quinta-feira, 2 de junho de 2011

quando eu peço um expresso (longo)

às vezes eu acho que é
por causa do jeito que as
sílabas do nome dela saem
leves
da minha boca

a primeira se abrindo e pedindo piedade
piedosa
a segunda desliza se fechando
num eterno bico
que ela destrói num segundo
se jogando num beijo para cima de mim
e recua a cabeça num sorriso
cheio de vergonha
que logo se revela uma mentira
tão grande quanto a neblina de toda
manhã

às vezes eu acho
que por tudo isso
eu sento num café
peço um expresso longo
acendo um cigarro
no sol das 16:32
e escrevo romances imaginários
sobre as pessoas que caminham por ali

e a senhora que esperava anos
por ele
sem ele nunca ter um rosto ou um apelido
morria
esquecida no canto do quarto
por cansar de esperar
e ser feia demais e velha demais e e se odiar demais

jogada
com a saia dobrada para cima da cintura
a meia calça vermelha terrivelmente imóvel
tudo silencioso e cinza

agora toma chá com bolachas
num café muito branco e amarelo
enquanto a meia calça tem vida própria
espera por ele quebrar o assobio contínuo
da porta de entrada
e entrar inteiro para ela

ela
vibra e espera

ele vem

já eu

sorrio amassando a carteira de cigarros
acendo um último
tomo um último gole de café
e desço a avenida
me sentindo muito bem

quarta-feira, 4 de maio de 2011

sinal vermelho

eu dirijo e sigo olhando
aquele arroio que divide a

porto alegre que carrego em mim


e quando vejo tudo

com o sol vermelho refletindo

faróis de carros e os meus olhos

se fecham como em uma explosão

dentro do meu estômago que

identifico como felicidade

mesmo odiando a palavra


porque vejo uma beleza tão natural

que me apaixono por todo o lixo

do dilúvio de todas as espécies

e sinto que tenho alguma chance


e quando eu vejo a noite

cair dentro do arroio

eu penso em uma arca e

penso em um café holandês
penso em queijos podres
penso em um beijo esquecido na torre negra

penso em todos os fins de tarde

penso em cheiro de feijão



e de repente o sinal vermelho

grita na minha cara


paro

e me dou conta
que não lembro de dirigir

por uns bons 2km



e meu olho fica umedecido

daquela maneira que os olhos

umedecem quando parece

que tudo é estático e sereno

e que se pode abaixar os braços e nem tentar

porque eu posso ser tão deliciosamente

eu quando não estou por perto



rio tão alto que assusto

uma mulher com olhos como duas rosas

brancas morrendo

que tentava atravessar a rua


então decido que vou escrever

um poema sobre como a POESIA

deve ser fácil
simples

e natural

e tão livre quanto pensar



sopro uma bola de fumaça pela janela

engato a primeira

acelero.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Voz baixa

Não; não estou aqui para gritar
esse é um poema de voz baixa
um vento por baixo da saia, um arrepio, um gemido
talvez porque um pedaço de madeira ainda me
salva
de toda a loucura e de tudo que é velho e opressor
talvez porque eu posso acender um cigarro e
não
me importar com o peso do cigarro
talvez porque minha mão fica mais bonita quando olho de um certo
ângulo
e o ângulo ou a minha mão não têm nada a ver com isso
talvez porque a distância é muito longa a primeira vista
mas
não tenho pressa de sair
talvez porque eu possa fazer um poema de voz baixa e
gritar
com a força de um berrante o meu coração
talvez por não impor sentido ao fato de rir porque
alguém
arregalou os olhos e sorriu perfurando meu ombro esquerdo

esse é só um poema de voz baixa
um sussuro
um sorriso
minha substância
é eu gritando
não pelo amor livre
mas pelo amor livre
de todo o peso que a palavra carrega nas costas.

