segunda-feira, 12 de julho de 2010

Adeus, medo do espelho

Entrei no elevador.
Um espelho
olhou para
dentro de mim
então
abaixei os olhos
e dei as costas para ele.
Algumas pessoas me olhavam.
Sentia alguém me chamar
alguém que
não me tocava
mas podia sentir
uma mão puxando meu
rosto
para o espelho.
Não resisti
e encarei meu reflexo.
Um enjôo tomou
conta de mim.
Algo chutava minha
barriga de dentro
para fora.
A dor ficava mais
e mais forte.
Senti a pele cedendo.
E foi rasgando
desde minha garganta
até minha cintura.
E uma perna saiu de lá.

As pessoas gritavam
e alguém apertou o botão
de emergência.
Uma senhora ajoelhou-se
aos meu pés e chorava.
A mãe cobria os olhos
do filho,
enquanto um senhor de
terno olhava
para mim
em reprovação.

Depois outra perna saiu
de dentro do corte
e logo havia um
homem parado a minha
frente.
Lembrava-me dele
tentou me matar
algumas vezes.
Nós éramos iguais.
Mesmo olhos, boca
nariz, tamanho
tudo.
Era eu.
Nós nos encarávamos,
não gostávamos um do outro.
Mas ele sorriu
e tirou um pássaro
morto de dentro do bolso
e balançava aqui
perto do meu rosto.
"A vida é ver o pássaro morrer
em nossas mãos
sem poder fazer nada
e sorrir quando ele nasce de novo",
disse.
Segurou minha mão
e deixou o pássaro
comigo.
Agarrou meu rosto
e disse que me perdoava.
Passou os braços por
mim e me abraçou
cada vez
mais forte
e senti suas lágrimas correrem
pelo meu ombro.
Minha camiseta ficou
encharcada e não
segurei as lágrimas
dentro de mim.

Escutava as pessoas chorando e
gritando de horror.

Senti algo se mover na minha
mão
e quando abri os dedos
o pássaro voou sobre nós
e nós nos olhamos
novamente
e choramos juntos
pelo perdão
nosso perdão.
Nos abraçamos e
eu era um só
quando ele foi embora.
Encarava o espelho
e sorria.
Sem enjôo
sem ressentimento.

E enquanto o segurança
me arrastava para fora
do prédio
eu sorria com o peito
e braços
abertos.

Um comentário:

Kaue Catalfamo disse...

Bah cara cada dia mais eu curto ler-te.
Muito bom mesmo.