segunda-feira, 19 de julho de 2010

A música da noite é o som dos deuses

É madrugada.
Corre um vento gelado pela
cidade.
Estou parado na sacada
e sopro uma fumaça azul
e verde.
Algo dentro de mim
é feliz.
É, não sei se feliz
mas não tem nada
ruim aqui. Estranho.
Eu rio com os
deuses
que brindam
com a cerveja que corre pelo céu.
Escuto de longe alguma
música.
É jazz.
Meu Deus, é um
jazz maravilhoso.
Escuto o trompete
chorando e jorrando
sangue e suor.
O sax traz tudo
de bom que o mundo tem.
Enquanto os deuses tocam com
seus
trovões e cães latindo.
Eu assobio
e a fumaça
que sai da minha boca
dança como
bailarinas russas.
Imagino de onde
vem esse som.
Fecho os olhos.
E a algumas quadras
à direita
vejo uma mulher sentada.
Ela veste um
vestido
verde.
E lágrimas
vermelhas
escorrem pelas
suas bochechas.
Ela andou bebendo
e tem o coração partido.
A chuva continua caindo
e é um lindo solo de guitarra
batendo nos telhados de
brasilit.
Os deuses urram por
barulho.
E os pássaros noturnos
gritam em desespero.
Aquele vestido verde
está comigo
na sacada
agora
e ela não chora mais.
Ela sorri e abre os braços.
Os carros passam como arcordes
de violino
eles giram e se voltam para nós.
Um orquestra que se
forma nessa noite.
Um orquestra reservada
para quem
consegue escutar.
A gente dança um pouco.
E do seu pescoço
eu cheiro um
mar de flores desconhecidas
que são tão coloridas.
Eu mergulho como se fossem
uma piscina perfumada
e assim
nós nadamos juntos
sem precisar de roupas ou
qualquer pudor.
A minha sacada
é um lugar mágico,
eu penso.
Enquanto aquele vestido
se prepara para dormir.
Eu escuto o som
de um baixo melancólico
que se forma das gotas
que caem na piscina.
Tudo ganha calma de novo.
Os deuses acalmaram-se
querem um grito silencioso.
Querem o sabor da noite
que tem gosto de caramelo.
Eu sopro meu último suspiro
de fumaça verde
e grito para o céu.
Um vento gira ao redor
de mim
e me levanta até as nuvens
onde eu deito e espero
a sinfonia
da próxima noite.


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