domingo, 27 de março de 2011

poesia

eu saio do banheiro e entro no quarto
ela está de pé arrumando os lençóis da cama
e eu vejo a sua bunda gloriosa branca empinada
e penso que ainda não me acostumei com aquilo tudo
sinto falta de ar por não conseguir parar de me surpreender
quando ela me olha e me beija
e como ela tem um jeito tão sutil de olhar e beijar
que parece entender tudo que digo
sem antes eu dizer uma palavra
e tudo é uma verdade mentirosa
enquanto o cheiro doce da baunilha me entope as veias
eu sinto as feridas cravadas a marteladas cheias de sangue
dentro do que eu considero eu
se derretendo e escapando para fora da barra das minhas calças
eu penso que se isso
o ato em si
a bunda os lençóis ela a falta de ar
os olhos paranormais o meu quarto
o banheiro a janela nossa boca
não for poesia de verdade
poesia de verdade
é uma grande merda.

sábado, 19 de março de 2011

Ei, pára de coçar as bolas

Eu gosto do silêncio em que o mundo
inteiro
gira
enquanto eu tiro suas roupas.
Eu posso ouvir pessoas conversando
duas quadras abaixo
mas prefiro escutar o barulho do seu zíper
abrindo.
Gosto do jeito que ela geme
rindo
ou ri
gemendo,
nunca soube.
Gosto do som
da sua voz,
assim,
simplesmente o som
que é um trompete
alucinado
girando por toda a madrugada.
Gosto de como é fácil
estar aqui
com ela
e como tudo que eu acredito
se perde
para baixo da cama, eu acho,
e eu ressurjo como pedaços de carvão.

Então ela está de pé
de costas para mim
empinando aquela bunda
-e eu nem acredito naquela bunda-
para minha cara
olhando por cima do ombro
pedindo
implorando
querendo
que eu faça tudo
que penso em fazer.
Faço.
A gente cai por cima de alguns livros.
Consigo identificar um ou dois
romances
uma colêtanea de poesia
mas prefiro espiar para dentro do seu cu.
A gente rola pelo chão
e eu nem consigo lembrar
que faz dois dias que não passo o aspirador.
Meu joelho bate no armário.
Gosto do jeito que ela
me aperta
minúscula e quebrando
no mínimo
três costelas
e espremendo o coração.
Ela bate a cabeça na cabeceira da cama.
E bate a cabeça de novo.
E bate de novo.
E de novo.
Foda-se a poesia, eu penso.
Mas, enquanto ela puxa minha orelha
para baixo
com os dentes
fecho os olhos e vejo:
TUDO É POESIA.
E a gente acaba
na cama
e ela se gruda em mim
apertando tudo de carne e choro e feliz
que eu tenho dentro de mim.
E ela fala na minha orelha:
goza
e sempre que ela fala
eu obedeço
e gozo e ela geme
e ri
ou ri e
geme
enquanto eu
sigo fazendo uma prece
para aquela bunda,
amém.

Eu sento na cadeira;
ela está deitada e de costas
quase dormindo
e continua gemendo -
não mais por minha causa, acredito.
Acendo um cigarro
e tudo aquilo parece escorrer como tinta molhada.
A cena inteira
ela
a cama
a bunda
eu
escorrendo.
E enquanto meus olhos
terminam
de refazer o quadro
eu solto um anel de fumaça
em homenagem aos deuses
à bunda
até à mim, é
à mim.
E o quadro está pronto
e é igual
e eu ainda não acredito naquela bunda.
Não me controlo
e começo a rir
até me engasgo com a fumaça.
Escuto ela rindo sozinha
e eu quero engolir ela
porque ela ri sozinha
uma risada tão minha.

Ei, pára de coçar as bolas, ela diz.

Desculpa, eu rio
pensando, meu deus,
ela é algo um pouco melhor que humano.

É culpa tua, respondo,
porra seca nas bolas
coça.

hahahaha, tu é nojento, ela fala
e eu sei que vou acabar
engolindo ela
algum dia.

E nós dois rimos juntos
e a bunda ri junto
e ela ainda não olhou para mim
e já me sacou
do início ao fim
eu rio
sem parar
e ela não pára de mexer aquela bunda
eu penso em estupro concedido
e penso que não sou nojento
sou um romântico irrecuperável,
quero a coceira nas bolas.

segunda-feira, 14 de março de 2011

estrela cadente

Ela estava sentada no canto
da cama
com a cabeça entre as pernas.
Dizia que eu vivia sozinho
atrás das montanhas
e segurava
um faca na mão.
Eu tinha uma cabana
de madeira
onde eu guardava
meus pequenos traumas
em caixas de LP.
Ela chorava.
Dizem que isso é amor.

Saio para a cozinha
tomo uma garrafa de água
num gole só
e
estou deitado em cima
de uma pedra
onde o mar bate
como uma orquesta
só de metais
olhando para as estrelas
que estão a um palmo do meu nariz;
vejo uma se desprender do céu
e peço que o amor
seja mais do que algo que eles dizem.

Eu estou sentado no canto
da cama
com a cabeça entre as pernas
e a estrela cadente
parece ser mais importante
que todo o
resto.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Eu sou um poeta e

sobre tudo que se tem
a dizer
se pode dizer
realmente
muito pouco.
Eu não existo
de verdade
sou uma imagem refletida
por olhos brilhantes
em um muro cheio de riscos.
Pedaços de papel picado
espalhados pelo chão.
Pedaços de mim
picado
espalhados sobre teu sangue e coração.
A vida é curta
mas grito
loooooooooonga espera e
o tempo voa como se eu não ouvisse.
Falta muito para morrer
eu digo, amigo,
e falta tanto pra viver
que a dor às vezes faz lágrimas brilharem geladas nas minhas bochechas
levantadas para cima rindo do seu sorriso.
Dou um tiro para o alto
e espero a bala cair silenciosamente sobre minha cabeça.
Elefantes amarrados por barbantes
voam
como balões de hélio.
E eu não entendo nada sobre hélio ou elefantes
a não ser
que todos ficam com um ar sereno
apoiados na grade
sob o Sol.
Eu grito poesia
e grito que o poder está no pau
enquanto tenho medo do meu.
Medo do que ele traz
do definitivo
do que eu crio como definitivo
da ânsia de vômito com pernas
e vestidos verdes.
E já não sei bem
em qual linha eu estou
com a cabeça apoiada sobre a mesa
eu sou um poeta
e minha alma não vale de nada.
Eu sou um poeta e minh'alma
bóia numa piscina de merda
que eu mesmo criei.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Ah, esses adoráveis intelectuais

eu estava sentado
cuidando da minha vida
quando ele chegou e disse:

é uma pena, você se considera
um poeta
não tem estrutura e não se preocupacom a forma.
Aperta
enter
e diz que é poesia.

o problema é que ela
tem olhos
que me paralizam.
eles brilham me
deixando
rídiculo
opaco do lado de fora
da casa, respondo.

poesia é exaltação
é beleza
e você só reclama sobre a
sua vida
que ninguém está
interessado. e eu
lhe pergunto:
isso é poesia?

não sei, respondo,
e quando ela
tira a roupa
e age como estivesse
brincando de boneca
rindo
me fazendo rir
zombando de todos os deuses
e dos mistérios do centro da Terra
eu sei
tenho que
gritar sobre isso.
e, sim, eu sou burro,
mas li o o'hara,
e o que mais se pode fazer?

você pode estudar,
ele diz rindo,
pode começar lendo os
clássicos.
ouvi dizer que você acha
sheakespeare chato.
camões uma perda
de tempo.
e olavo bilac
um retardado
com tempo de sobra.

