quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Caminhando por unhas vermelhas e de olhos fechados

Eu desço as escadas
do trabalho
e sinto uma liberdade
patética tomar
conta do meu braço
e espalhar-se pelo
meu corpo.
Acendo um cigarro
e meu cigarro solta
uma fumaça colorida
que fica rodando a minha volta
e me leva para onde eu vou.
Eu lembro de alguns poemas
e de suas palavras
que são tão parte de mim
quanto meu café da manhã.
E , meu Deus, eu grito
poesia
e não faço idéia do que seja
isso
de verdade.
Eu quero ir para casa
mas não tenho pressa
tomo o caminho mais longo
o favorito.
Passo por um poste,
um totem;
marca da selvageria
que me fez
assim.
Vejo-me ali
com um osso na mão
batendo e me divertindo
descobrindo coisas novas
me descobrindo.
Escuto minha risada primitiva
e ácida.
Ó, meu Deus, esse poste,
esse totem,
é parte de mim.
E eu dou um pulo
direto para o ano de 2010
e quase gozo
pensando nas imagens da noite anterior.

Caralho, minha vida passa
na mão dessas mulheres que passam por mim.
E eu dependo delas
para sorrir
para cantar
para beber.

Dou um tiro para cima.
E esqueço que elas
existem.

Mas eu lembro, lembro
do jeito que ela me olha de noite,
e eu lembro do seu cabelo loiro
e do seu cabelo ruivo
e de sua pele morena
que é tão clara
quanto leite.
Eu sempre lembro.
Lembro de como ela é alta
e encosta a cabeça no
meu peito
enquanto me abraça.
Ela chega perto de mim
e meu corpo inteiro
treme
e ela treme junto
e me puxa para dentro
dela.
Lembro do barulho que ela
faz ao engatilhar aquele
sorriso -
calibre 38.
Lembro dos seios
que cabem
e escorrem para fora da minha boca.
E os olhos
que têm todas cores do mundo
e choram todos os rios
que já vi
rios
de amor
tristeza e felicidade.
Lembro do jeito que ela
segura o meu pau
sempre
com uma mão diferente.
Lembro da indiferença
e da total devoção.
Lembro dos cachos e
daquele cabelo
absurdamente
liso.
Lembro da calcinha
no chão.

E, quando paro de pensar,
vejo minha casa
pego minha chave
no bolso direito
e quase gozo ao
atravessar a rua.
E o mundo passou por mim
passou em branco
enquanto ela
e ela
e ela
faziam eu não ver o mundo a minha
volta.
E, sinceramente,
não sei se
perdi
alguma coisa
ou se ganhei.

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