domingo, 26 de dezembro de 2010

tarde quente de domingo

Tudo é tão terrível
numa tarde quente
de domingo.
A mosca da janela
nunca
vai embora.
O barulho do ventilador
é a única coisa
que escuto -
um som alto
forte
com cheiro de amônia.
Eu entro no banho
três vezes
para lavar o
terror
que gruda no meu corpo.
É uma tarde
quente e nostálgica
tanto quanto
todo o domingo
quente ou frio.
Então, eu sinto saudade daquela múscia
"na hora do almoço"
e não
saudade da música
exatamente
e não saudade da letra
exatamente
mas saudade
da certeza.
Certeza de que
quando a última nota soar
alguém irá falar:
"o que eu tenho MEDO
mesmo
é da coisa parecida"
e todos vão concordar e
rir e rir
e concordar
porque da coisa
parecida
é que fugimos juntos.
É o que gritamos
e choramos.
O que vivemos
todos os dias
alucinados
cantando
no meio da noite.
E tudo é tão
terrível
numa tarde quente de domingo.
Porque eu sinto
saudade dos
pontos de exclamação
que nunca escutei.
Me vejo
velho
morrendo
sozinho
rindo do som
da palavra desamparo
que me escapa da boca
e eu sempre achei tão
lindo.

Porque
são nas tardes
quentes
de domingo
como esta
que eu converso
com a morte.
Trancados no meu
quarto
acertamos velhas
contas
pedimos desculpas
até elogiamos
novos cortes de cabelo -
Hoje ela usava chanel.
Depois
nos despedimos
muitas vezes
nos beijamos
e ela nunca precisou dizer que
volta.
Aceno
olhando em seus olhos
vejo como são terríveis
as tardes quentes
de domingo.

Um comentário:

Dilly disse...

Obrigada. Você é foda.

Beijo. rsrs