o que eu posso fazer
se estou deitado na minha cama
e é domingo de tarde
e não me preocupo com nada
a não ser
respirar
pelas próximas 5 horas?, pergunto.
e eu olho para a minha escrivaninha
e vejo um livro
de poesia
que é simples
e diz MUITO com ALGUMAS palavras
e elas são fáceis
deslizando pelas páginas
e são confortantes
quando precisam ser
e te revoltam o estômago
no momento certo
e são como espinhos cheios de veneno
cheios de mulheres
cheios de vinho
cheios do cheiro de perdra molhada pela chuva de verão às 17h de um dia cizento que chamam de terça-feira
e nem o dia, nem o tempo, nem o nome
muito menos a pedra ou a chuva
importam
a não ser o cheiro e tudo
que aquele cheiro traz
porque o velho feio sujo safado
que escreveu e se dizia poeta
sentia de verdade aquilo tudo
e não escrevia porque devia
mas porque precisava.

eu achava que era só nas tuas poesias que tu não
fazia sentido, ele diz
com seus pequenos olhos cheios de
conhecimento
se fechando em reprovação e
em falta de compreensão
das coisas simples que eu dizia.

espera que eu estou chegando lá,
tentei acalmá-lo mentindo, pensando:
hahaha, como eu adoro
esses intelectuais virgens.

e do lado do livro, continuo,
tem uma carteira de cigarros deitada
com a tampa aberta
e eu ignoro aquilo por algum
tempo.
mas
de repente
eu olho para ela
e eu vejo que está escrito HORROR
na parte de trás da tampa do cigarro deitado.
então eu lembro das figuras do ministério da saúde
e não consigo relacionar a figura certa com o HORROR.
mas eu lembro de lourenço mutarelli por um tempo
e penso em ciganos
e cartas que revelam a sorte e o futuro
e penso numa mulher
com olhos malucos explodindo para fora do rosto
correndo pelada com os cabelos pegando fogo.
mas o mais importante
é que eu esqueço disso tudo
em 2 minutos
e lembro que a carteira está vazia
e que eu preciso de um cigarro
com HORROR
ou sem.

você está simplesmente
falando
sem dizer nada, ele fala e
ri de mim.

talvez sim, comento,
mas eu tenho medo que algum dia
eu perca tudo isso
e veja tudo
numa ordem certa
descrita com perfeição.
palavras e mais palavras
para dizer o mesmo que uma linha.
tenho medo
que o livro seja só o livro
e cigarro esteja vazio desde o início.
e tenho medo
que ELA seja uma só
e que ELA precise de nomes diferentes
ou de olhos diferentes
toda vez
e esqueça DELA.
tenho medo de não reparar na risada quando estiver de pau duro.
tenho medo de ter medo de escrever pau duro.
medo de ter que escrever
parar e pensar e TER que escrever.
prefiro uma visita irregular
um abraço cheio de saudade
e lágrimas no ombro -
prefiro a necessidade.
prefiro poder esquecer das maiúsculas só para deixar vocês putos
fechando seus cus intelectuais de ódio.
e, como você sabe,
é muito difícil fazer muito sentido
quando se escreve com o pau
pelado balançando na frente do teclado.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Eu já dormi em lugares estranhos, meu bem

Eu olhei em seus
olhos e disse que estava
tudo acabado.
Eu era um herói.
Um herói como Hemingway
jogando sangue cérebro ossos
tudo contra a parede.
Talvez não tão
dramático
talvez não
tão final
talvez
nada parecido com Hemingway
se dando um tiro na cabeça.
Somente um ato heróico
e parecido comigo
mesmo
explodindo a parte escura
dos meus olhos.

Eu penso em ti,
eu comecei,
e dói pensar em ti.
E, às vezes, eu
sei,
é uma dor boa
um conforto
um calor
mamadeira quente
na cama
uma praia vazia
e há um pescador em cima de
uma pedra
jogando o anzol para além
do mar
e o pescador sou
eu
mesmo que nunca
tenha aprendido a pescar.

Talvez, tudo isso,
porque você é uma mulher,
continuei,
e como todas as mulheres
veneno na ponta
da faca.
Em pequenas garrafas coloridas
que não se pode deixar de beber.
Um veneno vermelho
pele branca
veneno vermelho
olhos de mel
e o cabelo é vermelho
e é amarelo
e é preto
e o cabelo é azul.

Não sei se existe mulheres
de cabelo azul.
Mas eu penso em mulheres
de acabelo azul.

Penso em santas, vagabundas
mulheres que amam e odeiam
e amam bem
e odeiam bem
da mesma maneira.

Mulheres definitivas.
E você
mulher definitiva.
Uma tatuagem
escondida pela camisa e gravata
enquanto eu tento
arrancar minha pele
arrancar
você
de mim
e jogar você
para longe
para outra pele.

Eu quero você
longe do meu
presente
que não existe
e explode agora
e agora e agora
e ali, ele
explodindo
na canto direito da
tela.

Você é uma casa velha
amarela
escrito
aluga-se
com letras
vermelhas.

Você é passado
e como passado
eu sinto
você
maravilhosa dentro de mim.
Algo quase esquecido.
Como uma dor
de garganta
que passa e
que não se sabe se foi inventada
ou se a dor
já foi real
algum dia.

E o futuro, terminei,
é uma bolha de sabão
voando em direção de uma
árvore cheia de espinhos.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Meu amor próprio

Bem,
eu não sou nada
bonito
mas de vez em
quando
tenho sorte e alguma
mulher aparece.

E ela aparece
e seu nome é
Sílvia.
E ela dá um passo
e o mundo inteiro
treme
e curva à sua frente.
Ela tem um jeito de sorrir
que causou as duas
guerras mundias.
Ela é a bomba atômica
com duas pernas
que são cobras
mas
estranhamente
se movem como pernas.
Badaladas do relógio velho
sexo
a cada passo
sexo e mais sexo.
E eu não sei me apaixonar
mas ela me tem.
Não sei dizer eu te
amo
mas os olhos
gritam tudo que meu coração
excreta
por ela.
Ela
deliberadamente
me machuca.
Some por
semanas
meses
e aparece
de braços abertos
iguais aos meus
que nunca se fecharam.
E ela goza com
outras pessoas
em outras ideias
enquanto eu
mudo de janela
e gozo nela.
Ela me machuca.

Já, Priscila
me olha como
se eu fosse bonito.
Deixa eu saber
que está lá
inteira
para mim.
E o sexo
é lindo,
mas penso em Sílvia.
E as brigas
são brigas boas
porque ele grita
que me quer.
Ela deixa eu saber
que está à um passo
de mim
e eu caminho vinte
para trás.
tenho medo.
Medo que Sílvia volte
e medo que eu não
esteja lá.

Agora
sozinho e do topo
da minha solidão
eu vejo
que sou apaixonado
por mim.
Pela ideia que criei
de mim.
Algo que não vale a pena
amar.
Algo descartável.
Algo.
E amando o que me
despreza
eu tenho um pouco
de amor próprio.
Uma punheta sem nunca
gozar.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Enquanto espero

Eu não me sinto
bem
a maior parte do tempo.
Me sinto inadequado
um idiota.
E me sinto
muito bem
assim.

Estou acostumado,
talvez.

Sempre odiei
a pretensão.
Lutei contra ela
nos outros
e as cicatrizes
grudaram em mim.

Me olho no espelho
talvez tenha algo
de bonito
lá dentro
e as cicatrizes não
me permitem ver.
Mesmo que eu
GRITE
do outro lado.

Eu fui
meu próprio pai abusivo
alcoólatra
idolatrando a repulsa
idolatrando minhas
cicatrizes.
Enquanto meu
pai nunca
disse "eu te amo"
em voz alta
mas nunca conseguiu
esconder
dos seus olhos.

Me sentindo uma
espécie
de Jesus
particular.
Sinto um prego
entrando no meu
pulso esquerdo
e sinto
minha mão direita
martelando.

Suicídio eu traduzo
em segurança.

Oremos
que não resta mais nada
oremos.

Pedaços da minha vida
caindo de mim.
Pendendo para fora
do carro
arrastado pelo
asfalto.

Acendo uma fogueira
para deixar a
escuridão
do meu quarto
mais atraente.
Tentando
acender
meu coração.

Eu sinto
o cano gelado
do 38.
colar no meu lábio
inferior.
Me sinto
muito bem assim.
Me sinto bem por ser agora
por não ter sido
por ela
ou por mim.
Me sinto bem quando
o ferro
bate no dente
me sinto bem
por vocês.

E quando eu crio
coragem
e posiciono
gentilmente
o dedo no gatilho,
ela sorri
enquanto tiro
suas roupas.
E joga a cabeça pro
lado
e ri.
E tudo é tão de verdade.
O sorriso
o barulho da sua
voz
da minha
a nossa.
E a minha cama
se torna um milagra
maravilhoso o suficiente
para fazer eu chorar.
Mas não choro.
É ridículo
um homem
chorando
de pau duro.

Ando me sentindo
muito bem
ultimamente.
Um homem muito
diferente
daquele homem
estranho
que começou a escrever
esse poema.

A arma cai no chão
e junto
vai meu coração.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Não deixe seu filho crescer sem aprender sobre tênis e raquetes

Ela sentou do
meu lado
e sorriu um pouco.
Sorriu e não
pude identificar se
era bonita
ou linda
ou feia
porque seus olhos
tomavam conta de tudo que eu via.
Duas esferas de fogo
congelado.
Duas esferas
que combinavam com seu coração.
Com a maioria
dos corações.

Me sentia meio deprimido
na época.
Como quando era criança
cortando a coxa com um
estilete enferrujado
sentido o sangue
grudar na bermuda.
Acreditando quando
diziam
que era louco
psicopata
e devia ir embora
de qualquer cidade
de qualquer maneira.
Sentia que precisava de uma bebida
para escapar daquilo tudo
sem escapatória.
A bebida que nunca me escapou
em nenhum momento.
Mordi o canto da bochecha
até sentir um pouco
de sangue
porque tudo que sangra e morre
e vive
tem alguma chance
e eu
precisava de alguma
chance
algum dia.
Sabia que não tinha
uma arma
guardada em
casa.
Mas sabia onde conseguir
e sempre se pode
dar um tiro
na cabeça e acabar com isso
tudo.

Não tenho
coragem
não tenho
nada.
Não sei o
que
dizer.

Ela estica a mão
e puxa meu cinzeiro
e nós conversamos.
Meu deus, eu nunca
acredito
quando isso acontece.
Nós conversamos.
E eu precisava me lembrar
quem eu era
e o que queria
de cinco
em cinco
minutos.
E ela era maluca
tanto quanto eu
deliberadamente me machucando
e eu me sentindo
bem
com aquilo
tudo.
Me sentindo bem
com a condição
que impus para
mim.
Ou que impuseram.

E o tempo
rolava para
debaixo do sofá
como poeira varrida.
E a gente ria,
é
a gente até ria
e ele segurava a minha perna
porque eu era engraçado
e original.
Porque eu não me importava.

Levantou e foi
caminhando ao banheiro.
E parecia tão certo
o jeito que ela andava
e quando ela pisava
era um ponto de
exclamação que se formava
das verdades que eu
nunca escutei.
Meu deus, eu tenho sorte!
Meu deus, talvez eu não tenha
tantos problemas assim
e possa permanecer
sentado
nessa cidade
cuidando da minha vida!
Meu deus, desculpa pelas minúsculas
mas as maiúsculas reservo
para quando
eu tenho certeza
reservo para
Ela.

E eu vejo Ela saindo
e Ela carrega pel0 braço
um homem
sem rosto e de nariz comprido
e acena
com a cabeça para mim
enquanto
passa pela porta
e o vento da rua
envolve ela
e ele
para outro lugar.

Eu não consigo deixar de
sorrir
aos deuses,
pensando que talvez
as maiúsculas
tivessem feito alguma diferença.
Pensando que
se pode perder
alguns sets,
talvez até um game.
Mas o que importa
é o match point.

E quando me dou conta disso,
me dou conta
que nunca joguei
ou entendi
tênis.
E que talvez
esse seja o meu
problema.

É, com certeza,
esse é o meu problema.