo meu corpo.
E eu me atiro para dentro
daquilo tudo
colado em mim.
E a gente se torce
geme
grita e sussurra.
Eu quero estar
em todos os lugares
que ela esconde.
Quero morder
engolir
ter ela
dentro de mim.

Não me dou conta
do mundo que
ficou para
baixo
das nuvens.
Não me dou conta
de como só estar aqui
em cima
é maravilhoso.
Não me dou conta
porque o jeito
que ela me faz sorrir
enquanto não consegue
manter os olhos
abertos
é que é maravilhoso.

E quando eles fecham
por completo -
aqueles olhos
que escorrem mel e lágrimas -
me agarram
e pedem para que
eu nunca me mexa.
E
enquanto eu obedeço
olho para cima
areia voando
nas dunas
de um
deserto estrelado.
É noite.

Por algumas horas
eu fecho os olhos
e sonho que estou acordado.
Mas a calma nunca
dura
muito.
Escuto passos
conhecidos
e pesados.
Meu velho amigo
lenhador.
Ele traz consigo
um machado de
cinco metros
manchado de sangue.
Ele é inseguro
tem medo
foge
trai
machuca
e seu passatempo
é derrubar os pedestais
que eu construo.
Eu vejo sua enorme
barba
suja de cerveja
caminhando
devagar.

Quebro minha promessa.
Minhas pernas tremem.
Me mexo.
E meu sangue
tem cheiro
e gosto de pavor.
Cair lá de
cima
não me assusta,
não.
Mas a idéia de perder
aquilo
me machuca
me corta
me apodrece.

E a vida vai
assim
sendo demais
para suportar.
Sendo tão boa
que deixa triste.
E com tanto medo
da felicidade
me jogo
do pedestal
sem nem saber
se tinha chance
de ser derrubado.

E enquanto eu sinto
minha vida escorrer
para fora do meu abdômen -
semi-aberto
pelo impacto -
eu fico rezando
para que ela venha
me levantar.

Eu fico rezando
sem acreditar.

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