sábado, 22 de janeiro de 2011

Enquanto espero

Eu não me sinto
bem
a maior parte do tempo.
Me sinto inadequado
um idiota.
E me sinto
muito bem
assim.

Estou acostumado,
talvez.

Sempre odiei
a pretensão.
Lutei contra ela
nos outros
e as cicatrizes
grudaram em mim.

Me olho no espelho
talvez tenha algo
de bonito
lá dentro
e as cicatrizes não
me permitem ver.
Mesmo que eu
GRITE
do outro lado.

Eu fui
meu próprio pai abusivo
alcoólatra
idolatrando a repulsa
idolatrando minhas
cicatrizes.
Enquanto meu
pai nunca
disse "eu te amo"
em voz alta
mas nunca conseguiu
esconder
dos seus olhos.

Me sentindo uma
espécie
de Jesus
particular.
Sinto um prego
entrando no meu
pulso esquerdo
e sinto
minha mão direita
martelando.

Suicídio eu traduzo
em segurança.

Oremos
que não resta mais nada
oremos.

Pedaços da minha vida
caindo de mim.
Pendendo para fora
do carro
arrastado pelo
asfalto.

Acendo uma fogueira
para deixar a
escuridão
do meu quarto
mais atraente.
Tentando
acender
meu coração.

Eu sinto
o cano gelado
do 38.
colar no meu lábio
inferior.
Me sinto
muito bem assim.
Me sinto bem por ser agora
por não ter sido
por ela
ou por mim.
Me sinto bem quando
o ferro
bate no dente
me sinto bem
por vocês.

E quando eu crio
coragem
e posiciono
gentilmente
o dedo no gatilho,
ela sorri
enquanto tiro
suas roupas.
E joga a cabeça pro
lado
e ri.
E tudo é tão de verdade.
O sorriso
o barulho da sua
voz
da minha
a nossa.
E a minha cama
se torna um milagra
maravilhoso o suficiente
para fazer eu chorar.
Mas não choro.
É ridículo
um homem
chorando
de pau duro.

Ando me sentindo
muito bem
ultimamente.
Um homem muito
diferente
daquele homem
estranho
que começou a escrever
esse poema.

A arma cai no chão
e junto
vai meu coração.

2 comentários:

Sergio Kroeff Canarim disse...

E ai Raffa, por onde tu andas, meu velho! Deixei cair o 38 quando disparou e uma nova cicatriz veio a ser. Lembras do ser enquanto ser? Ou já esqueceste desta brincadeira? Manda notícias.
Abraço

Projeto Colírio disse...

mestre das excreções porto alegrenses!