terça-feira, 26 de janeiro de 2010

E quando a faca encosta a garganta e quando tudo acaba é hora de desistir e voltar a sorrir.

Cara, ele começou, não sei o que fazer
eu preciso comer alguém
eu sou inadequado, um idiota.

Era um bar vazio e com muita luz
meus olhos ardiam
e uma nuvem de fumaça
cobria nossas cabeças.

Não acho ninguém, ele se lamentava,
faz quase um mês, e ninguém. Eu até me apaixono
quase toda noite
mas eu sou feio, cara, eu sou feio pra caralho.

Não, meu querido, tu não é tão feio assim, eu tentei,
quer dizer, a gente não é as pessoas mais
bonitas
do bar, e só tem cinco outros homens aqui,
mas a gente sabe falar
a gente fala de amor.

Não faltava cerveja na mesa
e eu ainda tinha uma carteira de cigarros
fechada.
A luz ficava cada vez mais forte
as pessoas mais bonitas
e nós mais feios, mas
isso
isso eu deixaria pra mim.

Foda-se, ele sorriu, foda-se
é melhor assim, a gente tem a cerveja!
Não esquece do cigarro, acrescentei.

A cadeira do canto da mesa saiu do lugar
sozinha,
mas tinha uma mão puxando o encosto.
Unhas vermelhas, que subiam
para um braço moreno
e chegavam num pescoço fino
que se iluminava
com um verde esmeralda
que descia dos olhos da mulher mais
bonita que se podia ver
em todo o bar.
E, naquele momento,
em todo o mundo.

Ela se sentou.
Virou para ele e
conversaram baixinho
enquanto eu tomava conta
da cerveja e do cigarro.

Em vinte minutos eles se levantaram
e se despediram.
Para a casa dela, eu acho.

Encarei meu copo, enchi mais um pouco
abri a outra carteira de Lucky Strike
e senti pena de mim mesmo.

Quando um homem chega no limite,
quando um homem não se aguenta mais
é que as coisas boas acontecem.
Ah, podia ter sido eu a começar a reclamar
ah, eu tinha tudo aquilo pra
dizer.
ah,
a cadeira se mexeu sozinha,
e no encosto da cadeira
tinha uma mão.
E a mão tinha unhas vermelhas.
E era um vestido verde
parado ali.

Ah, como é bom se odiar,
de vez em quando.

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