terça-feira, 23 de outubro de 2012

o pedestre e a esquina

parado em uma esquina
o carro em ponto morto
eu vejo um homem de terno
em um terreno baldio ao lado
lutando para agarrar um
quero-quero.
ele corre de um lado para o outro.
pula muito baixo, abre os braços
como se fosse alcançá-lo
e acaba caindo
deixando as calças cairem da cintura
um pouco.
logo ele está de pé
e corre para o outro lado do terreno
atrás, ainda, do quero-quero.
no meio do caminho
a calça tranca suas pernas como uma pedra,
ali, na metade do caminho,
e ele cai mais uma vez.

levanta-se, e sai caminhando devagar para a calçada
ele ri e tem um pouco de trabalho com o cinto.

então,
eu escuto as buzinas
milhares delas
milhares de buzinas atrás de mim
e olho para o carro ao meu lado,
que também continua parado.

um velho de óculos escuros
e bigode sorri para mim.
seu sorriso de 70 anos apenas
parece dizer
que loucura isso tudo.

nós deixamos o homem de terno atravessar
a rua
ignorando as buzinas
e as buzinas e as pessoas atrás das buzinas.
e antes de arrancar,
o velho abaixa o vidro e diz:
o único homem sensato que eu vi hoje.

eu concordo com a cabeça.
ele dobra à direita
e eu vou reto.
as buzinas param
as buzinas
bem longe
param

porque
às vezes
é tão estranho o que
une as
pessoas.

Nenhum comentário: