sexta-feira, 25 de junho de 2010

O bom

Estilhaços de vidro
pelo chão.
Eu sou uma pessoa boa.
Sei que sou.
Pego um ônibus
qualquer.
Choro uma lágrima
qualquer e procuro
alguma coisa.
Sou bom. Eu
sei.
Tenho alguma coisa boa
em mim, que é
só minha.
A mão ainda sangra
um pouco.
Retiro alguns cacos
dela.
Sorrio com os olhos
cheios de água.
Molho minha boca
e falho em alcançar
minha alma.
Agora, bem, eu sei
estou sozinho.
Sensação estranha
e tão antiga.
Até que sou uma
pessoa boa.
Tenho, na mochila,
algumas camisetas,
blusões, cuecas, e
esqueci das meias.
Sou o que não
existe. Invisível,
gordo, rejeitado
uma lástima.
Eu queria ser
uma pessoa boa.
Tenho sentimentos,
sabe?
Sinto tanta dor,
tanto medo, ódio
e me apaixono todo dia.
Sou um filho
bastardo
que nasceu
legítimo.
Nossa, eu tenho
tanto medo.
Tenho medo, aqui,
nesse bar.
Medo do próximo gole
e de mim.

Me imagino feliz.
Escrevendo sentado
em algum banco na beira
do Thames.
Olho para o parlamento
sorrio junto a Lua
o frio é meu amigo.
Tenho algum dinheiro
no bolso. E alguém vai ler
isso que estou escrevendo.
Me vejo caminhando sob
o Sol da manhã em
Camden Town
pensando no que
vou escrever depois.
Sobre meus amores
que são tantos,
e tão bonitos.
Me vejo sozinho
em meu quarto
na Finchley Road
tomando um belo
vinho francês e fumando
cigarros espanhóis.
Um cosmopolita.

Então, vejo a solidão
e nos abraçamos
como velhos conhecidos.
Busco nas ruas de
Porto Alegre um consolo
qualquer.
Até me sinto bem
hoje.
Eu sou uma
pessoa boa.

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