terça-feira, 27 de abril de 2010

A boca

Outra vez
outra janela.
Eu fumo
olhando as árvores
balançarem com
o vento gelado.
Sinto frio,
um frio bom
quase
um abraço.
Olho para trás
e vejo um espelho
e nele
uma massa de carne
feia
cheia de coisas
que já passaram.
Eu pego meu cigarro
e assopro
a brasa.
E de lá
estrelas cadentes pulam para o céu.
E a Lua sorri
um pouco.
E eu sorrio para ela.
E minha vida vai
em chamas
voando por entre
as árvores.
Então
eu não consigo parar de rir
pensando em tudo aquilo
nas estrelas cadentes
no espelho
na massa feia de carne
na minha vida
nas árvores
e naquela janela
que é uma
janela
nova.

A porta se abre
e por ela
entra uma boca
uma boca enorme
que sorri
e me mata um pouco
que sorri
e me tem
que sorri
e me faz esquecer
aquele espelho e
aquela janela.

Toco o cigarro fora
e ele cria asas
e voa para o céu
explode como
fogos de artifício
como ano novo
como novidade.
E aquela boca
continua sorrindo
e a gente fica
olhando aqueles fogos
no céu.
E a gente sorri
e gargalha.
Então
a gente deita
e ela me engole
e eu durmo
confortável
dentro dela.
E aquela massa feia
não é tão
feia
assim.

Nenhum comentário: